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26/09/2023 às 01h21min - Atualizada em 26/09/2023 às 18h00min

Plágio ou Inspiração? Quais os limites da influência de um artista?

A linha tênue entre inspiração e plágio é um tema recorrente no mundo da música. Nesse texto vamos entender um pouco mais sobre como isso funciona.

João Lameira - Revisado por Nildi Morais
Led Zeppelin, uma das bandas mais polêmicas quando o assunto é plágio; (Foto: Reprodução/Alece)

Todos nós já ouvimos alguma música que instantaneamente nos lembrou de outra, certo? Bem, a inspiração é a matéria prima de obra de arte e todo artista se alimenta de referências para construir o seu próprio trabalho - e não é diferente na música. Mas qual seria o limite dessa inspiração? Em que momento uma referência se torna uma cópia? Vamos conversar sobre isso neste artigo.
 

O plágio é uma pauta importante em diversas áreas do conhecimento. Na música, quando os limites da referência e inspiração são extrapolados ao que nós entendemos como uma cópia, nós damos o nome de plágio. E mais do que sair feio para o artista perante o público, isso pode dar muitas dores de cabeça para ele na justiça.

 

Mas para entender o que é um plágio, vamos recorrer ao o art. 5º da Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98). Segundo ele, “a composição, melodia ou música pode ser considerada plágio se ela for uma cópia fiel ou dissimulada no todo ou em parte de uma outra composição/música, ou quando utiliza-se uma base criativa sem autorização.”

 

E, assim como tudo na arte, o plágio não é algo que possa ser definido preto no branco. Existe uma área cinza que faz com que muitas brigas por direitos autorais se arrastem ao longo dos anos até que um plágio seja provado ou não.

 

É de conhecimento comum que, para caracterizar o plágio, o compositor da obra original deve conseguir comprovar que um certo número de compassos (sete ou oito, dependendo da fonte) foi utilizado, além de outras estranhas coincidências que um outro compositor possa ter utilizado - repetições de harmonias, estrutura de acordes, etc.

 

Sample x Plágio

 

Nesse texto ainda vamos abordar alguns casos interessantes onde foram alegados plágios e outros tipos de “inspirações”. Mas, antes disso, vamos abrir aqui um parêntese para falar sobre os samples.

 

Você já ouviu aquela flautinha de Bum Bum Tam Tam em alguma outra música? Provavelmente sim, pois ela é uma composição clássica de ninguém menos que Johann Sebastian Bach, que foi “sampleada” para essa música.

 

O sample nada mais é do que a utilização de um trecho de uma música em outra. Mas atenção: isso não é um plágio! Esse trecho é utilizado como parte de uma composição totalmente nova e normalmente é feito com a obtenção dos direitos autorais da música original, comum acordo com compositor ou em cima de músicas de domínio público, como foi o caso de Bum Bum, Tam Tam.
 

Nem os gigantes estão livres dessas acusações!

 

Diversos são os casos envolvendo grandes nomes e acusações de plágio. Um dos casos mais famosos no mundo do rock, o Led Zeppelin já enfrentou diversas acusações de plágio em sua história. Por exemplo, os autores da clássica "Stairway to Heaven" são Jimmy Page e Robert Plant. Mas os compositores já foram acusados e tiveram que responder na justiça se haviam roubado partes de uma música chamada “Taurus”, da banda Spirit, em 1968 (a música do Led Zeppelin e de 71).

 

O guitarrista brasileiro Mozart Mello, diretor pedagógico da Escola de Música e Tecnologia de São Paulo, afirma que "os primeiros acordes são idênticos, mas após quatro compassos, a música do Led Zeppelin segue um caminho diferente". Dessa acusação a banda acabou absolvida.

 

Os gigantes do heavy metal do Metallica, por sua vez, possuem também algumas semelhanças com outras músicas em seu catálogo. A mais icônica delas é uma “inspiração” em David Bowie que acabou em uma das músicas mais famosas da banda, a clássica Master of Puppets. Entretanto, nesse caso, a banda nunca tentou esconder, como já afirmou o guitarrista Kirk Hammet:

 

"E se você tiver interesse em cavar mais fundo o quanto ele (Bowie) foi influente, basta ouvir a música 'Andy Warhol' e você vai compreender o que eu digo. Aquela música teve uma influência muito grande em Cliff Burton, assim como o álbum 'Hunky Dory'. Ouça a música e veja se você descobre".

 



Já os pioneiros do Deep Purple podem ter buscado inspiração para a sua música mais famosa aqui no Brasil! Isso mesmo, apesar de o guitarrista Richie Blackmore afirmar que a inspiração para Smoke on The Water vem da música clássica, a semelhança do principal riff com essa música de Carlos Lyra é bem clara:

 
As semelhanças entre uma música de Bossa Nova e o clássico do Deep Purple. (Reprodução: YouTube)
 

Para fechar, ainda em terras tupiniquins, o caso de “Taj Mahal”, de Jorge Ben, que foi “homenageada” por Rod Stewart em “Do ya think I’m Sexy”. Lançado em 78, o hit de Stewart contava com um trecho com uma melodia muito parecida com a música de Jorge Ben, lançada seis anos antes.
 

Matéria do Fantástico em 1979 sobre o caso de Taj Mahal. (Reprodução: YouTube)

 

Embora ele nunca tenha admitido o plágio de forma intencional, Rod Stewart, que acabou sendo declarado culpado afirmou em sua autobiografia que foi tudo “involuntário”.

 

“Certo. Tive que dar a mão à palmatória. Mas claro que não cheguei assim no estúdio e falei: ‘vamos usar a melodia de ‘Taj Mahal’ no refrão e azar; o compositor mora no Brasil, então nunca descobrirá’. Só que eu tinha ido pro carnaval do Rio, em 1978, com Elton John e Freddie Mercury. E lá duas coisas significativas me aconteceram. Me apaixonei por uma estrela de cinema brasileira lésbica, que não deixava me aproximar dela. Depois, ‘Taj Mahal’, de Ben Jor tocava o tempo inteiro, foi relançada naquela época, e obviamente a melodia alojou-se na minha memória, emergindo quando comecei fazer a música. Puro e simples plágio inconsciente. Abri mão dos royalties, me perguntando se ‘Da Ya Think I’m Sexy?’ era meio amaldiçoada.”

 

A questão é que a distinção entre plágio e coincidência musical muitas vezes se resume à intenção do artista. Dessa forma, acaba cabendo aos juízes decidirem se houve ou não uma intenção de se beneficiar ao utilizar a música de outro, e, se for o caso, aplicar as devidas punições. 

 

No mundo da música, as semelhanças entre obras podem ocorrer, mas a ideia de que uma música possa coincidentemente se assemelhar a outra, considerando que tudo tem origem em apenas sete notas musicais, acaba realmente levantando questionamentos sobre a criatividade e a inspiração por trás das composições.

 
 

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