Ao assistir o noticiário, ler o jornal ou simplesmente checar as trends do Twitter, não temos o hábito de pensar nos bastidores da informação. Mas é justamente nesse making off que encontra-se o jornalismo. Longe de ser apenas uma produtora de notícias, essa profissão é também um dos principais caminhos para a denúncia de violações sociais e manutenção da democracia.
Não impressiona que os jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov tenham ganhado o Prêmio Nobel da Paz deste ano. Com suas trajetórias marcadas pela resistência e combate à desinformação, os laureados revelam que informar é uma forma eficiente de diplomacia. Afinal, oferecendo o diálogo em detrimento da disputa, o comunicador preenche lacunas e evita grandes transtornos.
Prêmio Nobel
Na estrada pela fraternidade e paz mundial, o Nobel da Paz é uma das cinco categorias do Prêmio Nobel. Aclamado tanto quanto o Oscar, maior premiação mundial do cinema, ele reconhece as principais contribuições para o avanço da Química, Medicina, Física, Literatura e Paz.
O que poucos sabem, no entanto, é que o idealizador do Nobel era autodidata e possuía muito talento na produção de explosivos. Alfred Nobel (1833-1896) nasceu na capital da Suécia, Estocolmo, e dedicou sua vida ao desenvolvimento de técnicas de explosivos.
Hoje Nobel é conhecido por ser o inventor da dinamite, composto que fortaleceu a produção de armamentos, construção de estradas e erupção de minas. Infelizmente, ele não conseguiu evitar o uso do seu trabalho em prol do avanço das guerras e conflitos ao redor do mundo.
Nesse sentido, em 1896, Alfred assinou seu testamento e determinou que toda sua fortuna deveria ser entregue, anualmente, aos indivíduos com mais serviços prestados à humanidade. Em 1900, quatro anos após a morte do inventor, foi criada a Fundação Nobel.
Novos marcos na história
Neste ano, Maria Ressa e Dmitry Muratov entrataram para a história dos laureados pelo evento, dividindo espaço com outras grandes personalidades como Malala Yousafzai, ativista em defesa da educação e Direitos Humanos, e Abdulrazak Gurnah, escritor com enfoque na questão dos refugiados.
Aos 58 anos, Maria Ressa coleciona e tece um trabalho digno de admiração, inspiração e reconhecimento. A filipina se formou em 1986 e há mais de 35 anos entra em combate pelo jornalismo honesto e pautado nos fatos. Além da experiência como repórter investigativa na CNN, ela é (co) fundadora do portal de notícias Rappler.
O Rappler foi criado em 2012. Na contramão do governador autoritário do país, Rodrigo Duterte, o portal de notícias defende a luta pela liberdade de imprensa e oposição à divulgação de fake news. Entre as polêmicas que já desmentiu está o relato de prosperidade das Filipinas ao longo do regime de Ferdinand Marcos, que perdurou de 1965 a 1986.
Com diferenças na trajetória, mas apresentando os mesmos anseios pela liberdade de expressão, está Dmitri Muratov. Nascido na sexta maior cidade da Rússia, Samara, o jornalista de 59 anos é uma voz de peso no enfrentamento à hegemonia, (co)fundador do Novaya Gazeta e, atualmente, seu editor-chefe.
O Novaya Gazeta, inaugurado em 1993, é um jornal independente que busca denunciar os abusos de poder e oferecer à população russa uma fonte honesta de informação. Suas matérias já colocaram em xeque inúmeros casos de corrupção e, inclusive, denunciaram a violação dos Direitos Humanos por parte de Vladimir Putin.
Apesar de receber constantes ameaças e ataques, o Novaya Gazeta segue resistindo. Como tantos outros veículos independentes, ele mostra que o direito à voz é o melhor caminho para se construir uma sociedade mais liberta e consciente.
Paz, Liberdade de Expressão e Jornalismo
A Liberdade de Expressão, apesar de tão referenciada até aqui, exige uma definição mais completa. No Brasil, ela é demarcada no art 5º da Constituição Federal:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)”.
Nesse sentido, ao selecionar, apurar e redigir matérias, o jornalista atua na manutenção da liberdade de pensamento e construção da paz. De acordo com a ONU, esse estado de harmonia corresponde ao fortalecimento da capacidade de gerir e reduzir guerras e conflitos.
Retomando o que foi dito no início: oferecendo o diálogo em detrimento da disputa, o comunicador preenche lacunas e evita grandes transtornos.
Referências