Desde 2000, todo mês de maio, a campanha “Faça Bonito” reforça e alerta a população sobre a necessidade de manter a atenção com casos de abuso sexual de crianças e adolescentes em todo o pais e mobilizar cada vez mais pessoas a apoirem a causa e ajudar a combater essas ocorrências que só aumentam a cada ano.
Origem da campanha
A escolha de maio como o mês portador da campanha faz memória ao “Caso Araceli”, uma tragédia que chocou o país há 49 anos atrás. Em 18 de maio de 1973, em Vitória, no Espírito Santo, uma menina de apenas oito anos de idade foi sequestrada por três homens, estuprada e mantida em cárcere privado por dois dias, sob o efeito de drogas. O corpo da criança foi encontrado dias depois, em 24 de maio, desfigurado e já em estado de decomposição.
Os homens suspeitos do crime são todos de famílias influentes de classe média alta do estado, foram absolvidos por falta de provas e o caso segue, até hoje, impune e um mistério. Houveram inúmeras especulações na época e nos anos seguintes sobre o que realmente aconteceu no dia em que Araceli desapareceu e no tempo que passou até seu corpo ser encontrado, mas nada foi confirmado.
E o “Caso Araceli”, então, tornou- se um símbolo do combate à violência contra a criança e o adolescente no Brasil. Diante da barbárie e injustiça do crime, militantes e entidades do país se mobilizaram para a criação de um dia nacional de combate ao abuso e exploração sexual e a data escolhida foi o 18 de maio em memória ao caso, que se tornou oficial em 2000 juntamente com a criação da campanha “Faça Bonito - Proteja Nossas Crianças e Adolescentes” que tem como objetivo mostrar que é uma causa coletiva garantir um desenvolvimento sexual saudável para a juventude brasileira.
O símbolo da campanha é a gérbera, uma flor de cor laranja. A partir disso, o Maio Laranja foi criado e todos os anos é um mês marcado de conscientização, informações, campanhas nas redes sociais e muito mais.
Dados e especialistas
De acordo com o Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, estudo feito em outubro de 2021 pela UNICEF e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revela que existe uma média de 45 mil casos por ano, mas esses são dados de acordo com os casos que chegam a ser denunciados, esses que correspondem a somente 7,5%. Na realidade, estima-se que seja em torno de 500 mil crianças sofrendo exploração sexual todos os anos.
Segundo Cristiane Britto, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, 90% dos casos de abusos contra crianças e adolescentes acontecem no local de residência e cerca de 30% deles são feitos pelos próprios pais. Ela também afirma que, muitas vezes, quem recebe as denúncias desses casos são professores.
Márcia Monte, assistente social e especialista no enfrentamento à violência doméstica contra crianças e adolescentes na ONG Visão Mundial, diz que as práticas de abuso só crescem com o passar dos anos. Em artigo publicado no Estadão, ela escreveu que “há muitas décadas, a violência sexual contra crianças e adolescentes tem sido um desafio para o Brasil, principalmente em regiões mais vulneráveis, distantes dos grandes centros, onde a presença do Estado e de políticas públicas é mais escassa.”
Como identificar e evitar
É de uma importância inestimável que crianças e adolescentes estejam familiarizados com a educação sexual, compreensão em relação às violências que podem ocorrer. Uma criança que é violada e sofre algum tipo de abuso sexual demonstra por sinais que algo está errado. A página “Maio Laranja” nas redes sociais reuniu os principais sinais, segundo psicólogos:
Mudanças de comportamento e alterações de humor
Proximidades excessivas com o abusador, em casos onde a criança convive com o abusador
Comportamentos infantis que já haviam sido abandonados pela criança ou adolescente
Silêncio predominante, evitar compartilhar “segredos”
Queda no rendimento escolar
Traumatismos físicos (marcas de agressão, DSTs)
Denúncia
O principal meio de denúncia é pelo Disque 100 e pode ser adicionado no WhatsApp por meio do número (61) 99656-5008. A denúncia pode ser feita anonimamente.
As unidades Cras e Creas por todo o país também atuam com a prevenção em casos de infração dos direitos humanos.