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25/06/2021 às 15h29min - Atualizada em 25/06/2021 às 14h56min

Você tem um gênero literário favorito?

Leitores de diversas faixas etárias expõem seus gostos literários

Fernando Azevêdo - Editado por Talyta Brito
Reprodução: Pixabay

As noites de balada em Las Vegas. O hotel mais sofisticado em Dubai. A Grécia Antiga e todos os deuses mitológicos. Uma terra com bruxas, unicórnios e fadas. Ou o futuro, com casas que voam. No Oriente, as belas artes marciais e a tecnologia de ponta. Em um mês, você pode viajar por todo o mundo, voltar no tempo e dar uma espiada no futuro. Delírio? Não mesmo! Tudo que você precisa fazer é embarcar na nave chamada "Leitura".

 

A prática da leitura possibilita um mundo de experiências, aprendizados, reflexões e emoções variadas aos leitores. Cada gênero da literatura preserva características próprias e é capaz de despertar em quem o lê sentimentos diversos. Você lê uma crônica para observar um fato do cotidiano e tecer alguma reflexão a partir dela, de outra forma você folheia um denso livro de terror e é levado a sentir pânico pelos personagens, por exemplo.

 

"Matilda", personagem da ficção consagrada no filme que leva seu nome, é um exemplo bem elaborado de como os livros podem ajudar as pessoas a sair de uma realidade nem sempre ideal e mergulhar em um outro universo. Ainda que o mundo lá fora queira impor limites à sua imaginação. Ler é transportar-se, pular em um buraco desconhecido no espaço das palavras e sentidos.

 

Nesse sentido, cada leitor pode ter um universo literário favorito, com características e estruturas próprias. Em outras palavras, cada um deles pode ter um gênero da literatura favorito. Conversamos com vários perfis de leitores para conhecer melhor quais os seus gostos. 
 

Não ficção e o Jornalismo como Literatura

 

Às vezes, o leitor quer dar um descanso nas viagens pelo universo fictício. Aí é a vez de o gênero não ficção fazer parte dos seus dias. Uma literatura que lida com os fatos, que os trabalha e apresenta. A realidade nem sempre é leve, e isso infere que muitos sentidos estão presentes nesses textos, desde os mais duros até os mais emocionantes. Dentro do gênero, você ainda tem várias opções, como biografias, livros históricos e jornalísticos.

 

Livros jornalísticos nascem, em grande parte, das grandes reportagens, a exemplo dos relatos de vida, que têm o poder de unir a informação jornalística com a literatura. Um belo casamento, que deixa os textos mais livres e consegue comover o leitor. Talyta Brito, 22 anos, estuda Jornalismo e vê os textos de não ficção como importantes para a discussão de problemas da sociedade. "As leituras me proporcionam reflexões sobre os mais variados temas", diz. 

 

Ainda no contexto do Jornalismo, Thayene Freitas, 30 anos, jornalista e turismóloga, prefere livros que agreguem à sua formação: "Ler livros da nossa área de formação é bem importante, pois a gente conhece e aprende mais coisas a respeito de nossa área". É esse aprendizado sobre a área que atrai ela ao gênero jornalístico.

 


Ficção: a criatividade é item obrigatório 

 

Antagônico da não-ficção, esse gênero dá impulso à imaginação. Você pode optar por ele para "viver" uma realidade imaginária. João diz que experimenta "uma sensação de estar fora da realidade, de forma a estar imerso no livro", quando lê livros do gênero. Os elementos da ficção são importantes e muitas vezes são eles que garantem uma boa leitura. Neles, tem de haver criatividade, detalhamento e profundidade. Você pode gostar do cenário, dos personagens ou mesmo da forma que as descrições são feitas. Ademais, João afirma que a falta de detalhamento e descrição de ações em alguns livros pode gerar a perda de interesse do leitor, mesmo que a história seja boa.

Ficção científica 

Se você curte tecnologia e ciência, este pode ser o seu queridinho. Apesar da palavra "ficção", todas as teorias e proposições encontradas no gênero tentam aplicar o método científico. As histórias não correspondem ao real, mas tudo tem certa base científica. O gênero é popular ao fazer reflexões sobre os impactos dos avanços científicos na sociedade.

 

A estudante de 19 anos, que não quis se identificar, fala que a escrita do gênero é mais rebuscada do que de outros que ela tem contato, mas que nem por isso deixa se ser interessante. Ela acrescenta que é seu gênero favorito, "pois me faz ter contato com outras 'realidades', com o novo e o velho, com o irreal e com o real, apresentando sempre universos cheios de singularidade fantásticas".

A discente gosta de vários elementos do gênero: "As descrições e construções dos universos contidos nesse gênero, assim como os personagens e as críticas ao nosso mundo, escritas de maneira metafórica". No entanto, ela observa como dificuldade que os novos livros têm pouca diversidade - a escrita deles é bem semelhante. 


Épico e aventura


Quando você se depara com grandes ações, como as sagas heróicas, há chances de você estar diante de uma narrativa épica. Há quem considere os registros de atividades grandiosas do passado os primeiros textos literários da humanidade, como os escritos do grego Homero. O gênero atrai Camila Lustosa, 23 anos, estudante de Jornalismo, pelos "enredos fantásticos que me prendem nesses mundos mágicos".  

 

"Desde pequena, leio muito [os textos épicos], por exemplo, Harry Potter, Instrumentos Mortais, A Rainha Vermelha e A Pirâmide Vermelha, de Rick Riordan", fala Camila.

 

Se a palavra para você é "perigo", o gênero aventura pode te interessar. O estudante de Jornalismo Leandro Juvino, 19 anos, tem essa atração: "É muito fácil e prático de se ler", afirma. A simplicidade do texto e a fluidez da leitura o conquistaram. Além disso, ele declara que "a possibilidade de se mesclar com outro gênero literário é muito grande. É comum aventura e fantasia andarem de mãos dadas. E a expectativa em torno da aventura da trama me instiga".

 

Nunca saem de moda

 

Há aqueles que nunca saem das prateleiras, nunca saem de moda; no máximo, repaginam-se. Os livros clássicos são consolidados e sua permanência e preservação na memória e no hábito de leitura pode ser indicativo de quão bons eles são.

 

"Adoro a ideia de ler escritoras e escritores tão influentes na literatura a ponto de terem seus nomes lembrados por várias gerações. O sentimento de ler uma boa história, bem escrita, contada por diferentes décadas é maravilhoso", Louise, 18 anos, estudante de Jornalismo, traduz sua experiência com os clássicos.

 

Autores como Jorge Amado, Clarice Lispector, Victor Hugo e Jane Austen - alguns dos citados por Louise - têm seus nomes gravados na história, pelo valor literário de suas obras, mantido através do tempo. A estudante destaca a importância das obras clássicas para a formação da sociedade como um fator atrativo.

 

Literatura fantástica

 

A narrativa ficcional que envolve o gênero é uma das mais ricas. Os textos podem ou não ter algum referencial na vida real. Uma dos maiores possibilidades da literatura fantástica é que "faz viajar a lugares fantásticos e imaginar experiências e feitos maravilhosos", como a estudante de Jornalismo de 19 anos, que prefere não se identificar, relata. Ela diz que a experiência é "cheia de magia", dentro de um extenso universo da fantasia.

 

"Ler fantasia é poder dar asas à sua imaginação e criar tudo do jeitinho que você imagina, é poder viver situações que não existem em nosso mundo real, mas que seriam incríveis se existissem (algumas nem tanto, mas ainda vale a experiência haha)", declara Laura Medeiros, 19 anos, estudante.

 

"O que mais me atrai é a possibilidade de criar os mais diversos cenários em minha cabeça, é uma fuga da realidade que me ocorre desde quando eu era criança. Sempre gostei que minha mãe lesse historinhas de fantasia quando eu era criança, porque era incrível pensar em todas essas coisas fora da realidade e no quão legal seria se elas existissem (...). Cada universo é único e é muito legal conseguir "viver" nele por um tempinho, é como se você estivesse viajando sem sair de casa", complementa a estudante Laura.

 

Literatura distópica

 

A literatura distópica costuma apresentar uma visão pessimista da sociedade, com exagero e força como poucas outras. Esse pessimismo é fundamentado em uma preocupação com questões do presente, sendo que a literatura cria cenários de retrocesso, em tom crítico. E é isso que tanto atrai leitores.

 

O estudante José Antônio Caetano dos Santos Neto, 20, gosta do exagero nas histórias. Para ele, a distopia desperta reflexões sobre o comportamento humano, bem como "uma sensação de desconforto, pois muitas vezes a realidade retratada na história é muito semelhante aos hábitos do nosso cotidiano, por mais que haja um exagero".

  

Mayra Ribeiro, 19, estudante de Jornalismo, também lê distopias, e o que mais a atrai são as críticas sociais e os "personagens fortes com passados tensos". Ela diz que os cenários podem se repetir e critica que alguns livros deixam de ter um universo bem elaborado para ter apenas um romance bem desenvolvido.

 

"É uma experiência muito louca. Você espera ver um mundo em ruínas, mas anseia para saber como o protagonista vai lidar com isso. Sempre espero críticas sociais, plot twists e essas coisas. A adrenalina sentida e as reflexões dentro das histórias são as melhores partes", diz Mayra Ribeiro.

 

"Mangás existem para todos os gostos"

 

As histórias em quadrinhos japonesas têm muitos fãs no Brasil, como é o caso de Antônio Hari, 20 anos, técnico em Manutenção e estudante de Programação. Ele acha muito agradável ler mangás e diz que as experiências de leitura são diversas: "Mangás existem para todos os gostos e para qualquer um". O estudante exemplifica que há mangás mais quentes - Hentai - e mangás com histórias LGBTQIA+.

 

As artes são o que mais atraem Hari ao mangá. Ele diz que uma dificuldade inicial, quando não se está acostumado a ler mangá, é a forma de ler. "No Oriente, as páginas são 'invertidas', lemos da direita para a esquerda os mangás, e não da esquerda para a direita, o que pode causar uma pequena confusão", afirma.

 

Suspense, mistério e terror

 

Você começa um livro e não sabe o que esperar, fica mais na expectativa para o desenrolar ou mais para o final da história. Ou você começa e sabe que esse universo literário tem as situações mais horripilantes que o autor conseguiu escrever. São sensações bem específicas que o suspense, o mistério e o terror podem gerar. 

 

"A vontade de saber o que está prestes a acontecer, dá um 'friozinho' na barriga e me faz criar várias teorias". Assim Julia Gomes de Oliveira, 18 anos, estudante e estagiária de Jornalismo, sente-se lendo suspense. Estar totalmente por fora do que vai acontecer é a grande vantagem do suspense, pensa Julia. 

 

Já Mayra Cardoso, 20 anos, estudante de Jornalismo, fica muito presa em uma boa leitura de mistério. Ela relata que fica ansiosa para saber qual é a solução do caso apresentado no livro. Ansiedade e expectativa estão aos montes disponíveis nas experiências com o mistério. Mayra Cardozo fala que é o gênero que mais lhe dá vontade de continuar a leitura. Ela fica ansiosa no decorrer e costuma se surpreender com o fim dos livros. O fato de "poder ir criando teorias sobre a solução do mistério" é bom para a estudante. Porém, um ponto que Mayra expõe é que há livros que têm casos mais difíceis de acompanhar e captar as pistas para entender melhor a história.

Daiana Kathulyn, 19 anos, estuda Letras e gosta de ler - e assistir - terror. O que a fascina é a atmosfera e a ambientação dos livros nesse gênero. "Acredito que a 'tensão' causada pelo gênero ocupa muitos espaços no imaginário de quem lê, e isso pra mim é muito satisfatório", diz. Ela faz críticas a questões presentes na literatura de alguns autores, como "racismo/xenofobia/misoginia de H.P Lovecraft, que torna a leitura muito desconcertante".

  

Românticos em diversos níveis

 

Os românticos também nunca saem de moda. Os livros que fazem parte da infância de muitas pessoas que mostram um final feliz em uma história de amor ganham novas caras. Hoje, o gênero é bem completo e tem variantes que abordam diversos modos de ver o amor. O gênero no qual você provavelmente vai se apegar mais aos personagens, pensar junto e torcer por eles. Os detalhes, como as borboletas no estômago dos apaixonados, te prendem e adicionam muito ao sentido do texto. A estudante que não quis se identificar diz que é incrível "ver todo o desenvolvedor da história do casal, os altos e baixos que os levam a ficar juntos - ou não". Esse sentimento de acompanhar os personagens e o desenvolvimento da história atrai ela ao romance. A estudante teme que alguns romances enrolam demais.

Há também aquelas pessoas românticas, mas nem tanto. Thayene Freitas, 30 anos, jornalista e turismóloga, prefere histórias que não são "muito água com açúcar", cujos enredos podem ficar chatos. Ela diz gostar de acompanhar os personagens, suas buscas e desejos, ansiando pelo fim da história. Romances imprevisíveis também têm sua beleza! 


Maria Fernanda de Melo, estudante de Jornalismo, é uma leitora encantada com os mecanismos do romance. Ela fala sobre uma linha que o gênero seguiria: "Encontro dos protagonistas, a relutância se vai acontecer ou não, o primeiro beijo e, depois, só love (amor)". O "sabor conto de fadas" acompanha a leitora, que cresceu lendo romances. Apesar dos altos e baixos nas histórias, a sensação de que dá para "chegar lá" - quando as coisas se organizam e tomam seu devido lugar - é positiva para ela.

 

"Esse universo melódico, amoroso, confortável, muitas vezes cheio de cuidados e descobertas, me mostra um amor tranquilo, sabe? Eu acabo viajando para um lugar que deixa claro uma coisa que é importante na minha vida: não importa muito onde você esteja, mas com quem você vai estar. Isso vale para romances ou amizades (...). Posso afirmar para você, nunca termino uma leitura com a mesma visão de quando comecei", relata Maria Fernanda.

 

Um questionamento da estudante é a falta de pluralidade social nesse gênero, principalmente nos romances destinados ao público teen (adolescente). "Talvez, na estante das pessoas, amores homoafetivos, por exemplo, ainda sejam minoria", diz.

  
Dark romance: Nem todo romance é fofinho


Das variantes do romance, o dark romance é considerado um dos mais "pesados" - de narrativa mais densa e que gera emoções mais fortes. Os livros desse gênero devem ser lidos apenas por adultos, de 18 anos ou mais. Mesmo sendo pesado, nada impede que um bom dark romance prenda a sua atenção e seja bom para você.

 

Gleyce Rauanny, 21 anos, estudante de Enfermagem, é leitora assídua desse tipo de romance. Ela pensa que a presença de inúmeros gatilhos - situações que tiram o leitor de sua zona de conforto - define quão pesado um dark romance é. Gatilhos esses os mais diversos, como estupro, violência doméstica e abuso psicológico. Eles sempre são indicados, alertando ao leitor o que ele encontrará, prosseguindo a leitura. 

 

Ela se divide entre ansiosa e aflita nas histórias, esperando um bom desfecho para o personagem principal. Ela afirma sempre ser surpreendida com os roteiros dos livros. Uma forte crítica que Gleyce faz a autores do gênero é a romantização de gatilhos, por vezes trazendo situações absurdas como algo normal, adaptadas à realidade da personagem. 


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