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25/04/2020 às 12h56min - Atualizada em 25/04/2020 às 12h56min

Indústria musical busca alternativas para produções durante quarentena

Divulgação de álbuns recentemente lançados se concentra no meio digital

Ana Beatriz Motta - Editado por Letícia Agataa
Reprodução/ Instagram
Assim como muitos setores, a indústria cultural vem se adaptando às consequências da pandemia ao redor do mundo. O cinema foi um dos primeiros a sentir o impacto com o fechamento de salas, adiamento dos lançamentos mais aguardados de 2020 e pela preferência por estreias nas plataformas de streaming. Por outro lado, o mercado fonográfico, que já apresentava queda nas vendas físicas e dependia dos serviços de streaming de música, também precisou buscar novas saídas.

Artistas e gravadoras do mundo inteiro priorizaram o adiamento de álbuns inéditos e o reagendamento de turnês. Lady Gaga, por exemplo, anunciou em suas redes sociais que o lançamento de “Chromatica” seria adiado para outra data ainda em 2020, assim como os shows de sua residência em Las Vegas, que aconteceriam em abril e maio deste ano. “Esse é um momento tão agitado e assustador para todos nós, e enquanto eu acredito que a arte é uma das coisas mais fortes para fornecer alegria para momentos como esse, para mim não parece certo lançar esse álbum em meio a essa pandemia global”, declarou a estadunidense.

O primeiro single, “Stupid Love”, já havia sido lançado em fevereiro e “Chromatica” seria o sexto álbum produzido por Lady Gaga após “Joanne” (2016) e a trilha sonora de Nasce uma Estrela, que rendeu um Oscar de Melhor Canção Original. O disco contará com participações de Elton John e Ariana Grande.

A cantora pop ainda afirmou que havia planejado várias surpresas para os fãs, como um set secreto no Coachella, festival que foi adiado para outubro, mas que irá compartilhá-las em breve. Outros álbuns como “To Die For” de Sam Smith e “Whoosh!” do Deep Purple também foram engavetados até que a pandemia seja solucionada.
 

Lançamentos durante a pandemia

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação


Foto: Divulgação
 
Alguns artistas sofreram vazamento de suas novas produções e precisaram antecipar o lançamento dos álbuns, como foi o caso de “Future Nostalgia”, da cantora britânica Dua Lipa e “111”, de Pabllo Vittar.

O sócio-diretor de conteúdo da agência apis3 play, Breno Kruse, diz que há uma discussão recorrente sobre se o fenômeno de vazamentos na indústria musical é prejudicial ou não. “O impacto que isso gera é principalmente no cronograma de divulgação, que acaba tendo que ser antecipado às pressas. O álbum não se torna um sucesso ou fracasso por causa disso. O que pode acontecer no máximo é ele ganhar uma mídia espontânea a mais e gerar oportunidade de exposição extra para o artista”, afirma Kruse.

Nesse contexto, Dua Lipa concentrou a divulgação de seu disco no meio digital com a participação na live da Amazon Music, envio de vídeos de apresentações das novas músicas para programas como Late Late Show e Tonight Show, com a participação virtual da banda e dançarinos. Em suas redes, a cantora pediu que seus fãs enviassem vídeos cantando o single “Break My Heart” para produzir um novo videoclipe.

“Existe uma perda de eficiência relativa, porque algumas ações como audições e shows de lançamento precisam ser canceladas. Os artistas vão concentrar todos os esforços de lançamento em redes sociais, YouTube, portais ou estratégias como parceria com influenciadores etc. Então, o que esperamos ver é um reforço ainda maior do investimento no digital e talvez algumas soluções criativas apareçam”, diz o especialista de marketing musical, sobre a divulgação no isolamento social.

De acordo com o sócio-diretor de conteúdo, os artistas podem gravar videoclipes em casa, como o último clipe do Vitão, fazer montagens no estilo live, usar imagens de arquivo ou animação, como os cantores Péricles e Fabio Brazza fizeram. “Além disso, hoje em dia o trabalho de estúdio pode ser feito remotamente mesmo em produções grandes (a Billie Eilish talvez seja o exemplo mais comum hoje em dia). Ou seja, o negócio de músicas gravadas vai continuar rolando”.

Uma solução inovadora de lançamento durante o isolamento social veio do rapper Travis Scott. O artista, que é uma das principais atrações do Lollapalooza deste ano, criou uma apresentação virtual no Fortnite, transmitida pelo Twitch e Youtube para divulgar seu novo single “The Scotts”. Segundo a empresa “Lightshed”, a performance do dia 23 atraiu cerca de 2 milhões de espectadores.

Lives

Reprodução/ Youtube

Reprodução/ Youtube


Foto: Reprodução/ Youtube
 
Um método de divulgação em evidência nesse momento são as lives. No Brasil, esse fenômeno ganhou magnitude pela estrutura elaborada e o uso desse recurso para arrecadar dinheiro. Breno Kruse afirma que para a comunicação digital, o ideal é somar todas as alternativas possíveis, mas que o ponto negativo das lives é a alta concorrência. Segundo ele, “as timelines das redes sociais funcionam como um leilão, onde todo mundo dá um lance pra aparecer pra cada usuário”.  

“Como nesse momento a live é a principal alternativa ao show, tem muito investimento em jogo, então ganha quem se planejar. Elas também se tornam uma fonte de receita, não só pelos streams, mas pela possibilidade de merchandising e patrocínio. Nesse ponto, nossos grandes artistas sertanejos dão uma aula de nível global. Como eles já têm um relacionamento muito maduro e não têm receio de se associar a marcas e produtos (entendem a música muito mais como negócio que como "arte pura"), estão aproveitando para rentabilizar”, continua.

No ranking mundial de recorde de audiência em lives no Youtube, a cantora sertaneja Marilia Mendonça lidera com 3,3 milhões de espectadores, seguido por Jorge e Mateus, Gusttavo Lima e a dupla Sandy & Junior, que arrecadaram mais de 1 milhão de reais em doações.

Já nos Estados Unidos, o festival online, One World: Together at home, que ocorreu no último sábado, organizado pela OMS e Global Citizen com a curadoria de Gaga, reuniu artistas como Billie Eilish, Celine Dion, Paul McCartney, entre outros, com o objetivo de levantar doações para o combate do coronavírus. A estimativa é que o festival transmitido em emissoras de 175 países e outras palatformas tenha arrecadado cerca de 127 milhões de dólares.

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