A Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, apresentou um relatório atualizado acerca do panorama do estado do clima global nesta última semana: houve um recorde no ano de 2021 em quatro indicadores-chave dos fenômenos climáticos. São eles: a elevação do nível do mar, a concentração dos gases de efeito estufa, calor e acidificação oceânica.
Segundo a Organização, a temperatura global avançou e ficou no patamar de 1,1°C (+-0,13)ºC a mais que a média do período pré-industrial (1850-1900) - valor menos quente do que os registrados em alguns dos últimos anos devido ao efeito de arrefecimento exercido pelos eventos La Niña no início e no final de 2021. Assim, a previsão de cientistas e ambientalistas está tomando forma, é preciso manter a temperatura abaixo de 1,5°C para evitar a recorrência de grandes impactos climáticos e a irreversibilidade até meados deste século.
Com isso, é possível analisar a quantidade de mudanças no clima registradas apenas no ano de 2021, eventos extremos como a nevasca no mês de janeiro em Madrid, na Espanha, que deixou três mortos; as chuvas torrenciais na Austrália que deixaram o país em alerta; os incêndios florestais que foram de maio a agosto na Califórnia, Estados Unidos; a intensa onda de calor no Canadá no mês de junho; às enchentes na China que causaram a morte de 25 pessoas, sendo as maiores em 1.000 anos.
As inundações em parte da Europa, em especial a Alemanha, tendo sido a mais afetada pelos estragos das chuvas; o Furacão Ida que deixou o estado da Louisiana, nos Estados Unidos, inundada no final do mês de agosto; em outubro, a pior crise hídrica na represa Vargem das Flores em 91 anos entre as cidades de Betim e Contagem, no estado de Minas Gerais no Brasil e a passagem de ciclones que devastaram a Bahia e o norte do mesmo estado em dezembro, causando enchentes, atingindo mais de 640 mil pessoas, provocando mortes e desabrigados, dentre outros eventos pelo mundo que se pode elencar.
Sob todo esse cenário, é de se considerar o tamanho das consequências em setores sociais, principalmente o econômico, já prejudicado pela pandemia, uma vez que, de acordo com o relatório da OMM, os países tiveram uma perda significativa em torno de centenas de bilhões de dólares, a qual afeta diretamente o desenvolvimento social, o combate à fome, a produção de energia, o setor hídrico e o bem-estar das comunidades.
Em alguns casos, levando ao agravamento das crises humanitárias, em que milhares de pessoas que contribuíram muito pouco para os efeitos climáticos, sofrem mais com o peso do mesmo. “Perdas e danos de mais de US$ 100 bilhões, além de graves impactos na segurança alimentar e em aspectos humanitários devido a eventos climáticos foram relatados”, afirma o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, na apresentação do documento.
NASA @NASAGISS GISTEMP: Year 2021 tied for the 6th warmest year globally. 7 warmest years on record in the last 7 years.
— Antti Lipponen (@anttilip) January 13, 2022
This animation shows the temperature change by country.
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No conjunto de dados do relatório, o nível do mar elevou-se num total de 4,5 mm desde 2013 e isso se deve à aceleração do derretimento das camadas de gelo nos polos, implicando em ciclones tropicais. O pH do oceano, conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), diminuiu consideravelmente: há uma hipótese de que o pH agora é muito mais baixo em pelo menos 26.000 anos, o que anda levando à perda de ervas e algas marinhas, recifes de coral e ecossistemas marinhos. As concentrações de gases de efeito estufa atingiram 149% de dióxido de carbono (CO2) do nível pré-industrial.
O calor, alerta a OMM, está “penetrando em níveis cada vez mais profundos”, grande parte do oceano experimentou pelo menos uma onda de calor marinha “forte” em algum momento de 2021; a profundidade superior de 2.000 metros continuou a aquecer. Do mesmo modo, em 2022, as consequências já se tornaram mais agudas, a observar-se o grande aumento de temperatura na Índia e no Paquistão até meados de maio, em que as temperaturas ficaram perto dos 50ºC. "As energias renováveis são o único caminho para a verdadeira segurança energética, preços estáveis da eletricidade e oportunidades de emprego sustentáveis. Se agirmos juntos, a transformação da energia renovável pode ser o projeto de paz do século 21", disse Guterres.
O relatório da OMM sobre esse panorama será um dos documentos oficiais da 27ª sessão da Conferência das Partes (COP 27) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Ele foi produzido por meio de contribuições de dezenas de especialistas dos Estados Membros, incluindo Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais (NMHSs) e centros globais de análise e dados, bem como Centros Regionais de Clima, o Programa Mundial de Pesquisa Climática (WCRP), o Global Atmosphere Watch (GAW), o Global Cryosphere Watch (GCW) e o serviço de mudanças climáticas Copernicus da União Europeia.