Anos após as tragédias em Brumadinho (MG) e Mariana (MG), o efeito negativo da Vale se restringe à opinião pública. A mineradora recuperou o valor bilionário perdido mediante às catástrofes e expandiu os lucros, acumulando R$ 70,6 bilhões só no primeiro semestre deste ano. As ações da Vale (VALE3) estão entre as mais indicadas pelos analistas por serem altamente rentáveis. Isto devido à explosão da moeda americana no Brasil e à larga demanda do minério de ferro, principal material na produção da empresa, sobretudo na China.
Como resultado do acidente em Brumadinho no início de 2019, a corporação perdeu R$ 72 bilhões no valor de mercado em um único dia da Bolsa naquele ano. Mas o forte fluxo de caixa impediu que a empresa fosse prejudicada financeiramente desde os acidentes até o atual momento.
“A Vale é uma empresa gigantesca. Em ambos os exemplos, sofreu vários processos, mas isso não foi grande o suficiente para afetar a mineradora como um todo. Porque ela tem operações em vários países, fatura muito e tem uma receita bilionária”, afirma o economista e investidor macro Igor Mundstock.
As ações, que chegaram a ser negociadas a R$ 38,90 após o deslizamento já dobrara o valor de compra. Para entender este fenômeno, o economista Pedro Lang explica ser preciso diferenciar os preços das ações a curto prazo, quando algum fato abala os investidores, e a longo prazo, onde “os resultados econômicos tendem a sobressair às notícias e acabam sendo os principais determinantes de uma ação”.
A valorização do dólar contra o real é um dos fatores que impulsiona o valor da Vale no mercado, pois os minérios da companhia brasileira são vendidos na moeda americana. Com a cotação do dólar por volta de R$ 5,51, o lucro que a corporação rende em venda é a quíntupla do que seria caso vendesse em real.
Também é o investimento chinês no nicho imobiliário que movimenta o fluxo de caixa da Vale. Como nosso principal comprador no setor de mineração e com a mineradora brasileira líder no segmento em que atua, o mercado chinês exporta 59% do minério brasileiro, apontam dados da Fazcomex, empresa de tecnologia para comércio exterior. Isso por conta da demanda que o país tem por minério de ferro para a produção de aço e construções civis.
Além da atuação no Brasil, a China dita o mercado de minérios mundialmente, o interesse chinês no produto em questão interfere na valorização ou queda de preço dele.
“Como ela é a maior consumidora do mundo, consegue regular a questão da demanda e o resto do mercado fica com a parte da oferta”, afirma Nicolas Merola, analista de ações e fundos. Exemplo disto foi a elevação do valor da tonelada de minério que chegou à US$ 220 (cerca de R$ 1200) em julho deste ano e teve queda posteriormente por efeito de políticas internas na China.
Com a supervalorização do minério de ferro, a China adotou medidas para reduzir o preço do produto e beneficiar os compradores chineses, além de melhorar a imagem do país. Segundo analistas, o plano do governo chinês explica a recente queda das ações da Vale, mas também tem validade de curto prazo.
A agenda verde, por exemplo, alia o país ao discurso ambientalista, diminui a poluição e a emissão de gás carbônico para limpar o ar até as Olimpíadas de inverno, que acontecerá na capital chinesa, em 2022. Na economia isso significa restrição da produção de aço e por consequência menor demanda dos produtos da Vale.
A mineradora também perde demanda devido ao caso Evergrande, imobiliária chinesa com risco de dar calote nos investidores, o que gerou crise no setor de construção