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13/08/2021 às 10h09min - Atualizada em 13/08/2021 às 09h50min

As amarguras e resistência que transformaram Frida Kahlo em um símbolo feminista

Utilizando de suas fragilidades e transformando-as em arte, essa foi a forma que a pintora mexicana usou para extrair vivacidade de suas guerras pessoais

Vitoria Fontes - Editado por Andrieli Torres
Foto: Autorretrato de Frida Kahlo | Reprodução: DDP
Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón, teve uma trajetória de vida curta em vista de todo potencial e impacto que sua memória ainda causa nos dias de hoje.

Conhecida por seus autorretratos, apreciação e patriotismo à cultura mexicana, a pintora levava consigo por onde quer que fosse, um pouco de sua naturalidade, suas vestes coloridas e típicas eram muito mais que isso, por trás daquele tecido havia uma história recheada de dor, angústia, força e revolução.

Vítima de um acidente que resultou em trinta operações decorrentes de uma barra de ferro que atravessou seu corpo ao meio percorrendo as extremidades do quadril até a vagina, e por consequência de uma poliomielite contraída na infância que sucedeu em uma deficiência nos membros inferiores.

Em nome de todas as sequelas deixadas pelo acidente, a artista viu seu desejo pela maternidade ser ameaçado, porém, continuava acreditando que através de uma cesariana conseguiria dar à luz. Após sofrer três abortos que lhe traumatizaram profundamente causando pavor em continuar vivendo com a impossibilidade de ser mãe e por conta da instabilidade de sua saúde, um agravante fez com que os médicos decidissem pela amputação de sua perna direita, essa decisão impactou inteiramente em sua vaidade, Frida perdeu o anseio de viver passou a se entregar inteiramente ao seu trabalho. 

 
“A pintura tem preenchido a minha vida. Perdi três crianças e uma série de coisas que poderiam ter preenchido esta vida miserável. A pintura substituiu tudo. Eu acho que não há nada melhor do que o meu trabalho.”


Uma história de amor ardente

25 anos repletos de traições e divórcio, essa foi a duração do verdadeiro amor da vida de Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón.

Diego Rivera pintava o mural “A criação – 1922” no anfiteatro da Escola Nacional Preparatória onde Frida estudava. Durante todo o tempo que estiveram juntos, precisaram lidar com inúmeras adversidades, sendo uma delas a diferença de idade e estética que foram fatores primordiais para que sua mãe fosse relutante ao casamento.

21 de agosto de 1929, o início de uma história de amor ardente, o sonho tornando-se real para uma mulher, 22 anos, e seu grande amor, 43 anos. Um dia que tinha tudo para ser o estopim de uma vida bela que viria pela frente, mas, contrariando as expectativas, o episódio desumano naquele momento dava uma amostra de que aquela história poderia ser conturbada.

Lupe Marín, ex-mulher de Diego, em um ato decide por levantar a saia de Frida e deixar suas pernas à mostra, ali, naquele instante, todos estavam olhando para as sequelas deixadas pela poliomielite, uma perna mais magra que a outra seguida de “Olhe para esses dois pauzinhos. É o que Diego tem em vez de pernas”, gritou bem alto.

O primeiro escândalo envolvendo traição e divórcio se deu pelo protagonismo entre Diego e sua cunhada, Cristina, que foi retratada nua em uma das obras de arte do amante.

Um ano após o divórcio oficial, Frida Kahlo e Diego Rivera casaram-se novamente, as inúmeras traições continuaram de ambas as partes. O período em que estiveram juntos foi de muitas batalhas e sofrimento, mas, sem dúvida alguma foi também de muito amor e muita paixão de um pelo outro.

 

“Tarde demais percebi que a parte mais maravilhosa da minha vida tinha sido meu amor por Frida, embora realmente não pudesse dizer que, se tivesse outra oportunidade, eu me comportaria com ela de maneira diferente. Todo homem é um produto da atmosfera social em que cresce e eu sou quem sou. Não tive nunca moral alguma e vivi apenas para o prazer, onde quer que o encontrasse […] se amava uma mulher, quanto mais a amava, mais desejava magoá-la. Frida foi apenas a vítima mais óbvia desta desagradável característica da minha personalidade.” – disse Diego em entrevista à Gladys March.

A arte como diário pessoal

A humanidade que compunha suas pinturas era algo extraordinário e o motivo principal que a fez chegar ao sucesso em tão pouco tempo. Retratar nas telas suas dores físicas e emocionais não foi tarefa fácil, eternizá-las em suas obras e expor ao público pediu muita coragem e isso a artista tinha de sobra. É impossível observar os seus quadros e não sentir a dor, angústia e a vontade de viver da pintora.
 
"Assim como os autorretratos confirmavam sua existência, as roupas faziam com que a mulher frágil, quase sempre presa à cama, se sentisse mais magnética, mais visível e mais enfaticamente presente como objeto físico no espaço. Paradoxalmente, eram uma máscara e uma moldura. Uma vez que definiam a identidade de quem as usava em termos de aparência, as roupas distraiam Frida — e o observador — da dor interior", escreveu Herrera em Frida - a biografia.
Foi usando a si mesma como tema de sua obra, que Frida foi elevada a um lugar excepcional para que até hoje estivesse viva na memória de uma cultura mexicana e de tantos outros países no qual esteve. Foi retratando suas vivencias trágicas que a artista se tornou símbolo de força e empoderamento para a mulher.

Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón, muito mais que uma pintora, artista ou mito. Uma mulher que passou a vida toda lutando com sequelas enormes e quando morreu, ainda sim, permanece viva.

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