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16/06/2021 às 13h54min - Atualizada em 14/06/2021 às 20h45min

Em meio à pandemia, 17 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência no Brasil, aponta pesquisa

Os dados foram revelados em uma pesquisa do FBSP. Também foi constatado que a violência dentro de casa foi a mais recorrente nesse período

Meire Santos - Editado por Marceli Maria
Em meio à pandemia da Covid-19 no Brasil, 17 milhões de mulheres foram vítimas de algum tipo de violência e oito delas foram agredidas fisicamente a cada minuto. Os dados foram revelados em uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e correspondem aos últimos 12 meses. 

A pesquisa foi realizada em 130 municípios do país, entre os dias 10 e 14 de maio deste ano e ouviu 2.079 mulheres acima de 16 anos. Ao todo, 24,4% delas relataram terem sofrido algum tipo de violência. Esse número é ligeiramente menor do que o de 2019 (27,4%), último ano da pesquisa, mas eles ainda permanecem tecnicamente empatados, pois a margem de erros é de três pontos percentuais.

Entre as principais formas de violência sofrida, 18,6% foram ofensas verbais, 8,5% tapas, chutes ou empurrões, 5,4% ofensa sexual ou tentativa de abuso, 3,1% ameaças com faca ou arma de fogo e 2,4% espancamento.

INFLUÊNCIA DA PANDEMIA

Em um ano pandêmico, onde muitas pessoas precisaram ficar em casa, a residência das vítimas foi apontada como o lugar com maior índice de violência (48,8%). As ruas aparecem em segundo lugar (19,9%) e o trabalho em terceiro (9,4%). 

A perda de emprego e renda foram relatadas como os fatores que mais influenciaram na violência (25,1%). O isolamento e a maior convivência com o agressor aparecem em segundo lugar (21,8%), seguidos pela dificuldade de ir até uma delegacia (9,2%) e dificuldade em encontrar pessoas que pudessem auxiliar a vítima (6,9%).

A psicóloga Patrícia Souza explica que casos em que a vítima depende financeiramente do seu agressor dificultam a saída da mulher da relação, pois ela fica presa ao medo de não conseguir um emprego e acabar passando dificuldades. A independência financeira, nesses casos, é fundamental para que a mulher consiga deixar o agressor.

 
“Primeiramente, a mulher precisa buscar sua independência financeira, fazer coisas para não depender financeiramente do agressor, mesmo que seja trabalhando fora da sua área de formação ou atuação. Depois disso, o segundo passo é sair da relação", afirma a psicóloga.
 

PERFIL DAS VÍTIMAS

Para definir o perfil das vítimas de violência, a pesquisa as separou em três categorias: estado civil, cor e idade.  Na violência por estado civil, as mulheres separadas/divorciadas aparecem como as principais vítimas (35%), seguidas pelas solteiras (30,7%), viúvas (17,1%) e casadas (16,8%).

Quanto a cor da vítima, as mulheres pretas lideram a categoria (28,3%), em seguida, aparecem as pardas (24,6%) e as brancas (23,5%).

Na violência por idade, as mulheres jovens foram as mais atingidas, 35,2% das vítimas tinham entre 16 e 24 anos, 28,6% entre 25 e 34, 24,4% entre 35 e 44, 19,8% entre 45 e 59 e 14,1% tinham mais de 60 anos.

Entre as atitudes tomadas pelas vítimas após a agressão, 44,9% alegaram não terem feito nada, 21,6% procuraram ajuda da família, 12,8% buscaram por ajuda de amigos, 11,8% prestaram denúncia em delegacias da mulher e 7% acionaram a polícia militar. Das mulheres que não fizeram nada, 32,8% alegaram que poderiam resolver o conflito sozinhas, 15,3% não quiseram envolver polícia e 13,4% alegaram ter medo do agressor.

Souza conta que o medo das ameaças recebidas e a dependência emocional que a vítima desenvolve são fatores que contribuem para que a mulher permaneça na relação. A psicóloga explica que o agressor costuma ter uma personalidade muito instável, ele agride, depois finge um arrependimento, vai apresentando uma melhora no comportamento e depois agride novamente, e isso acaba se tornando um ciclo vicioso, onde a vítima se vê cada vez mais envolvida e dependente do seu agressor.

QUEM SÃO OS AGRESSORES?

A maior parte dos agressores relatados pelas vítimas são cônjuges, companheiros e namorados (25,4%). Em seguida, aparecem os ex-cônjuges, ex-companheiros e ex-namorados (18,1%). Depois, vieram pai e mãe (11,2%) e irmãos (6,1%). Os filhos também ganharam um destaque maior (4,4%), eles aparecem, sobretudo, na violência contra mulheres com mais de 50 anos

Nos casos em que a violência parte de pessoas próximas à vítima, Patrícia Souza comenta que é importante se atentar aos sinais que o agressor vai apresentando ao longo da relação, como manipulações, descontrole emocional, desequilíbrio e agressividade verbal.
“Os sinais se iniciam muito cedo, no início do namoro ou casamento, porque, na maioria dos casos, a pessoa não fica agressiva do nada, ela vai dando sinais de impulsividade, de descontrole emocional, de manipulação emocional, agressões verbais. A agressão física é muito dolorida, mas antes dela acontecer, já vem acontecendo as agressões verbais”, disse.
COMO AJUDAR?

Quando a agressão ocorre dentro de um relacionamento, seja amoroso, familiar ou de amizade, a ajuda de terceiros é fundamental para que a mulher saia da relação e supere os traumas deixados por ela. Souza conta que é muito importante que as pessoas de fora entendam e compreendam a situação pela qual a vítima está passando, dessa forma, poderá ajudá-la. Em casos em que a mulher esconde a agressão, a ajuda se torna um pouco mais difícil, mas é importante ficar atento ao comportamento que a vítima apresenta.

 
“Geralmente, mesmo as mulheres que escondem que estão sendo agredidas, o comportamento muda, as vezes a mulher se afasta de alguns familiares, de algumas amizades, porque o agressor impede, proíbe, faz ameaças, entre outras coisas que deixam a pessoa muito retraída e acaba resultando nesse afastamento. Algumas mulheres tentam esconder devido ao medo do julgamento e a vergonha, outras até conseguem falar, explicar o que está acontecendo, mas não aceitam ajuda, o que torna a situação mais complicada. A única coisa que eu falo é que para ajudar essas mulheres são necessárias três coisas: entendimento, empatia e acolhimento.”

A psicóloga também explica que é importante que, após esses eventos de agressão, a mulher busque ajuda psicológica para curar as feridas e os traumas que esses episódios deixam.

A justiça brasileira oferece alguns canais de denúncia para a mulher vítima de violência, são eles:

- Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180: recebe denúncias que violência contra mulher e orienta as vítimas sobre como agir nessas situações. A rede também recebe denúncias pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

- O Disque 100: recebe denúncias de violação dos direitos humanos e de violência contra a mulher. Eles também possuem um canal no Telegram - “Direitoshumanosbrasilbot”.
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