Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
14/07/2020 às 13h41min - Atualizada em 14/07/2020 às 13h28min

‘Em Nome de Deus’ apresenta apuração jornalística sobre o suposto médium, João de Deus

Série traz depoimentos de pessoas que tinham contato com João de Deus

Isabela Carvalho - Editado por Alinne Morais
Yasmim Pires e Marta Antunes Moura
Imagem: Reprodução/Globoplay
Zahira Lienike, Dalva Teixeira, Marina Brito, Camila Ribeiro, Deborah Kalume, Maria Rodrigues e Luana Schnorr. Todas foram vítimas de violência sexual por parte do suposto líder espírita, o João de Deus. A nova série documental da Globoplay, “Em Nome de Deus” dá voz aos tocantes relatos feitos por essas mulheres. Lançada no dia 23 do mês passado em streaming, a série apresenta o resultado de 18 meses de investigação jornalística.
 

Ao longo dos seus seis episódios de aproximadamente 55 minutos, a série desmistifica ideia de milagroso e de boa índole que tinha o João Teixeira de Faria, o João de Deus. Em dezembro de 2018 ele foi condenado pelo porte ilegal de armas de fogo e por crimes sexuais e em janeiro de 2019, por estuprar cinco mulheres. O chamado “charlatão” da doutrina espírita foi também apontado como chefe de uma organização criminosa em Abadiânia, no interior de Goiás.
 

A casa espírita de maior atuação do suposto médium foi a Casa Dom Inácio de Loyola. Foi em tal local que recebeu celebridades como Xuxa Meneghel, Marcos Frota, Grazi Massafera, Cissa Guimarães, Giovanna Antonelli e a apresentadora norte-americana Oprah Winfrey. 

 

Além de outros nomes famosos, a casa recebeu pessoas de todo o Brasil. Enfermos com câncer, HIV positivo, síndrome do pânico, depressão, paralíticos e com outras complicações de saúde buscavam amparo e cura nessa casa. 

 

Outros locais como o Arizona, no sudoeste dos Estados Unidos, e o Rio Grande do Sul também foram alvos de centros com trabalhos espíritas do suposto curandeiro. Porém, em ambos locais, ele acabou sendo proibido de exercê-las devido a denúncias de abusos sexuais.
 

Pedro Bial faz a criação e argumentação da série documental “Em Nome de Deus”  Imagem: Reprodução/Globoplay

Pedro Bial faz a criação e argumentação da série documental “Em Nome de Deus” Imagem: Reprodução/Globoplay

 

 

A presença do espiritismo no Brasil: práticas e divergências 
 

Mesmo com raízes na França, devido ao seu idealizador, Allan Kardec, o espiritismo possui popularidade no país. Sendo a terceira religião mais seguida, está atrás apenas do catolicismo e evangelismo segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Brasil, segundo o censo de 2010, 3,8 milhões se declaram espíritas e 40 milhões possuem proximidade à doutrina.

 

A doutrina espírita acredita na imortalidade da alma, onde a reencarnação é uma forma de evolução. Para essa filosofia, comentou a vice- presidente da Federação Espírita Brasileira Marta Antunes Moura, “a violência, manifestada sob qualquer forma, é doença do espírito. Ele terá de se reeducar e curar-se ao longo das reencarnações e nos estágios passados no plano espiritual, após a morte do corpo físico. Reencarnações serão marcadas por duras provas, pois o processo educador e de cura de enfermidades são sempre desafiantes”.

 

Tratamentos, passes, desobsessão, águas e alimentos fluidificados são exemplos de formas de atendimentos espirituais que podem levar o indivíduo à cura e ao seu bem-estar. Os médiuns, que são “intermediários” entre seres humanos e os espíritos, participam de tais acolhimentos. 

 

Segundo a vice-presidente da FEB, o trabalho mediúnico é um ato caridade. “A prática mediúnica espírita cuida para não ferir preceitos do Evangelho e igualmente a conduta moral e ética comentou Marta.

 

Na Casa Dom Inácio de Loyola, através de palestras e correntes de oração as compras de itens: medicamentos, água fluidificada e cristais energizadas eram encorajados. De acordo com a direção do centro espírita, todos eram abençoados por entidades e as as suas utilizações levariam a recuperação da saúde. Em contrapartida, afirma a vice-presidente “A FEB segue os preceitos determinados pela  Doutrina Espírita: a prática mediúnica é gratuita, em todos os aspectos e condições”.

 

A série como uma rede de apoio 


 

Em seus 6 episódios, “Em nome de Deus” apresenta na prática os conceitos como sororidade e coragem entre setes mulheres que foram abusadas pelo João de Deus. Cada uma possui uma história forte e de superação, carregando a dor de um trauma inseparável. 

 

A partir do relato da holandesa Zahira Lienike que ocorre toda a quebra de silêncio. No passado, vítimas como Dalva Teixeira (filha do João de Deus), Camila Ribeiro, Maria Rodrigues e a Marina Brito tiveram seus relatos silenciados. 

 

Idealizadora de um perfil no Instagram @feminismoaluzdoespiritismo, onde o foco é debater o movimento feminista, a doutrina espírita e a diversidade social, Yasmim Pires acredita que a série é fundamental. “É essencial no sentido de manter esse viés informativo. De modo a desconstruir essa ideia de que a mulher de alguma forma, é corresponsável, de mostrar como é uma situação difícil a ser enfrentada e denunciada” comentou a jovem.

 

“Na militância a gente briga por meios de informar mais as pessoas, até para elas identificarem abusos quando elas passarem, para um processo de aceitação menos difícil e buscar ajuda, seja no sentido de denunciar ou psicológica” disse a criadora da página Feminismo á Luz do Espiritismo

 

Em 2018, o 13° Anuário de Segurança Pública registrou mais de 66 mil casos de violência sexual. O número de vítimas do sexo feminino representa 82% dos casos. Devido a pandemia de COVID-19, João de Deus, que foi condenado a 60 anos por seus crimes, teve a prisão domiciliar concedida. O argumento de sua defensoria é que o duvidoso médium faz parte do grupo de risco do vírus e assim, necessita de isolamento social.





 

 

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »