A luz no fim do túnel parece ter finalmente aparecido. Após quase dois anos de pandemia, enquanto as vendas se recuperam e voltam ao normal, os designers retomaram seus lugares. A coleção de moda feminina que marcou o retorno dos desfiles de 2021 em Nova York, Londres, Milão e Paris expressaram uma gama caleidoscópica de sentimentos, cores e estilos, enfatizando um desejo sincero por silhuetas ultra-sensuais. Não é por acaso que a inspiração para as novas roupas vem justamente do corpo, de "características físicas” que estavam interditadas.
O que mais vimos nessa última temporada internacional (verão 2022) foi excesso de “pele à mostra”, o que muitos definiram como “a volta do sexy”. E por quê? De novo, o casamento entre moda e tempo real. O excesso de volume e formas “casulos” do inverno, são explicados pelo simples fato de estarmos há dois anos trancados em casa, vestindo pijama e moletom. Mas o próximo verão será diferente, com cara de vacina, liberdade e vontade de sair. Vai me dizer que não tá com vontade de pegar o seu melhor look para a primeira festa que for?
Por um lado, as marcas reviveram tendências como o jeans de cintura baixa. Os designers, por outro lado, apostaram nas ombreiras, máxi acessórios e nos macacões colados. As marcas que lideram essas tendências incluem Givenchy (com as fendas), Saint Laurent (com o vestido de festa completamente transparente) e Balmain (com abertura e circulares abusadas nos vestidos).
“Hoje em dia com a inclusão da moda não deveria mais existir isso nos desfiles, castings ou vestimentas só para magros ou altos. A liberdade de se expressar através de uma roupa é algo admirável que muitas vezes a galera do nicho plus não tem essa liberdade. Admiro muito a Duoo Moda e Arte que é uma marca que leva muito a sério a inclusão da moda, as peças não tem identidade de gênero, expressam muito sobre a liberdade da mulher, corpos e etnias”, diz a modelo do Goiânia Fashion Week, Thályta de Almeida.
Aliás, essa última temporada foi marcada pelo feminismo, sobre o poder das mulheres. É sobre política. Os desfiles de moda hoje desafiam os padrões de comprimento e tamanho ideais, pois naturalmente redefinem o que é vulgar e não vulgar com o passar dos anos - por exemplo, os tornozelos eram considerados partes sexualizadas do corpo até a década de 1920. Hoje, estamos em meio a esse movimento de libertação e autoexpressão, e a moda ajuda a desmistificar a noção de que a sexualidade é uma aberração e que precisa ser reprimida.
No Brasil, com a chegada do verão, algumas dessas modas devem ir para frente. Se nos últimos meses adotamos moletons e malhas confortáveis para aguentar o confinamento, agora é a hora de arriscar, expandir, se conectar e se mostrar por aí.
E essa volta do sexy é atentado ao pudor? Não. Vamos tentar olhar para contextos sociais (e culturais) primeiro antes de julgar alguma roupa que aparece na passarela que nos cause desconforto. A transparência e recorte são leituras de um contexto atual, são tendências que surgem para atingir o público que usa aquela certa marca e que vai se identificar com ela.