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12/04/2019 às 11h11min - Atualizada em 12/04/2019 às 11h11min

Os "meninos do trapiche" de Jorge Amado

Os sonhos e as dificuldades dos Capitães da Areia

Jerusa Vieira
Com certeza, quem lê Capitães da Areia consegue sentir algo pelos "meninos do trapiche". Mesmo nos momentos em que eles praticam furtos, são presos, ou agem com violência, o leitor torce para que tudo dê certo para os garotos. Talvez por saber que as oportunidades foram poucas e que cada um tem um sonho a ser alcançado ou uma habilidade que pretende desenvolver.

Sim, a maioria deles tem uma esperança para o futuro! O líder do grupo, Pedro Bala, aspira por ser como seu pai, um sindicalista que lutava pelas causas dos trabalhadores, através de greves. Professor é o inteligente e estudioso do bando, ele sabe ler, escrever e até conta as histórias dos livros para os outros garotos. Volta Seca admira Lampião e sonha um dia fazer parte do bando do cangaceiro. Pirulito já é mais religioso, de fé. Ele acredita que vai abandonar o roubo e seguir a vida como padre. Gato é o mais bonito do grupo e o mais trapaceiro também. Ele se apaixona por uma prostituta, Dalva, se torna o cafetão dela e acabam viajando para Ilhéus.

Há outros personagens tão importantes quanto esses citados, como Sem Pernas (que se tornou manco de uma perna por policiais), João Grande (o maior e mais corajoso do bando), Boa Vida (que se contenta com o pouco), Querido-de-Deus (o capoeirista) e Dora, que apareceu no meio da história e se torna como uma mãe pra os garotos e uma mulher para Pedro Bala. Com Dora alguns deles têm o primeiro contato de carinho, afeto e cuidado.

Durante a narrativa é apresentado o dia a dia dos Capitães da Areia e a forma como eles buscam a sobrevivência. Furtos, engano, fuga da policia, brigas, fazem parte da vida dos meninos, que vivem em um trapiche abandonado, numa praia da Bahia, sendo ajudados somente pelo Padre José Pedro e pela mãe de santo, D. Aninha. Nas mídias, eles são apresentados da forma mais marginalizada possível, causando um terror exagerado na comunidade. Quem vê as notícias sobre eles não conseguem imaginar que, por baixo de toda a capa de perigo, há um passado triste marcado pela morte ou abandono dos pais, pela humilhação e pela falta de oportunidades na educação e na sociedade.

O que podemos ver nesse livro é o retrato da realidade de muitos jovens e crianças, que por algum motivo as portas da educação ou de uma família fecharam para eles e o que lhes restou foi o frio das ruas e o calor da adrenalina no momento do crime.

Editado por Millena Brito
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