De acordo com dados do Ministério da Saúde, através do SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional) em 2022 a obesidade, dividida em seus três níveis, atingiu mais de 6,7 milhões de pessoas. De acordo com o relatório, dessa quantidade, o total de pessoas com obesidade severa, ou tipo 3, era cerca de mais de 863 mil, considerando apenas os brasileiros adultos de todo o país.
A quantidade de crianças de 0 a 5 anos com o peso acima do adequado para a idade foi de 487.641 em 2022, o número é mais alto que os registrados em mais de dez anos, segundo relatórios gerados no próprio SISVAN. Em entrevista ao Lab Dicas, a nutricionista Sueley Natera diz acreditar que há hábitos familiares que facilitem a obesidade de criança, tais como: “ alimentação com excesso de açúcares, alimentos ultraprocessados e a falta de atividade física, visto que as crianças hoje passam maior parte do tempo em eletrônicos”.
Dados do World Obesity Atlas 2022 apontam que até 2030 um terço das crianças brasileiras poderão ser obesas, enquanto na população adulta, a doença crônica pode atingir até 30%. A obesidade pode ser definida através do resultado do IMC (índice de massa corporal), este é obtido através da divisão do peso pelo quadrado da altura. Caso o resultado seja maior que 30, o caso pode ser considerado como obesidade. Os três graus são definidos por esse resultado: grau 1 - de 30 até 35; grau 2 - de 35 a 40, e o IMC acima de 40 já é classificado como obesidade de grau 3 ou, também chamada de obesidade severa.
Natera acredita que na atualidade, o estético vem, muitas vezes, à frente da saúde, e por conta disso muitas pessoas aceitam a forma como estão, sem perceber o risco: “ a gordura corporal em excesso não tem benefício algum, deixa o corpo cansado sem disposição e ainda traz inúmeras doenças”. Ela coloca ainda que o assunto precisa ser estimulado na população para que seja buscado as melhores alternativas de cuidado da saúde: “a nutrição tem se ampliado, e hoje para se alcançar hábitos saudáveis, é levado em consideração a fisiologia e o comportamento humano”, explica.
No cinema, o filme A Baleia, tenta provocar a questão da obesidade através do incômodo, e faz com que o público sinta as dificuldades do protagonista Charlie em cada dia da semana. Na trama, o personagem de 270 kg, tem compulsão alimentar, acionados principalmente de gatilhos emocionais; possui relação conturbada com a filha Ellie (Sadie Sink) e se nega firmemente em procurar ajuda médica, com exceção de sua amiga e enfermeira Liz (Hong Chau). O autor Brendan Fraser e o diretor Darren Aronofsky já foram a público negar as acusações de gordofobia, mas o assunto foi pauta de matérias e podcasts recentes e reacenderam as discussões da imagem estereotipada dos obesos no cinema.
A dificuldade de acesso e tratamentos para pessoas acima do peso, foram exemplificadas ainda este ano com a morte de Vitor Augusto, o jovem de 25 anos que foi recusado em pelo menos seis unidades de saúde por telefone, e em outras presencialmente, devido à falta de estrutura e equipamentos básicos para pessoas obesas com, por exemplo, macas. Em outro caso, a influenciadora brasileira Juliana Nehme foi impedida de embarcar no Qatar por ser “gorda”, e informou que a passageira precisaria de uma passagem executiva para conseguir embarcar.
A gordofobia e a falta de espaço (físico e intelectual) para as pessoas obesas traz ao indivíduo, nas obras cinematográficas, e principalmente na vida real, além de consequências relacionadas à saúde física, também problemas emocionais e psicológicos que dificultam ainda mais na luta contra a obesidade. Sobre isso, a nutricionista explica que “o indivíduo é um ser psicossocial e as nossas emoções afetam nosso corpo. Hoje, dentro da área de nutrição, existe a nutrição comportamental, levando em consideração o comportamento do ser humano em relação a sua alimentação, mas há momentos em que as emoções ou distúrbios psicológicos precisam ser tratados antes da nutrição”.
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