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11/06/2021 às 11h17min - Atualizada em 11/06/2021 às 10h59min

Pilares centrais da personalidade

Introversão vista sobre perspectiva cultural

Isabelle Gesualdo - Editado por Andrieli Torres
Fonte/Reprodução: Ferreira's Assessoria

“Ao passo que no homem normal o contacto com outrem é um estímulo para a expressão e para o dito, em mim esse contacto é um contraestímulo, se é que esta palavra composta é viável perante a linguagem”. O fragmento do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa - ou, melhor dito, de seu heterônimo Bernardo Soares, revela como um indivíduo introvertido se sente na maior parte do tempo. 

 

Com seu estilo aprazível e multifacetado de escrever, Pessoa não errou ao usar o termo “contraestímulo”, porque, na verdade, o introvertido recarrega as energias ficando sozinho, é atraído pela introspecção - que muitas vezes é confundida com tristeza. Enquanto o “homem normal”, que seria o extrovertido, precisa sempre interagir com outras pessoas, as energias são recarregadas durante a interação.

 

De acordo com Carl Jung, os introvertidos são atraídos pelo mundo interior do pensamento e do sentimento, extrovertidos pela vida externa de pessoas e atividades. Introvertidos focam no significado que tiram dos eventos ao seu redor; extrovertidos mergulham nos próprios acontecimentos.

 

O mal entendido que permeia os diálogos acerca das personalidades, é o que os introvertidos são antissociais, enquanto os extrovertidos são pró-sociais, mas, na verdade, eles são sociais de formas diferentes. O extrovertido possivelmente não passa despercebido nas festas, são seres simpáticos, enérgicos, conversadores. Mas isto, contudo, não faz com que o introvertido seja antissocial. 

 

O grande contraponto é que pessoas que têm elevado grau de introversão costumam ser sociáveis com um pequeno e seleto grupo de pessoas, e quando interagem fazem profundas conexões. Os introvertidos ficam atrás dos holofotes. O psicólogo David Buss afirma que a tendência é que os introvertidos sejam pessoas que preferem “conversas sinceras e significativas a festanças”. 

 

Também é errôneo pensar que a introversão está para a timidez assim como o peixe está para a água. Há uma linha tênue entre ser tímido e ser introvertido. A pessoa tímida tem medo de se relacionar, sobretudo pelo medo do julgamento; acaba ficando nervosa, ansiosa. Os introvertidos preferem ambientes menos agitados, simplesmente por se sentirem melhor assim. Não é que o introvertido tenha dificuldade em ter contatos sociais, ele pode, sim, socializar. Contudo, o excesso de contato social acaba o sobrecarregando.

 

No livro “O poder dos quietos”, Susan Cain descreve a maneira como a sociedade americana do século XX cultuava o Ideal da Extroversão. Em Harvard, por exemplo, havia um critério para que o candidato fosse selecionado: “o departamento de admissão das universidades procurava não apenas os candidatos mais excepcionais, mas também os mais extrovertidos”. A universidade, nos anos 1940, rejeitava - claramente - o tipo introvertido. 

 

No entanto, era possível ser introvertido e aluno em Harvard, simultaneamente, a partir do momento em que a “teoria do traço livre” entrasse em vigor. Esta teoria explica que é possível que um introvertido se comporte de maneira extrovertida para conquistar um bem essencial, ou algo muito almejado. Seria uma espécie de “extroversão fingida” em prol de um trabalho, pessoas amadas, ou qualquer coisa que tenha um altíssimo valor pessoal.

 

Para além do contexto de segregação em Harvard e nas demais universidades americanas, Susan Cain também destaca que os pais americanos do século XX acreditavam que as crianças jamais poderiam ser quietas, e sim sociáveis; em virtude disto, privavam os filhos de hobbies solitários, como a música clássica, que poderia deixá-los solitarios. Crianças introvertidas eram tachadas como problemáticas - algo não muito distante do que ocorre na contemporaneidade.

 

É comum ver pessoas extrovertidas ocupando cargos de liderança em domínios públicos. Os introvertidos, por outro lado, geralmente alcançam liderança nos campos teóricos e estéticos. A maioria das pessoas introvertidas têm alta sensibilidade, o que corrobora para se destacarem no meio artístico, por exemplo. 

 

Alguns famigerados nomes do campo artístico e de outras invenções são introvertidos, enfatizando que os “quietos” não estão restritos à sua mesa de escrivaninha. Nomes como: Bill Gates, Van Gogh, Albert Einstein, Gandhi, Charles Darwin. 

 

“Da próxima vez que vir uma pessoa com o rosto plácido e uma voz suave, lembre-se de que em sua mente ela pode estar resolvendo uma equação, compondo um soneto, criando o design de um chapéu. Ou seja, ela pode estar empregando os poderes da quietude", aconselha Susan.  

 

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