28/04/2022 às 21h54min - Atualizada em 28/03/2022 às 16h40min
Antártica tem aumento de 30º acima da média
Os lugares mais frios do mundo experimentaram um aquecimento simultâneo e deixaram cientistas perplexos.
Liza Modesto - Editado por Manoel Paulo
Um aumento de quase 30º na temperatura média da Antártica Oriental foi registrado dia 18 de março. A estação russa Vostok registrou -17,7 graus Celsius — acima do recorde mensal com uma diferença de quase 15 graus —a temperatura mais alta desde que começaram os registros há 65 anos, informou o climatologista Stefano di Batista ao jornal The Washington Post. Variando geralmente entre -63ºC e -53ºC, valores acima de -30 graus Celsius entre os meses de março e outubro são observados pela primeira vez. Enquanto a estação Concordia, operada pela França e Itália, registrou -12,2ºC, a maior temperatura registrada na localidade independente do mês.
"A climatologia da Antártica foi reescrita" afirmou Stefano di Batista.
Paralelamente, o Ártico — que tem aquecido mais rápido que o resto do mundo — vem se aproximando do ponto de derretimento. É incomum ver ambos os polos (norte e sul) derretendo ao mesmo tempo, explicou Walt Meier do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos Estados Unidos, já que estão em estações opostas. Na terceira semana de março um aumento de mais de 40ºC acima da norma foi registrado no Antártico e de mais de 30ºC no Ártico. O que causou o aquecimento?
O pesquisador Jonathan Wille, do Instituto de Geociências Ambientais de Grenoble, na França, conta que o aumento foi provavelmente instigado por um rio atmosférico extremo. Esses rios são regiões de umidade concentradas na atmosfera, este teria bombeado ar úmido e quente do Pacífico Sul.
Wille adicionou que acredita-se que um domo de calor se aproximou, simultaneamente da Antártica Oriental. Os domos de calor são causados geralmente pela combinação entre pressão atmosférica e temperaturas marítimas em ascensão — constantemente subindo como resultado do aquecimento global e da crise climática. A umidade da tempestade causada pela queda do rio atmosférico se espalhou pelo interior do continente, mas a alta pressão do domo de calor moveu-se pela Antártica Oriental, impedindo a umidade de escapar. A temperatura atipicamente alta causou derretimentos na região, acontecimento incomum nessa parte da Antártica.
Entretanto, Lazzara, metereologista da Universidade de Wisconsin afirma que por enquanto o acontecimento não sinaliza algo preocupante sobre a mudança climática. Mas caso a alta nas temperaturas persista, uma maior preocupação se instalará.