Black Mirror é uma série de ficção científica da televisão britânica, criada por Charlie Brooker, centrada em temas atuais e distópicos, trazendo uma certa obscuridade e satirização do comportamento humano diante dos avanços tecnológicos. A série basicamente examina a sociedade moderna, pautada principalmente nas consequências imprevistas das novas tecnologias, apresentando episódios autônomos, com elencos e histórias diferentes, em que se passam no futuro ou em um presente alternativo.
A série começou a ser transmitida pela emissora Channel 4, no Reino Unido, em dezembro de 2011. Mas, em setembro de 2015, a Netflix comprou a série e logo organizou uma terceira temporada de 12 episódios que, na verdade, deu origem a terceira e a quarta temporada, já que foram divididos em seis episódios cada. A série recebeu aclamação da crítica e aumento de interesse internacionalmente, principalmente nos Estados Unidos, depois de ter sido adicionada à Netflix.
Além dos episódios da série, foi lançado um filme pelos produtores da série no dia 28 de dezembro de 2018. E com o grande sucesso do filme interativo, Bandersnatch, a estreia da quinta temporada carregava consigo bastante expectativa. Sem contar o status adquirido nos últimos anos pela qualidade das histórias e plot twists. Assim, passou a ser considerada uma produção marcada por suas ousadias narrativas, que soube captar o zeitgeist com excelência. Por um lado, isso foi ótimo, pois atraiu uma gama de fãs, e até fez o seriado conquistar Emmys. Mas por outro olhar, isso pode ser um tanto complicado, já que o padrão de qualidade é muito alto para se manter por muito tempo – ainda mais contando diferentes histórias a cada episódio.
E é exatamente esse o problema que a série vem passando. “Durante esses anos, a série estava nos fornecendo episódios com um altíssimo padrão de qualidade. Nos apresentavam coisas que nós podíamos imaginar em um futuro, sentir medo, e até mesmo fantasiar... mas, nessa quinta temporada, parece que foi feito só pra série não cair no esquecimento, sabe?” afirma Júlia Brandão, fã da série desde a primeira temporada.
Assim brinca a estudante de 18 anos, Nicholly Brasileiro, que diz não ter gostado da nova temporada. Ela explica que o primeiro episódio, Striking Vipers, foi o mais aceitável, “porque ele mostrou como um casal pode ir do céu ao inferno por coisas mínimas e ainda assim se reconstruir”. Quanto ao segundo e o terceiro episódios – Smithereens e Rachel, Jack and Ashley Too, respectivamente – ela critica negativamente, afirmando ter “muita falação” em Smithereens, o que o torna cansativo. E explica que no último episódio da temporada, claramente fala sobre a vida da Miley Cyrus como Hannah Montana (personagem da Disney Channel) e “sinceramente, ninguém precisa saber muito da vida dela pra ter entendido aquele episódio, era muito óbvio”, afirma.
‘Parece um filme da sessão da tarde’
Essa foi uma das principais declarações sobre o último episódio da quinta temporada.
Usuário do Twitter @under_thor compara episódio ‘Rachel, Jack and Ashley Too' a um filme de sessão da tarde
Usuária do Twitter @jaquebelloni demonstra insatisfação com a quinta temporada de Black Mirror e compara episódio ‘Rachel, Jack and Ashley Too' a um filme de sessão da tarde.
E sendo Rachel, Jack and Ashley Too um dos episódios mais esperados pelos espectadores, pela atuação da atriz e cantora Miley Cyrus, ele acabou decepcionando grande parte dos fãs, já que caminha pelo clichê desde o início da trama. Além de acontecer uma série de situações exageradas e forçadas, em que muda todo o conceito Black Mirror e se torna um título digno de se estar na Sessão da Tarde.
Mas, há também quem se agradou da última temporada, como Ana Carolina Ribeiro, estudante de Publicidade e Propaganda, que declarou ter gostado muito de Striking Vipers pelo protagonismo negro e pela exploração da sexualidade da pessoa negra que é bastante objetificada. Ressaltou também ter gostado porque “revelou uma das facetas dos relacionamentos modernos, mexendo com o tabu da monogamia e tudo mais”, afirma. Para Ana Carolina, Smithereens “foi um soco no estômago”. Ela se impressionou com a forma que o episódio aborda sobre como somos dependentes das redes sociais, e como tudo se torna banal e passado tão rápido. “Mostrar o mecanismo da relação entre a novidade que é constante nas redes sociais e como isso afeta nossa forma de ver as coisas foi genial”, diz Ana.
Contudo, ela confessa que Rachel, Jack and Ashley Too foi o que mais a desapontou. Inclusive, falou sobre suas expectativas que tinha para o episódio: “Achei que ia ser um episódio abordando como a tecnologia pode nos dominar e o quanto não questionamos mais as coisas por isso. Acreditava que a boneca ia dar comandos como 'se jogue da ponte' e a personagem iria obedecer, algo assim”, explica. Mas, apesar do terceiro episódio não ter sido exatamente o que esperava, Ana Carolina classificou a temporada como “8/10” e ainda complementou dizendo que está recebendo muitas críticas negativas do público, porque na realidade, “trata-se de uma crítica a nós mesmos e é difícil de engolir...se autocriticar”, afirma a estudante.
Por que Black Mirror choca cada vez menos?
Para Maria Isabel Rodovalho, criadora do site e página ‘Cinemalize’, a série apenas se propôs a ser diferente inicialmente. “Então, o público, no geral, acaba sempre esperando reviravoltas no enredo como carro chefe da série quando, na verdade, o carro chefe é mostrar esse futuro distópico, que pode ser que aconteça ou não. O importante é focar nos comportamentos e realidades que já vivemos”, explica.
Acreditando que Black Mirror continua sendo “muito Black Mirror” ou não, ainda assim vale a pena conferir a nova temporada. Com o primeiro episódio filmado em São Paulo, estrelado por Anthony Mackie de Vingadores e Yahya Abdul-Mateen II de Aquaman, o episódio começa repleto de potencial, discutindo relações no espaço virtual. Após, vem o destaque da temporada com Andrew Scott de Sherlock, que traz um tenso debate, satirizando a obsessão pela cultura do Vale do Silício e o poder das empresas por trás das redes sociais. E, por fim, no episódio com Miley Cyrus, apesar de pouco impactante, promete divertir, além de construir uma crítica pesada à indústria musical e artistas fabricados.