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30/05/2021 às 20h59min - Atualizada em 30/05/2021 às 20h59min

O aumento da violência contra crianças e adolescentes acende o alerta

É importante destacar que o número pode ser bem maior tendo em vista as subnotificações com a limitação imposta pelo confinamento

Daniel Maia - Editor: Ronerson Pinheiro
Foto: Diga não à violência contra crianças e adolescentes - Reprodução: Observatório Terceiro Setor
Ao falarmos sobre violência doméstica, automaticamente associamos a agressão contra mulheres, porém, temos dentro desse contexto crianças e adolescentes. Outro tipo de violência bem recorrente, mas pouca explorada, passando despercebida diante das estatísticas. E o pior que muitas das vezes essa violência ocorre na própria casa. Local que deveria servir de proteção.

Com a pandemia e o isolamento social provocado pelo novo coronavírus, houve um aumento considerável nos registros de violência contra crianças e adolescentes, é o que aponta dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) divulgados pela GloboNews. Só no ano passado já em meio a pandemia da Covid-19, o Brasil registrou um patamar histórico de denúncias de violência contra crianças e adolescentes com 95.247 registros através do Disque 100. É importante destacar que o número pode ser bem maior tendo em vista as subnotificações com a limitação imposta pelo confinamento.

Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas – PUC e especialista em violência doméstica pela Universidade de São Paulo – USP, Fernanda Flaviana atua em um setor social da Arquidiocese de Belo Horizonte e explica quais fatores podem desencadear a violência. “Esse aumento pode ser, muitas vezes, gerado por fatores externos, como a falta de emprego, a questão do alcoolismo, e drogas que podem ter laços.”, diz.

Questionada sobre os sinais de que uma criança vítima de violência pode apresentar ela diz. “Cada violência apresenta sinais. Normalmente a criança que sofre agressão física, ela fala sobre a violência, porque para ela é cultural, é normal, apanhar, vem de geração. Então, normalmente, ela verbaliza. A violência psicológica não. A criança tende a ficar mais introspectiva, preocupada, com medo, com ansiedade.”, explica.  Fernanda ainda completa. “Toda violência gera um pouco de ansiedade e depressão na criança. Normalmente na violência sexual, a criança não fala, porque ela tem medo e de certa forma é ameaçada. Sofre também a psicológica. Se você contar, você vai ver, se você contar, eu mato a sua família.”, enaltece.

Ainda segundo Fernanda, é importante dar apoio, oferecer segurança para a criança vítima de qualquer tipo de violência e realizar a denúncia. “Desde que ela conte no tempo dela e da forma dela, não se pode ser omisso. A omissão é crime por lei. Tem várias formas de denunciar. Através do Conselho Tutelar, Centro de Referência de Assistência Social (CREAS), além do Disque 100.”, finaliza.

Para o advogado Cássio Fernandes Almeida, é notório a necessidade de isolamento domiciliar. Todavia, viver em confinamento também é sinônimo de risco. “Por um lado, crianças e adolescentes se protegem de um vírus infeccioso. Por outro, tornam-se seres vulneráveis ao vírus humano, o vírus criminoso, que provoca violência física, sexual e psicológica, normalmente praticada pelos próprios pais, avós, padrastos e pessoas do ambiente familiar. Cerca de 52% dos casos de exploração, violência ou abuso sexual entre crianças e adolescentes ocorrem dentro de casa e apenas 01 (um) em cada 10 (dez) casos é notificado às autoridades.”, explica.

Com o objetivo de conscientizar e se atentar as denúncias em casos de violência de modo geral a esse público, foi criada a Campanha Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, que é realizada no mês de junho. Ainda segundo Cassio Fernandes é fundamental campanhas desse tipo, além do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) que completou 30 anos. “A acertada campanha do maio laranja deixa clara a importância de denunciarmos a violência doméstica. Precisamos não só denunciar e proteger as crianças e os adolescentes de tais abusos, mas garantir uma plena assistência médica e psicológica. O impacto gerado pela violência doméstica nas crianças e adolescentes é um dos fatores que perpetuam esse crime, pois quando não ressignificado internamente, tende a reproduzir o mesmo comportamento.”, finaliza.

Já o advogado Leonardo dos Santos acredita que as visitas de assistentes sociais, se tornem essencial, além da ampliação de programas governamentais como a escola em tempo integral com acompanhamentos psicológicos, sobretudo por oferecerem um maior aparato na defesa dessas crianças.

Relembre casos que marcaram o país

Um caso recente e de grande repercussão como do menino Henry Borel, 4 anos, morto no dia 8 de março de 2021, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O principal acusado é o padrasto, o vereador Dr. Jairinho e sua namorada – mãe do garoto – a professora Monique Medeiros da Costa e Silva.

Rhuan Maycon, 9 anos, foi brutalmente assassinado pela mãe e sua companheira. O crime que chocou o país, aconteceu na madrugada do dia 31 de maio de 2019, na região administrativa de Samambaia, no Distrito Federal.

Bernardo Boldrini, 11 anos, teve sua morte planejada pelo próprio pai, o médico cirurgião, Leonardo Boldrini, e contou com ajuda da madrasta do garoto, Graciele Ugoline – enfermeira – e sua amiga Edelvânia Wirganowicz – na época assistente social. O garoto foi morto no dia 4 de abril de 2014, na cidade de Três Passos, no Rio Grande do Sul.

E quem não se lembra do caso Isabella Nardoni? A pequena garota de 5 anos, foi assassinada também pelo próprio pai – Alexandre Nardoni e a também madrasta da criança Ana Carolina Jatobá. Isabella de Oliveira Nardoni, foi morta na noite do dia 29 de março de 2008, ao ser jogada do sexto andar do Edifício London, no distrito da Vila Guilherme, Zona Norte de São Paulo.


Editora-chefe: Lavínia Carvalho

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