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29/01/2022 às 13h14min - Atualizada em 29/01/2022 às 09h07min

Desastres ambientais afetam a atividade turística

Queda de cânion em Capitólio acelera os planos de ação em crise

Thalita Vizioli - Editada por Victória Silva
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“Todo mundo feliz. Os meninos super empolgados. A gente também tira foto para lá. Todo mundo assim extasiado com a beleza do lugar...”  Relata Ana Martins, em entrevista à Revista Itatiaia, sobre a sua viagem em família à Capitólio, Minas Gerais


A cidade com fama de Mar de Minas é banhada por águas de tom de esmeralda, da Lagoa de Furnas, área alagada artificialmente para a construção da usina Hidrelétrica de Furnas em 1950. Essa lagoa, maior extensão de água do estado, juntamente com rotas de trilhas, cachoeiras, cânions e piscinas naturais, compõem a paisagem que atrai 4 mil turistas nos finais de semana e 20 mil nos feriados prolongados, segundo a Ecodata em 2018. 

 

O desenvolvimento econômico da região pelo serviço turístico representa 65% do PIB da região, de acordo com a prefeitura de Capitólio, além de ser um potencial gerador de receita para a economia dos demais 34 municípios vizinhos que dependem do comércio. 

 

“... aí começaram a cair umas pedrinhas. Olhou para aquilo, mas achou que fosse uma coisa normal. Aí caíram mais umas pedrinhas. O piloto lá da lancha falou vamos embora. Estava manobrando e aí de repente eu olhei para cima e vi aquela pedra gigantesca caindo. Eu não tive reação, acho que eu fiquei em estado de choque. Aí depois disso eu lembro de uma onda preta, parecia um tsunami, uma coisa gigantesca vindo em direção a nossa lancha”. Ana continuou, em relato à Itatiaia. Ela, juntamente com seus familiares, sobreviveu ao desmoronamento do cânion em Capitólio, que deixou 10 mortos e diversos feridos, no sábado 8 de janeiro de 2022.

 

No dia seguinte à tragédia, o clima de festa que circundava a cidade mineira, já não estava mais presente, e sobrou espaço para o luto e a preocupação. Muitos turistas que haviam planejado o mesmo passeio de lancha pela Lagoa de Furnas, para os próximos dias, seguiram o rumo de casa, e aqueles que ainda planejavam a viagem para conhecer as belezas naturais da localidade, a desmarcaram. Empresas do setor turístico registraram em até 100%, o cancelamento de pacotes de viagens e passeios, que resultou em desastrosas quedas dos índices econômicos da cidade, conforme registros da FOLHA

 

A região sul de Minas Gerais já apresentava uma baixa adesão de turistas, devido a pandemia da COVID-19 e as precipitações de chuvas amenas, que dificultaram a navegação pelos lagos, assim, seria durante as temporadas de verão, o período ideal para recuperação das atividades. No entanto, o setor turístico é muito suscetível a intervenções externas, e a mesma chuva que colaborava, acabou também por prejudicar, ao contribuir com a queda do paredão rochoso que atingiu as embarcações durante o passeio. 

 

Assim, a exemplo de Capitólio, pode-se afirmar que o setor turístico é inerente ao desenvolvimento territorial, pois existem no Brasil e no mundo, destinos que apesar de apresentarem todas as características necessárias para o desenvolvimento do turismo - como belas paisagens naturais, infraestrutura como hospedagens, meios de transporte e boas estradas -, manifestam intempéries que podem causar desastres naturais, trazendo prejuízos às atividades econômicas, e consequentemente,  à vulnerabilidade socioambiental da comunidade local, que tem a atividade turística como principal geradora de fonte de renda. 

 

Conforme José Antonio Fraiz, professor da Faculdade de Ciências Empresariais e Turismo da Espanha orienta, quando há uma catástrofe natural em um destino turístico, ações operacionais devem ser feitas de forma a obter uma rápida recuperação, evitando assim, que a imagem do lugar sofra impactos negativos. 

Por conseguinte, a maioria dos operadores de turismo, de maneira desordenada, instalam as atrações em ambientes naturais, como ao lado de montanhas ou à beira-mar, sem antes  realizar estudos geomorfológicos que orientem se as condições dessas regiões são seguras ao público. 

 

Nesse sentido, durante uma reunião entre o Ministério do Turismo e o Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo (Fornatur) foi definido que os governos estaduais devem elaborar relatórios sobre pontos críticos em áreas de ecoturismo, conforme a Lei 12.608/2012, que instituiu a Política Nacional de  Proteção e Defesa Civil, ressalta no artigo 2° que é dever da União, dos Estados, e do Distrito Federal e dos Municípios adotar as medidas necessárias à redução dos riscos de desastre. 
 

Referências: 
 
Após acidente em Capitólio, estados farão relatório de pontos críticos em áreas de ecoturismo. G1. Brasília. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/01/10/apos-acidente-em-capitolio-estados-farao-relatorio-de-pontos-criticos-em-areas-de-ecoturismo.ghtml>. Acesso em: 14 jan. 2022.
 
Machado, Annaelise Fritz; Sousa, Bruno Barnosa; Kelmer, Magno Angelo. O TURISMO DE NATUREZA EM CAPITÓLIO – MG: 
PRÁTICAS E IMPACTOS. Revista Americana de Empreendedorismo e Inovação. v.2, n.3, nov/2020. Acesso em: 14 de jan. 2022.  
 
MATEDI, M. A; ROCHA, M. M. Turismo e Desastres: o caso das enchentes e deslizamentos na destinação turística. Turismo & Sociedade. Curitiba, v. 9, n. 2, p. 1-23, maio-agosto de 2016. Acesso em: 14 jan. 2022.
 
Sobrevivente da queda de cânion em Capitólio relembra o acidente: 'Achei que ia morrer'. Itatiaia. Disponível em: <https://www.itatiaia.com.br/noticia/sobrevivente-da-queda-de-canion-em-capitolio-relembra-o-acidente-achei-que-ia-morrer> . Acesso em: 14 jan. 22. 
 
Tragédia em Capitólio (MG) impacta turismo na região. Folha de São Paulo. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/01/tragedia-em-capitolio-mg-impacta-turismo-na-regiao.shtml#>. Acesso em: 14 de jan. 2022.

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