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11/05/2022 às 20h21min - Atualizada em 11/05/2022 às 19h29min

Pequena África

Roteiro cultural gastronômico e de celebração da herança africana no Rio de Janeiro

Leticia Paz - Editada por Victória Silva
Antônio Scorza/ Reprodução Jornal O Globo
“Revive o orgulho da raça, o encanto da cor
Empodera, ensina ao mundo a lição
Negro é arte, é vida, é cultura, negra também é a cor desta nação”...
(O Canto do Belo, Letica Paz) 
 
O poema o Canto do Belo, escrito por essa jornalista que vos escreve, enaltasse um outro patrimônio cultural Afro-brasileiro, o esplendoroso Ile Aiyê, bloco afro que tem sua sede em Salvador, na Bahia. Mas que vou usar para nossa introdução sobre a Pequena África, região composta pelos bairros: Da Saúde, Gamboa e Santo Cristo na zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro. 

Mais do que um destino que precisa está no seu roteiro, quando for a Cidade Maravilhosa, a região é uma preciosa e importante herança dos negros livre e escravizados no Brasil. 

O local transformou um período vergonhoso, que foi a escravidão em cultura. Cada praça, rua ou esquina que compõe a Pequena África exalta a cultura, gastronomia, as religiões de matrizes africanas e principalmente o povo negro. 
Logicamente por isso a região é cheia de museus e locais históricos mas também repleta de bares e restaurantes charmosos e lugares fascinantes. Recentemente a revista TimeOut elegeu o bairro da Saúde como um dos mais “descolados” do mundo. 

Se está se perguntando se é possível fazer o circuito sozinho? Sim, mas indico que faça com guia, afinal eles ou quem conhece muito sobre a região vão poder contar sobre a história corretamente. Também recomendo que faça o roteiro completo, mas se o tempo for curto vou deixar aqui as principais atrações:

Cais do Vanlongo

Uma visita ao Cais do Valongo é totalmente cultural, pois o local tem uma forte ligação com o período da escravidão no Brasil. Até meados de 1770, os negros escravizados vindos do continente africano desembarcavam na Praia do Peixe (atual Praça XV) e eram negociados na Rua Direita hoje Rua 1º de Março no centro do Rio. A presença dos negros africanos era motivo de incomodo para elite que frequentava a região, com isso uma nova legislação estabeleceu a transferência desse mercado para o Cais do Valongo. O mesmo local em 1843 foi rebatizado, e passou a se chamar Cais da Imperatriz, em homenagem a então princesa Tereza Cristina, futura esposa de D. Pedro II e Imperatriz do Brasil. 

Em 2011, durante as escavações realizadas como parte das obras de revitalização da zona portuária da cidade do Rio de Janeiro, foram descobertos os dois ancoradouros: o do Valongo e o da Imperatriz. No mesmo lugar estava uma grande quantidade de amuletos e objetos de culto originários do Congo, de Angola e Moçambique. Entrando para lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações em 2017, Segundo a Unesco, “é um sítio de consciência, o qual ilustra fortes e tangíveis associações a um dos mais terríveis crimes da humanidade, a escravidão de centenas de milhares de pessoas, criando a maior migração forçada da História”. 



Os Jardins Suspensos do Valongo

O Jardim Suspenso do Valongo é uma construção paisagística na encosta oeste do Morro da Conceição. Data de 1906, projetado por Luis Rey inspirado nos moldes dos parques franceses do século XIX.

O jardim tem réplicas das estátuas dos deuses Minerva, Marte, Ceres e Mercúrio, que antes adornavam o Cais da Imperatriz. Virou ponto turístico como parte do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana. A área do Jardim Suspenso do Valongo abriga, também, em suas dependências a Casa da Guarda, que conta com uma exposição permanente com achados arqueológicos das escavações das obras do Porto, como talheres, jarros e objetos de higiene pessoal.



Cemitério dos Pretos Novos 

Para quem gosta de passeio cultural vai mais uma dica que não pode ficar de fora do roteiro, o Cemitério dos Pretos Novos foi o local de sepultamento dos africanos recém-desembarcados no Valongo, que não resistiam às péssimas condições da travessia e vinha a óbito antes de serem vendidos.

Localizado na atual Rua Pedro Ernesto, o sítio arqueológico foi descoberto em 1996, durante as obras de reforma da residência da família Guimarães. O local contém fragmentos de corpos de uma jovem africana e de outros africanos escravizados, além de artefatos arqueológicos do século XIX.

O local tem  entrada gratuita as terças-feiras das 10 h às 16 h.



Pedra do Sal

Lembra quando falei que bairro da Saúde foi eleito um dos bairros mais descolados do mundo, a Pedra do Sal com certeza foi um dos motivos que deu ao bairro tal título. Situada no Largo João da Baiana, nos pés do Morro da Conceição, no bairro da Saúde, é um  monumento religioso e histórico da cultura afro-brasileira, e também ostenta o título de ser o berço do samba carioca, e dos primeiros ranchos e cordões carnavalescos. 

A primeira vista, a localidade nada mais é do que uma escadaria, cercada por paredes com desenhos que traduzem a história do local. Poit das famosas rodas de samba semanais, nas noites de segunda e sexta-feira.

 Local indicado para aprecia o samba que rola solto e a atmosfera única que toma conta do público, e ser for adepto, aquela cervejinha bem gelada, caso contrário, garanto que há bebidas não alcoólicas, tudo é permitido na Pedra do Sal, menos não ser divertir. 



Largo de São Francisco da Prainha 

O Largo de São Francisco da Prainha, popularmente conhecido como Largo da Prainha, é situado na Rua Sacadura Cabral, no sopé do Morro da Conceição, também no bairro da Saúde, antes da construção do Porto do Rio de Janeiro, existia ali uma pequena praia, que se estendia até onde é a Praça Mauá hoje. Devido aos numerosos aterros feitos na região, a praia desapareceu. 

A igreja de São Francisco da Prainha, erguida em 1696, em estilo barroco jesuíta, localizada bem no centro, deu nome ao largo, local que hoje se encontra a estátua de Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do corpo de baile permanente do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Mercedes fundou o Ballet Folclórico que levava seu nome, difusor mundial de performances de terreiros e paradigma da luta e resistência no campo da cultura.
O largo e seus arredores possuem diversos bares e restaurantes e intensa vida diurna e noturna, perfeito para apreciar a gastronomia local. 



O circuito da Pequena África, mais do que um passeio é um local de pertencimento da cultura negra. O que o visitante pode esperar desse roteiro é uma imersão na história, reflexão sobre esse passado negativo do Brasil. Mas acima de tudo, ver de perto como o povo negro reescreveu e marcou seu lugar na história desse país, sem esquecer de todo sofrimento, mas exaltando o orgulho da sua raça.

Visitas Guiadas 

Conectando Territórios (@conectandoterritorios) 
https://www.instagram.com/conectandoterritorios/

Etnias Turismo e Cultura (@etniasturismoecultura) 
https://www.instagram.com/etniasturismoecultura/

Instituto Rio Memória Ação (@riomemoriaacao) 
https://www.instagram.com/riomemoriaacao/

Como Chegar: 

A maneira mais indicada são os transportes públicos, ônibus metro e VLT, mas táxis e carros de aplicativos também são viaveis dependendo de onde seja seu ponto de partida até a Zona Portuária.

Referências: 

Circuito de Herança Africana. Pretos Novos. Disponível em: https://pretosnovos.com.br/educativo/circuito-de-heranca-africana/. Acesso 10/05/2022

Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana. Porto Maravilha. Disponível em: https://portomaravilha.com.br/africadetalhe/cod/7. Acesso 10/05/2022

Pequena África. Visit.Rio. Disponível em: https://visit.rio/que_fazer/pequena-africa/.  Acesso 06/05/2022
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