Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
22/09/2023 às 12h47min - Atualizada em 22/09/2023 às 12h31min

Procrastinação não é preguiça

Emoções podem estar contribuindo ao protelar tarefas

Ana Beatriz da Silva Mariano - labdicasjornalismo.com
Foto: Unsplash

Recorrentemente associada à preguiça, a procrastinação é o ato de postergar alguma tarefa. Ligada à problemas de regulação emocional, de acordo com o Departamento de Psicologia da Universidade de Carleton, no Canadá, essa relação entre procrastinação e preguiça não se justifica, uma vez que, segundo a psicóloga Fernanda Amorim “a procrastinação geralmente está associada a fatores tanto cognitivos quanto emocionais do indivíduo, e que por vezes não temos acesso”.

Para a professora da Faculdade de Psicologia da UFJF, Fabiane Rossi, além da dificuldade em regular as emoções, a procrastinação “pode estar associada a aspectos como autoeficácia, impulsividade, baixo autocontrole e organização, distratibilidade e as crenças que o indivíduo tem sobre si e sobre a tarefa a ser realizada”.

Em um mundo cada vez mais acelerado e a pressão por resultados gerando cargas de estresse, muitas pessoas não sabem ou não conseguem impor limites, prontificando-se a fazer tudo o que lhes aparece à frente, e com inúmeras responsabilidades em suas mãos apresentam dificuldade em separar as tarefas urgentes das importantes, o que acaba se tornando um peso na rotina, especialmente quando a procrastinação se torna um hábito. Junto a essa sobrecarga de tarefas vem o mau humor, e quando uma atividade gera irritação, a tendência é tentar melhorar esse humor, ao invés de realizar a tarefa.

Fernanda explica que “ao longo da vida, criamos inúmeras estratégias aliviadoras de sensações desagradáveis. […]. A procrastinação, apesar de disfuncional, pode ser considerada uma estratégia para regular àquilo que se sente, caracterizado como sendo desconfortável pela pessoa”. E nesse momento, tentando “consertar” esse mau humor, tarefas que geram bem estar são passadas à frente daquelas que realmente deveriam ser feitas. A internet se torna o paraíso para o procrastinador. Perdem-se horas em frente a tela do celular enquanto a tarefa, mesmo que seja urgente, é adiada, e então inicia-se um círculo vicioso: quando uma atividade gerar desconforto, tarefas que trazem bem estar serão feitas primeiro.

A procrastinação também pode vir do desânimo e da falta de motivação para se dedicar a uma rotina e pode levar à depressão, ansiedade e estresse, afetando não só a saúde mental, mas também a saúde física. Também pode vir da falta de interesse na atividade e até mesmo da dificuldade em organizar as tarefas a serem feitas. “Beck já dizia que o que causa sofrimento nos indivíduos não é a situação em si, mas, como eles interpretam essa situação. Sendo assim, a maneira como determinada situação é interpretada, pode ser um outro motivo que leve o indivíduo a ter respostas emocionais e comportamentos diversos”, explica Fernanda.

Um dos maiores problemas educacionais e tendo sido agravada pela pandemia, a procrastinação exige esforço e vontade para ser superada. O primeiro passo é se conhecer melhor, entender suas motivações e pensar “por que deixo essa tarefa para depois?”.

Compreender seus medos, angústias e inseguranças também é um passo importante para combater a procrastinação. Mesmo tarefas que trazem contentamento podem ser adiadas por medo de uma sensação que essa atividade pode gerar. É o que a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, pesquisadora do Departamento de Psicologia Social da USP (Universidade de São Paulo), explica: "ela não quer lidar com aquilo. Às vezes, a pessoa tem que fazer até uma tarefa que gosta, mas se aquilo representa algo que traz medo ou insegurança, ela vai acabar fazendo outras coisas na frente". Scardua ainda completa, dando o exemplo do perfeccionismo que "impede que a pessoa conclua os processos e submeta-os para avaliação do outro. Assim, ela evita entrar em contato com essas emoções".

Fernanda acredita que a organização e o planejamento de tarefas através de um cronograma ou estabelecendo prioridades podem ser valiosas na hora de fazer com que a procrastinação deixe de ser um hábito. A psicóloga também comenta da importância de respeitar os próprios limites e de como o auto monitoramento pode ser eficaz, sempre listando situações onde ocorreram procrastinação ou não, avaliando as consequências de cada uma delas. “Essa prática de avaliar perdas e ganhos pode se tornar um bom motivador para aqueles que tem o hábito da procrastinação”, pontua Fernanda.

Um descontentamento em um âmbito da vida pode afetar todos os outros. Buscar informações e ter um profissional capacitado para orientar e acompanhar é importante na hora de combater a procrastinação.


Referências:

CRUZ, Amanda. Procrastinação não é preguiça: sentimentos podem estar te atrapalhando. UOL Viva Bem, 07 jun. 2019. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/0 6/07/procrastinacao-nao-e-so-preguica-sentimentospodem-estar-te-atrapalhando.htm. Acesso em: 19 set. 2023.

CALDEIRA, Ana Rízia. De que forma a procrastinação está ligada ao nosso comportamento? MBA USP/Esalq, 19 mai. 2022. Disponível em: https://blog.mbauspesalq.com/2019/02/07/procrastinacao -ligada-ao-comportamento/. Acesso em: 19 set. 2023.

UFJF notícias. Procrastinação é apontada em pesquisas como principal mal entre estudantes. 27 abr. 2017. Disponível em: https://www2.ufjf.br/noticias/2017/04/27/procrastinacao-e-apontada-como-principal-mal-entre-estudantes/. Acesso em: 19 set. 2023 

MONTEIRO, Lilian. Procrastinação: será uma barreira emocional? Jornal Estado de Minas, 26 dez. 2021. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/bemviver/2021/12/26/interna_bem_viver,1333137/procrastina cao-sera-uma-barreira-emocional.shtml. Acesso em: 19 set. 2023.



 


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »