Fundado em 1940, a instituição possui mais de 245 mil obras, rolos de filmes, curta, média e longa-metragem, cine-jornais, equipamentos e documentos históricos do audiovisual nacional, sendo o maior acervo da América Latina.
Segundo o Movimento SOS dos ex-funcionários e funcionárias da Cinemateca Brasileira, em Manifesto divulgado nas redes sociais, o incêndio foi um crime anunciado, com toneladas de arquivos queimados.
O primeiro Clube de Cinema de São Paulo foi criado na década de 40, por nomes como Paulo Emílio Sales Gomes, Décio de Almeida Prado, Antonio Candido de Mello e Souza e outros. Realizavam debates, reuniões e conferências para estudar o cinema. Com o período da ditadura militar, o clube foi fechado.
Apenas em 1946 é criado um segundo Clube, com novos membros e fundadores. Seu objetivo passou a ser desde então o estudo do cinema, sua divulgação e desenvolvimento no país. Em 1949, se uniu ao recém-criado Museu de Arte Moderna de São Paulo, para a criação da Filmoteca. Anos depois, virá a se tornar a Cinemateca Brasileira, passando por mudanças na gestação e organização.
Desde a sua criação até o atual momento, a instituição já passou por cinco incêndios e um alagamento no início da pandemia. Os incêndios mais recentes foram em 2016 e neste ano, todos reúnem milhares de perdas para o audiovisual brasileiro.
Antes, a gestão era do extinto Ministério da Cultura, mas foi transferida para a Fundação Roquette Pinto, no governo de Michel Temer e rompida no ano passado, pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub. Após o governo Federal assumir, houve a demissão e expulsão em massa dos funcionários especializados e a entrega das chaves do galpão. Tragédia anunciada meses atrás e abandonado desde então, não foi por falta de aviso sobre os riscos, infelizmente, a história se repetiu. No dia 12 de abril, foi divulgado o Manifesto sobre o descaso com a Cinemateca.
Manifesto dos trabalhadores da Cinemateca Brasileira
— Trabalhadores da Cinemateca Brasileira (@trabalhadorescb) April 12, 2021
São Paulo, 12 de abril de 2021
Sem trabalhadores não se preservam acervos!https://t.co/UPRgo5IxdI pic.twitter.com/QX1V1b6N2h
No dia, políticos se pronunciaram sobre o ocorrido. Na Secretaria Especial de Cultura, o sucessor da Regina Duarte, Marcos Frias, em seu Twitter afirmou que a culpa é dos governos de esquerda.
“O estado que recebemos a Cinemateca é uma das heranças malditas do governo apocalíptico do petismo, que destruiu todo o estado para rapinar o dinheiro público e sustentar uma imensa quadrilha de corrupção e sujeira criminosa.”
Do outro lado, o senador pelo estado do Pará do PT (Partido dos Trabalhadores), Paulo Rocha, diz que a culpa é do governo atual.
“O legado do governo Bolsonaro para o Brasil na cultura é a completa falta de gestão e suas consequências graves. O incêndio da Cinemateca Brasileira, como se poderia imaginar, é um crime anunciado. Exigimos investigação total dessa perda irreparável.”
A indignação tomou conta das redes sociais e muitos foram as ruas protestar contra o desmonte da Cultura e cinema brasileiro. No domingo, dia 8 de agosto, manifestantes tomaram as ruas em quatro cidades e no Distrito Federal, dentre elas São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre. A data também marcou um ano desde a demissão dos funcionários.
Volta a memória da população o incêndio no Memorial da América Latina em 2013; do incêndio no Museu da Língua Portuguesa em 2015, reaberto recentemente; do incêndio no Museu Nacional no Rio de Janeiro em 2018; E, todos os incêndios na Cinemateca, todos são meros acasos ou projetos? Com a falta de investimentos e negligência das instituições pelo governo, as perdas dos acervos para a humanidade e gerações futuras já são incalculáveis.
A atriz e escritora brasileira, Fernada Montenegro, em vídeo divulgado em rede social, define bem a situação em que vivemos e traz uma mensagem de esperança em meio a dor.