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14/06/2021 às 18h10min - Atualizada em 14/06/2021 às 17h54min

Mesmo com os avanços, a falta de representatividade negra na indústria da moda ainda é presente

A impossibilidade de ascensão profissional no setor da moda é notória e a ausência dessas pessoas em posições de destaque é contraditória se comparada ao número de afrodescendentes presentes na sociedade

Gabriella Lima - Editado por Yuri Anderson
Foto: Bestbe Models/Pexels

A representação preta no mercado da moda ainda é baixa se comparada a grande diversidade de pessoas presentes na sociedade brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,10% se identificam pretos e pardos. O fator principal para esta exclusão é o racismo, que aparece na maioria das vezes de forma escancarada. Um setor que deveria abraçar as diversidades, andar junto com as diferenças, ainda fecha as portas das oportunidades para aqueles ainda são invisíveis pela sociedade: os negros.

A falta de visibilidade para os pretos, não se dá pela falta de profissionais qualificados, mas sim, pela cultura racista presente na sociedade. Ser profissional nesse mercado é lidar com a ideia de que pessoas pretas não vendem, ou que sua beleza não tem valor. Mas, a curiosidade disso é que a comunidade negra consome muito. Prova disso, é que Instituto Locomotiva fez uma pesquisa que revelou que a população negra movimenta cerca de 1,7 trilhões de reais por ano. Mas apesar disso, a pesquisa nos mostra que só 10% são representados.

Em entrevista para a Lab Dicas de Jornalismo, a modelo fotográfica, Suellem Rodrigues, 24 anos, fala como foi começar nessa indústria. "Quando iniciei na área da moda tive muita dificuldade para conseguir muitos trabalhos e até hoje é assim. No início de tudo “ser preto” estava na moda, hoje eles padronizaram até isso, conta. "Já ouvi inúmeras vezes; “o seu rosto não vende”, essa é a maior dificuldade para nós pretos(as). O nosso público tem crescido, nós consumimos mais, compramos mais, e mesmo assim somos desvalorizados”, completa.



Sabe-se que a cantora Beyoncé tem grande relevância no mundo da música, mas ela também acrescenta no universo da moda. A sua visão empoderada, inspiram muitas pessoas, principalmente os negros. Em 2020, ‘Queen B’ produziu um álbum visual em parceria com a Disney+, “Black Is King”, lançamento para o remake do filme “O Rei Leão” em 2019. Toda a produção foi voltada para valorização negra, na música, na beleza, na dança e na moda, mostrando a relevância que mulheres e homens pretos têm em cada setor da sociedade.

Trabalhos como estes geram resultados que causam impactos positivos na indústria. Colocando em destaque aqueles que sempre são escondidos ou deixados de lado.
“Representatividade tem quebrado barreiras importadas por anos pela sociedade mais afortunadas. Meu coração fica quentinho quando vejo uma preta(o) em lugar de destaque. Houve uma melhora bem significativa, mas temos que lutar muito ainda para termos mais espaço e igualdade, é só isso que queremos”, completa a modelo Suellem Rodrigues.

O fundador da agência 40 Graus Models, Sérgio Mattos, contou que o mercado da moda de forma geral está tendo outra visão e tem buscado a inserção de mais profissionais negros.
“No passado isto era comum, geralmente de todo o casting tinha no máximo um modelo negro, mas isto é coisa do passado. Hoje a diversidade é evidente nos desfiles e na publicidade. Os pedidos para modelos negros, assim como modelos trans e puls size aumentaram consideravelmente”. Tanto na moda quanto na publicidade, como Boticário, Natura, Coca cola e grandes marcas e capas de revistas estão usando os modelos negros. O sucesso já é internacional, podemos ver mais modelos negros nos desfiles das grandes marcas internacionais como Prada, Dior etc”, completa Sérgio Mattos.



Para o empresário é diferente. Sérgio conta que têm dado espaço a mulheres e homens pretos nas seleções para sua agência. “Eu sempre apostei na beleza brasileira. Sempre tive ótimas modelos negras, desde a agência elite nos anos 80 e 90, mas nos últimos 5 anos a procura aumentou”, explica.

Mas porque a representatividade preta é tão importante? Representação é olhar para o que nos cerca e perceber que aquela persona, aquela figura te representa, que de alguma forma um indivíduo se identifica. A representatividade é a inclusão de diversidades. Um exemplo é a referência que a modelo Suellem se ver representada pela influencer e ex bbb Camila de Luca que, tinha um sonho de ser modelo, mas por ouvirem que beleza negra não vende, desistiu.

"Como pessoa e como profissional eu tenho como referência a Camila, acompanho ela desde o início da carreira de blog e, ela sempre relatava a sua vontade de ser modelo e, vendo hoje que o sonho dela tá se concretizando, me inspira a correr mais ainda atrás dos meus objetivos”, relata. A modelo baiana Bruna Santos também cita algumas figuras importantes que ela tem como inspiração. “Admiro muito Elen Santiago, Anne Barreto, Camila Simões, Natasha Soares. E dentre tantas referências, me identifico com a Ana Flávia”, conta.



A partir de relatos como estes é possível entender a importância da representatividade negra na indústria da moda. Histórias como estas, promovem uma movimentação positiva em prol da representatividade e igualdade. O que se esperar é pessoas como a Suellem, Bruna e tantas outras que conseguem se sentir representadas a partir de profissionais negros que estão em destaque. Que não seja algo raro, mas que cada vez mais seja possível a representatividade de pessoas negras no mundo da moda, que construir um futuro que seja algo diferente, onde caibam todos nós.

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