Era uma quinta feira de muito sol e calor no Recife, sol "queimando no quengo" e eu, só pensava em comer algo pra refrescar. Eis que parada no sinal, agoniada com o suar e esperando pra atravessar olhei adiante e avistei um casal comendo algo com muito gosto. Deu uma vontade danada de comer também; era um "negoço" roxo pastoso, parecia ser bom e gelado. "Mai menino, vou provar", pensei. Sem pestanejar, fui de encontro ao desconhecido sedenta e curiosa.
Chegando, lá perguntei:
- Boa tarde, eu gostaria de comer a mesma coisa que aquele casal ali…
- Boa, então, um açaí! com granola ou tapioca? Perguntou o garçom com rapidez.
Antes de responder pensei: “tapioca? junto com sorvete? Oxente… açaí é doce ou salgado?” Até que finalmente falei: Granola, por favor!
Enquanto esperava meu pedido, o nome do lugar - "Casa do Pará" - me fez pensar que nunca tinha provado algo típico daquela região…Antes de mergulhar em minhas divagações , o garçom coloca na mesa a cumbuca com o dito cujo "negoço roxo” chamado açaí.
- "A cara é ótima". Falei em voz alta pra mim mesma, enquanto o garçom se afastava da mesa.
Ao provar, no meu imaginário, deu pra ver claramente a linha tênue do detestar e amar dissipar-se formando algo único, autêntico. Nas primeiras colheradas, notas amargas, forte sabor lembrando terra (surpreendentemente bom... quem diria) seguida de um leve ranço no final; o "travar” na língua como o do caju só que diluindo-se e sumindo gradativamente enquanto se repetia o amargo, doce, ranço, amargo doce... É o equilíbrio de sabor perfeito pra comer uma "tirrina” do mesmo e não abusar e lambuzar-se literalmente.
Ao terminar:
- Garçom, por favor! Levantei a mão chamando-o
Ele olhou e fazendo um gesto de cordialidade com a cabeça veio em minha direção, antes mesmo de chegar ao alcance da mesa interrompi o possível: -"Pois não?"
_ Qual a maior cumbuca de açaí que vcs tem? Quero 5 pra levar! Que horas fecha hoje? E amanhã? abre que horas?