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25/09/2023 às 08h56min - Atualizada em 25/09/2023 às 09h41min

Simon Gurney: um australiano entre os Manáos

Paulo Marques Pinto - labdicasjornalismo.com
Imagem: Paulo Marques Pinto.
No jornalismo, a pauta é um instrumento essencial para a construção de uma boa matéria. Seja um roteiro desenvolvido na redação, com as orientações que o repórter deve seguir, seja um assunto importante para a população, seja algo a despertar curiosidade.

Esta história começa com um story do Instagram. O assunto é a reabertura de uma ótica localizada na rua Saldanha Marinho, no Centro de Manaus (AM). O letreiro indica algo pomposo, mas dentro daquela loja predomina a informalidade típica do comércio popular. Parece que houve uma reforma interna.

No dia 1° de abril, às 10h, aquela ótica receberia a visita de um rapaz australiano que surpreendeu o povo por sua fluência no português. Para mim, seria a melhor pauta.

Eu saí da minha "garagem" por volta das 9h30 e, sem erro, encontrei a mencionada ótica. Na entrada, estava um artista com seu teclado, interpretando a trilha sonora do povão. Por causa da aglomeração, eu precisei aguardar alguns minutos na frente da loja, conforme a orientação de um funcionário. Isso é seguir a regra do jogo e mais um temido teste de paciência.

Mais de uma hora depois, eu volto para a ótica e dou de cara com o estrangeiro que conquistou o Brasil: Simon Gurney. O cara que aparece nas redes sociais é o mesmo na vida real. Ele me impressionou com sua humildade e bom humor.

Olhos azuis, sorriso brilhante e cabelos castanhos que, expostos ao sol, mudam para loiros. Estava em trajes despojados: uma camisa polo da Seleção Brasileira de Futebol na cor azul, bermuda "cor de areia" e tênis branco. Um visual adequado ao clima tropical. 

Porém, como ele se adaptou ao nosso país? A história começa do outro lado…

Simon veio de Brisbane, capital do estado australiano de Queensland. Trabalhava como caminhoneiro para pagar as duas faculdades que não concluiu: Ciências da Computação e Administração.

No Natal de 2016, enquanto convivia com emigrantes brasileiros, decidiu conhecer melhor a nossa cultura, tão rica e diversificada. Passou seis anos aprendendo a falar português enquanto estudava em Sydney. Todo esse esforço revela seu lado empreendedor. Ele criou o aplicativo Prosa, cujo método de ensino da língua inglesa é inspirado em conversas reais.

Em novembro de 2022, o gringo chegou ao Brasil a partir de São Paulo (SP), percorreu o Sudeste e parte do Centro-Oeste, Acre, Rondônia e Roraima, sempre na estrada. Mas ficou surpreso ao saber que o Brasil e a Austrália são semelhantes quanto ao clima e ao estilo de vida descontraído do povo.

Ao conhecer o Amazonas, apaixonou-se pelo X-caboquinho, um lanche diferenciado em cujo pão aberto entram pedaços de tucumã, banana frita, queijo coalho e manteiga. Para registrar essa paixão, ele fez uma tatuagem na barriga:

"X-caboquinho é vida! Agora, eu vou me lembrar do X-caboquinho, independente do lugar onde estiver no mundo inteiro."

O gringo faz questão de registrar suas andanças nas mídias sociais. No Instagram, por exemplo, alcançou cerca de 390 mil seguidores. Isso chamou a atenção de três jovens engraçados: Daniel Maia, Bruno Frota e seu assistente, o cinegrafista amador Daniel Aniceto. Eles formam o "trio da Compensa" e o ajudam a se desinibir. Assim, levam mais de 79 mil seguidores a risadas sem fim.

Três meses depois, Simon saiu de Manaus e prosseguiu sua jornada pela Amazônia, visitando os estados do Pará e Amapá. Mas nem tudo foi alegria. Ele perdeu o prazo para renovar o visto de estrangeiro e, por isso, teve de voltar para a Austrália. Além disso, descobriu não ter vocação para fazer comédia, mesmo acompanhado dos amigos que conheceu na Compensa.

Recentemente, ao lado da namorada, a maquiadora Jéssica Oliveira, partiu para mais uma viagem, desta vez para a vizinha Nova Zelândia, inclusive se arriscando em um dos vulcões inativos.

Eu confesso que não uso gírias regionais, nunca experimentei o X-caboquinho e tampouco nadei com botos. No entanto, saber que um estrangeiro vem para o Amazonas, conhece as belezas naturais e se adapta facilmente ao calor e à cultura regional é surpreendente para mim. Tanto que ele decidiu se tornar oficialmente manauara.

Simon, nossa casa sempre vai ser a sua casa!

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