O Vazio (The Hallow) é uma animação original da Netflix que chegou ao seu catálogo em 2018. Contendo um total de 10 episódios com 20 minutos em cada temporada, O vazio traz a história de três adolescentes que acordam sem memória em um mundo alternativo habitado por criaturas mágicas. Logo descobrem que esse lugar se trata de um jogo virtual e que para conseguirem voltar a realidade, será necessário enfrentar todos os desafios.
O interessante da animação é sua atmosfera de mistério. Na primeira temporada somos ambientados a todo universo ao mesmo tempo dos protagonistas. Devido a perda de memória dos personagens, a exploração do ambiente é conjunta a eles. Aos poucos vamos descobrindo os mistérios do jogo, o que ele é, como funciona, e a dúvida mais importante, como sair dele. Por causa de todo clima misterioso e da busca incansável para entender o que está acontecendo, O Vazio se torna uma ótima série para maratonar.
A sua premissa não é nova. Estar preso em um jogo virtual e buscar respostas para conseguir sair dele é uma fórmula que já foi trabalhada em outra animação, Sword Art Online. Comparar ambos se torna inevitável por causa das suas similaridades. Entretanto, O Vazio traz um aspecto inovador que o destaca: Seu tom misterioso. Enquanto em SWO os jogadores conhecem o jogo, o seu universo é algo já pré-estabelecido. Em O Vazio somos levados a conhecer o ambiente e sua funcionalidade ao lado dos personagens.
A primeira temporada da animação é bem amarrada e tem um final fechado. Porém, os produtores decidiram estender a história para um segundo ano. Sua nova temporada tenta repetir a fórmula da anterior, apostando em mais mistérios. Isso acaba sendo realizado de forma falha. Persistir em continuar uma história encerrada é problemático, e aqui, fica perceptível que está sendo forçado ao tentar extrair o máximo que pode da história.
Apesar dos problemas da temporada, é preciso ressaltar o tema importante que ela abrange: A segurança de dados. Os personagens descobrem que a empresa por trás do jogo fazia cópias ilegais dos dados de todos os jogadores. Em razão disso, o jogo possuí um mundo virtual paralelo com informações completas sobre suas vidas.
A animação aborda a temática de forma superficial, mas é o bastante para trazer algumas reflexões à tona. Apesar dos problemas na história, O Vazio traz uma reviravolta ao tentar, no mínimo possível, fazer uma discussão sobre segurança digital. Adam, Kai, e Mira , os protagonistas, se vêem diante da situação em que suas informações pessoais foram roubadas e usada para construir um novo mundo virtual, o lugar onde eles ficaram presos por acidente e estão tentando escapar. Assistir aos personagens lidarem com a situação e vê-los enfrentar dilemas pessoais em decorrência disso, nos leva à autorreflexão sobre a nossa própria segurança no ambiente virtual.
Apresentar tal tema na série foi uma bela escolha. Perante o momento em que vivemos, o debate sobre o assunto tem se tornado corriqueiro pelo globo. Desde os vazamentos feito pelo Snowden, em 2013, a discussão sobre dados pessoais na rede tem tido destaque. Atualmente, vemos isso tomar proporções cada vez maiores com a disputa entre EUA e China sobre o aplicativo TikTok e a rede de 5G.
Países por todo o mundo estão dando atenção à questão. O ambiente virtual está tão intrínseco em nossas vidas que se tornou algo inevitável pensar sobre a proteção de dados. Aspectos políticos e comerciais são o que movem o embate. De um lado tem-se políticos com anseios de usar e controlar as informações digitais a ganho eleitoral e a fim de soberania nacional diante do cenário global, e de outro lado, vê-se empresas e governos desejando controle sob as tecnologias e informações para ganho econômico.
Entre essa guerra sob o domínio digital tem-se o cidadão comum. O indivíduo que utiliza os recursos digitais em seu cotidiano e que está à mercê de qualquer influência ou decisão que venha acontecer diante o embate global. No fim das contas, o debate central é sobre esse cidadão e suas informações. Qualquer resolução que venha a chegar, o indivíduo comum é impactado diretamente.
Desse modo, a animação faz um acerto ao apostar nos dilemas pessoais das pessoas ao invés de uma abordagem mais abrangente. Com uma solução bem amarrada e feita às pressas, a recente temporada de O Vazio encerra com uma interessante reflexão, apesar dos problemas.
REFERÊNCIAS
NOLLA, Tiago. Crítica I O Vazio. Disponível em:<https://cinepop.com.br/critica-o-vazio-1a-temporada-netflix-e-a-metalinguagem-narrativa-250466> .Acessado em: 13/08/2020.
