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16/02/2022 às 15h19min - Atualizada em 16/02/2022 às 15h02min

A Alta-Costura está pendendo mais para o minimalismo ou maximalismo?

O minimalismo e maximalismo voltaram a dividir espaço nas passarelas e nos deixaram questionando o caminho que as próximas temporadas iram seguir

Maria Eduarda Soldera - Editado por Flávia Pereira
Foto: Schiaparelli | Reprodução/Instagram (@schiaparelli)
Paris recebeu nesta última semana, entre os dias 24 a 27 de janeiro, a temporada de alta-costura Primavera/Verão 2022, onde grandes maisons como Schiaparelli, Chanel e Dior optaram por apresentar suas coleções de forma presencial - com plateia reduzida e presença somente de pessoas com comprovante de vacinação - e outras como Rahul Mishra, Maison Rabih Kayrouz e Ronald van der Kemp decidiram apresentar apenas desfiles virtuais ou um lookbook da coleção.
 
A alta-costura é o encontro da moda com a arte, onde o designer tem total liberdade criativa, sem precisar se preocupar com demanda e em apresentar uma coleção comercial, alguns até dizem que a alta-costura vende sonhos. Quando pensamos em couture logo vem a mente grandes volumes e enormes tecidos, porém o que foi apresentado nesta última temporada foi diferente da “grandeza” habitual que estamos acostumados.

O minimalismo tomou conta das passarelas de Paris nesta temporada. A Schiaparelli, por exemplo, decidiu deixar de lado os grandes volumes e cores fortes, que marcaram as coleções anteriores da maison, para trabalhar com silhuetas contidas e uma paleta composta por apenas preto, branco e dourado. À primeira vista os looks podem parecer simples, mas extravasam com todo o primor do corte e costura, revisitando referências da Elsa e de outros estilistas. Essa sensação de simplicidade foi intencional devido os tempos atuais, Daniel Roseberry, diretor criativo da marca, afirmou que usar muitas cores, volumes e todos os artifícios usados pelos couturiers pareceram vazios, sem fazer tanto sentido com o retorno das restrições sanitárias da pandemia.


 
Maria Grazia Chiuri apresentou na Dior uma coleção com foco na importância da conexão humana, recorrendo a referências do artesanato. Com uma paleta sóbria em torno do preto, branco e cinza, as peças minimalistas deixam a desejar para uma coleção de alta-costura. Os looks são elegantes e bonitos, mas o minimalismo poderia ter sido trabalhado de uma maneira melhor para criar a emoção que desejamos sentir em uma coleção de couture.


 
A pandemia e a volta das restrições sanitárias em alguns países influenciou a volta do minimalismo nas passarelas. Podemos observar que na história, durante períodos de crise a moda sempre adotou o minimalismo no estilo da época. Durante a Revolução Francesa, a indumentária da época adotou roupas mais simples, e as grandes silhuetas foram abolidas. O visual que determinou a moda após a Primeira Guerra Mundial foi o à la garçonne, composto por roupas mais simples e com corte reto. Durante a Segunda Guerra Mundial as mulheres possuíam um guarda-roupa mínimo, com roupas simples e masculinizadas. E também foi no período após a Segunda Guerra Mundial que Christian Dior apostou na coleção denominada “New Look” cheia de luxo, com saias amplas e cintura demarcada, indo contra o visual simples da época. 
 
O maximalismo também não foi deixado de lado nessa temporada, marcas como Jean Paul Gaultier e Valentino apresentaram coleções repletas de volumes e cores. Gleen Martens, designer escolhido para comandar a Alta Costura de Jean Paul Gaultier em 2022, apresentou uma das coleções mais marcantes dessa temporada, cheia de reinterpretações dos mais icônicos códigos da casa. Martens deixou todos fascinados com sua coleção que contou com exagerados vestidos de baile, muito tule envolvendo a silhueta, corsets apertadíssimos e estampas hipnóticas. O desfile foi um show de exuberância em cada um dos looks e tirou o fôlego de qualquer um apaixonado por moda.


 
Pierpaolo Piccioli apresentou desta vez na Valentino uma coleção sem os enormes vestidos que vimos na última temporada, mas que continuou contando com toda exuberância habitual da marca. Cores fortes como o verde, amarelo, lilás e rosa destacam os sofisticados vestidos, blazers e capas. As roupas com brilhos e metais também foram destaque na coleção, junto com os looks masculinos, que raramente aparecem em coleções de alta-costura. Pierpaolo fez roupas impecavelmente bem pensadas e com toda a excelência associada ao couture.


 
O maximalismo e minimalismo dividiram espaço nas passarelas dessa temporada e nos deixaram com um questionamento: Como serão as próximas coleções de couture? O maximalismo vai continuar nas criações ou mais coleções minimalistas vão aparecer nas passarelas, como visto no início da pandemia?
 
Podemos ter criado a imagem de que para ser uma boa coleção de alta-costura ela precisa ter silhuetas enormes e gloriosas quantidades de tecido, mas a verdade é que o necessário para ser considerada uma boa coleção é exuberância e criatividade, os looks precisam contar uma história que nos faça pensar e repensar. Essa é a diferença entre a coleção de Jean Paul Gaultier, que foi provavelmente a mais comentada da semana, e a de Dior, que recebeu diversas críticas. A emoção criada por Glenn Martens é o que se espera da couture. Seja com maximalismo ou minimalismo, o que realmente importa na couture é a excelência técnica e a habilidade de criar comoção.

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