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23/04/2023 às 00h06min - Atualizada em 21/04/2023 às 23h31min

As mulheres e o mercado literário

Apenas mais um dos espaços majoritariamente masculino

Ana Alves - Revisado por Flavia Sousa
Grandes autoras ao redor do mundo (Foto:Reprodução/Montagem)

Alguns dos maiores clássicos da literatura mundial foram escritos por mulheres, livros como Orgulho e Preconceito, A Cor Purpura, Morro dos Ventos Uivantes e Frankstein, tiveram suas histórias idealizadas e escritas por mulheres. Mas mesmo que tenham se tornado sucessos de público e crítica, as obras de autoria feminina não recebem o mesmo reconhecimento. Mesmo que 55% do público leitor seja formado por mulheres, autoras enfrentam a desigualdade e o descaso no mercado editorial quando comparada com homens.

A desigualdade de gênero existe na sociedade como um todo, e a literatura é apenas um dos muitos ambientes de trabalho onde a mulher tem seu trabalho descredibilizado ou invisibilizado em muitos casos. Tornando algo que já é difícil como publicar um livro, uma missão quase impossível quando você é do sexo feminino.


Não é segredo para ninguém que se tornar um autor de sucesso demanda muito esforço e dedicação, e até em muitos casos um pouco de “sorte” para que o livro deslanche e se torne possivelmente um best-seller. Muitos autores como Stephen King e John Green já disseram ter seus manuscritos rejeitados por algumas editoras até conseguirem publicá-los, porém o número de rejeições aumenta quando as autoras entram na lista.

Grandes nomes da literatura mundial como J.K Rowling, autora da saga Harry Potter que vendeu mais de 400 milhões de exemplares e foi traduzido para 73 idiomas, sofreram com a descriminação feminina no mercado, e a escritora contou em algumas entrevistas que teve o primeiro livro recusado por 12 diferentes editoras, até finalmente conseguir publicar o que seria uma febre mundial que percorre gerações.

Agatha Christie, considerada a maior romancista da história, tendo vendido 4 bilhões de cópias de suas obras ao redor do mundo, foi rejeitada por seis editoras até finalmente ter seu primeiro livro publicado, livro este O Caso Misterioso de Styles, que vendeu apenas 2 mil cópias. A autora precisou de 6 anos e 3 livros lançados para finalmente começar a receber o destaque que merecia.

Estas não são histórias isoladas, e a grande maioria das mulheres que estão presentes atualmente no meio literário passaram por experiências no mínimo desgastantes para atingirem o sucesso, algo que para os homens vêm com muito mais facilidade.

Questões ao longo dos anos

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, 70% dos livros publicados pelas maiores editoras do país entre 1965 e 2014, foram escritos por homens, além de até 2020 apenas 8 mulheres ocuparam cadeiras na Acadêmia Brasileira de Letras, sendo que a primeira delas Rachel de Queiroz, ingressou somente 80 anos após o surgimento da Academia.


No contexto histórico como um todo a mulher não era considerada capaz de escrever ou até mesmo de ler, não era para aquilo que ela deveria existir pelo menos. Devido a isto durante boa parte da história, autoras usaram pseudônimos na publicação de seus livros, algo que acontece até os dias atuais, mesmo que com uma frequência menor.

Anos atrás uma mulher publicar um livro era motivo de vergonha e a mesma passava a receber críticas da família e da sociedade, afinal seu lugar era cuidando do lar e do marido, escrever era visto como perda de tempo para uma mulher. Por esse e outros motivos muitas autoras preferiam se manter anônimas na publicação de suas obras, afim de ficar longe das possíveis represálias, além de garantir maiores chances de seu livro seu publicado e consequentemente comprado.

Se nos dias atuais não é fácil para uma mulher ter seu livro publicado, anos atrás a dificuldade era ainda maior, já que grande parte das editoras não queria publicar as obras apenas por serem escritas por autoras, e mesmo que fossem lançados os livros não tinham bons resultados, pois a descrença no intelecto feminino era ainda maior.

Grandes autoras como Jane Austen e as irmãs Brontë são nomes que inicialmente decidiram ficar no anonimato e utilizavam nomes masculinos para publicar suas obras, por medo de sofrerem algum tipo de consequencia por não estarem cumprindo seu "papel" como mulher devidamente.

Preconceitos e mudanças

O Brasil não fica de fora dessa desvalorização na literatura, e autoras renomadas como Clarisse Lispector e Cora Coralina, recebem fora do país muito mais prestígio e reconhecimento.

Diferentemente de outros lugares, aqui não se tornou comum o uso de pseudônimos e a partir do século 19 mulheres brasileiras já escreviam e publicavam suas histórias sempre que conseguiam, mesmo que a leitura e escrita recebesse um incentivo desproporcional entre classes altas e baixas.

Contrariando a sociedade que não achava necessário alguém como ela ao menos saber ler e escrever, Carolina de Jesus, uma das maiores autoras brasileiras publicou em 1960, O Quarto do Despejo, obra que retrata a vida em uma favela paulista, escancarando as condições sociais e dificuldades encontradas ali. O livro se tornou um sucesso nacional e internacional e continua sendo uma leitura atual e imprescindível.

 Nova geração de autoras e incentivo à leitura

Atualmente o preconceito para com as mulheres autoras chega em doses menores, mas não é inexistente. Mesmo que consigam (com dificuldade) ter seus livros publicados, escritoras de todos os lugares sofrem com a descredibilização intelectual com suas obras. Algo que afeta todos os gêneros literários, quando as mesmas tem seus lançamentos nichados como “livros para mulheres” mesmo que estejam falando sobre um fato da história mundial, por exemplo, além de ter seu conhecimento sobre o assunto colocado a prova.

No entanto, muitas autoras continuam insistindo em provar seu valor e acabar com esse desincentivo a escrita feminina. Autoras como Carla Madeira, Aline Bei, Pilar Quintana, Rupi Kaur, Bell Hooks, Chimamanda Ngozi Adichie, Han Kang, Taylor Jenkins Reid entre tantas outras mostram a potência da escrita e da forma incrível que as mulheres contam histórias, conquistando a admiração e o respeito que merecem no mercado, além de trazer jovens e adultos para o universo da literatura.

Nas redes sociais diversos clubes do livro que incentivam a leitura de obras escritas por mulheres são feitos e divulgados com frequência, com o intuito de apresentar para aqueles que ainda não conhecem as tantas histórias de qualidade de autoras atuais ou clássicas. Um exemplo deles é o Leia Mulheres um incrível clube do livro fundado em 2015 e inspirado no #readwomen2014, movimento que percorreu as redes sociais incentivando todos a lerem mais mulheres. O Clube do Livro Obvious que em cada temporada escolhe um livro por mês escrito por uma mulher para ler em conjunto e debater sobre a obra posteriormente também é uma ótima forma de se aprofundar mais em trabalhos de diversas autoras.

Existem muitas escritoras fenomenais que infelizmente não receberam os méritos e a divulgação que deveriam, mas que tem sido comentadas com uma maior proporção por jovens leitoras que percebem a potência que existe na literatura feminina mundial, e que merecem ter suas obras consumidas e reconhecidas por um número muito maior de pessoas, mostrando que as mulheres são capazes e merecedoras, de estarem e ocuparem todos os lugares imagináveis.


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