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25/06/2021 às 10h32min - Atualizada em 25/06/2021 às 09h49min

Ginny e a pressão social da adolescência

Poema escrito pela personagem Ginny da série "Ginny & Georgia" é um reflexo da pressão social sob os jovens

Hellen Almeida - Edição: Brenda Freire
Foto: Capa da série Ginny e Georgia/ Reprodução: Fala! Universidades.

Poesia: meio de arte, expressão e crítica social usada por muitos, inclusive jovens adolescentes. Podemos perceber isso ao assistir a série “Ginny & Georgia”, produção original da Netflix onde em determinado momento Ginny usufrui de uma redação escolar para dizer o que rodeia sua mente.

Sua redação se tornou uma poesia, e com ela Ginny se questiona sobre a pressão social que um adolescente vive ao ter que definir todo o seu futuro com 18 anos, e também como se sente obrigada a se enquadrar em algo que não necessariamente é para ser aceita socialmente.

Pensando nisso, esta matéria irá usufruir de trechos de sua poesia para levantar questionamentos sociais, além de contar com a opinião da jovem e futura jornalista Karina Santos.

Ser fiel a si mesma, ou ser aceita socialmente?

Em determinado ponto de sua poesia, Ginny desabafa sobre como é exaustante ter que camuflar traços de sua personalidade para ser aceita socialmente:
 

“Qual parte de mim vai viver hoje?
Qual aspecto da minha personalidade vai ofender pouco ao 
se camuflar muito e trabalhar para vencer
Ao tentar se esconder 
Como se um painel de traços ditasse meu futuro 
E eu fosse para sempre uma impostora?”

A adolescência, uma fase da vida repleta de inseguranças e questionamentos sobre tudo, onde o mais desejável é ser aceito, fazer parte de algo, mesmo que isso não tenha haver com você.

Karina disse que na sua fase escolar se sentia pressionada e julgada por não ser necessariamente aquilo o que se espera de uma adolescente: 

Eu sou cristã e na época de escola as pessoas geralmente te veem como fora da caixinha ou algo do tipo por não ser como elas, não ter as mesmas práticas que um adolescente teria. Então, nessa época, onde meu convívio social era apenas escolar, eu senti muita pressão.”, afirma a jovem.

 

Qual caminho seguir?

Ser aceito socialmente, ou julgado por ser fiel a si mesmo não é a única pressão desta fase da vida. A necessidade de com pouca idade ter que definir qual rumo sua vida irá seguir para sempre é esmagadora, e Ginny também fala sobre isso em seu poema:

“Sempre perdida
Sempre pedindo uma direção
E as pessoas me apontam o caminho como espantalho
Como tornados me direcionando para chegar ao melhor atalho
 
Bom, a Doroty não quer mais sair para brincar
Ela ta estudando para o vestibular
Só o gabarito”

Por quanto tempo será assim? Por qual razão a sociedade se sente no direito de dizer o que é melhor para o futuro de alguém que ainda está tentando se descobrir quanto pessoa, e dão a impressão que é um rumo que nunca poderá ser mudado: é tudo ou nada. Isso não seria cruel?

Tudo isso assustou até mesmo nossa graduanda, que mesmo já sabendo o que buscava para sua vida, especialmente por ter passado por isso em uma época de pandemia mundial onde, se o futuro do planeta é incerto, por qual razão o seu não deveria ser?

Sempre fui muito decidida em minhas ambições e no que quero para a minha vida, mas de fato, a época do vestibular é aterrorizante na mente de um estudante, ainda mais em tempos de pandemia. É estranho ver tudo isso acontecendo no mundo e você ter que decidir um futuro, lidar com isso foi algo extremamente difícil" , diz a graduanda.

Qual “caixa” eu sou?

No decorrer da escrita, nossa protagonista aborda as “caixas” onde a sociedade tenta encaixá-la e afirma que apesar de a sua não ser a que importa para a sociedade, é a que forma sua personalidade.

“A minha identidade inteira cabe em uma caixa, sem encher

Porque onde tem raízes, tem poder

Mas eu sou solo superficial
 

O sangue que corre na minha veia é desigual e não se mistura

Os livros do meu pai

Lidos nos cantos que ninguém vai

A câmera que guarda todas as minhas lembranças num flash

Congelando o tempo que não rejuvenesce

O isqueiro

Que veio primeiro
 

Tudo cabe numa caixa

Pronta para ser levada de porta em porta

Mas esse não é o tipo de caixa que as pessoas mais se importam”

Afinal: qual é a “caixa” que mais agrada a sociedade? Ser o aluno exemplar que com certeza terá um futuro brilhante? Como uma coisa se relaciona a outra e o que ingressar em uma faculdade tem haver com seu futuro ser brilhante?

Acerca disso, Karina afirma que esse sistema de “caixas” pode ser sufocante, e ter alguém dizendo a qual você pertence é estressante:

“Há um grande número de rótulos que foram colocados em nós e são colocados o tempo todo, você não pode ser o meio termo na visão da sociedade [...] Algumas pessoas querem que você seja aquilo que elas não conseguiram ser e quando você não é, isso é frustrante para elas” declara.

 

O que há em minha caixa?

Por quanto tempo os jovens irão se contentar em ser o que os demais desejam ao invés do que realmente são? Por qual razão entrar em uma caixa na qual não se adequa, se podem criar suas próprias caixas?

Nossa entrevistada sabe bem o que há em sua caixa e afirma que os elementos que a compõem podem mudar, pois mudamos constantemente:

“Acredito que nessa caixa teria de tudo: um incenso por eu ser uma pessoa calma, maquiagem pois amo a arte, livros porque viajo para outros mundos dentro dele, roupas de dança por ser uma arte onde me conecto comigo mesma, uma bíblia para me conectar com Deus, um celular por ser meu local de trabalho. E por aí vai, a minha caixinha provavelmente seria uma das mais diversas, visto que não sou a mesma pessoa todos os dias, mudo constantemente, tanto meus gostos quanto minha personalidade mesmo. As pessoas são assim, a vida é assim. Ninguém nunca é o mesmo para sempre.", conta.








E você leitor: a qual caixa pertence?

Está confortável nela ou farto e pensa em criar sua própria? O poema de Ginny é finalizado da seguinte forma:

“São tantas linhas no chão

São tantos "sins" e “nãos”

Eu vejo os dois mundos com clareza
[...]

Meu lugar não é lá nem aqui

Quantas caixas escolhi?”
 

E você, quantas e quais caixas irá escolher?




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