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17/08/2020 às 21h22min - Atualizada em 17/08/2020 às 21h16min

Pesquisa mostra que turismo pode frear desmatamento na Amazônia

Apesar das evidências, região não tem infraestrutura para visitação

Helena Gomes - Alexandra Machado
Foto: Desmatamento/Incêndios na Amazônia (Gustavo Basso/Getty Images)

Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Brasília (UnB) em 2019 e publicada este ano mostrou que a visitação turística pode ser uma importante estratégia para a conservação da cobertura florestal do bioma Amazônia, localizado no norte do Brasil. 

  O desmatamento dessa região aumentou consideravelmente em apenas um ano. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que a área desmatada entre agosto de 2019 e julho de 2020 é de 9.205 km², o que equivale a seis vezes a cidade de São Paulo. Apesar das queimadas, agravadas pelo tempo seco, da agropecuária, do extrativismo madeireiro e dos assentamentos rurais, a região resiste, mas vem sofrendo a cada ano desde 2011. 

Segundo a pesquisa da UnB, o turismo traz benefícios como a conservação direta da biodiversidade, a diversificação da economia local de bens e prestação de serviços, o apoio financeiro às áreas protegidas por meio do pagamento de taxas e a valorização da cultura local. Essa conclusão foi baseada em uma regressão múltipla, combinada com a participação de variâncias, sobre séries de corte para as 91 microrregiões geográficas que compõem a Amazônia. 

Os pesquisadores Iara Lucia Brasileiro e Jefferson Lorencini Gazoni estimaram que, em 2015 - quando o desmatamento destruiu 7,6 mil km² -, o turismo evitou a supressão de 281,9 km² de florestas no bioma.  “Se não houvesse turismo na Amazônia, o desmatamento em 2015 teria sido 3,7% maior”, disse Gazoni.

O pesquisador fez ainda um segundo estudo, em que foram analisadas 78 unidades de conservação do bioma, uma amostra de 26% das unidades totais, que possuíam informações de desmatamento e de visitação turística. De acordo com Gazoni, “os resultados mostraram que, em 2017, a existência de visitação manejada em uma unidade de conservação representava uma redução de 26,8% na probabilidade de ocorrência de desmatamento da unidade”.

Esses dados são essenciais para que novas medidas sejam implementadas a fim de preservar o ambiente da região. No entanto, há alguns fatores que dificultam a prática das estratégias. 

A grande densidade florestal ainda existente na Amazônia dificulta o acesso a alguns locais. Além disso, embora  o monitoramento da cobertura florestal seja observado em tempo real, há carência de fiscalização e “grande pressão econômica, a nível nacional, das grandes empresas e latifundiários, articulando seus interesses”, segundo Gazoni.

A infraestrutura local também é um empecilho. Os fluxos terrestres são praticamente inviáveis, a oferta de hotéis, de equipamentos e de guias turísticos são baixos e há presença de doenças endêmicas, como a febre amarela e a malária, que prejudicam a imagem do turismo na Amazônia.

A pesquisa da UnB ainda aponta alguns impactos negativos que a visitação pública em áreas protegidas pode trazer. Entre eles estão a ocupação de áreas ecologicamente sensíveis, o surgimento e agravamento de conflitos sociais, a alteração e a perda das culturas locais, a maior emissão de carbono, a produção de lixo, as mudanças de comportamento da fauna e os prejuízos ou destruição da flora. 

“Cabe um planejamento adequado para maximizar os custos e os benefícios do processo de turismo. Na presença das condições adequadas para essa atividade, é preciso tomar bastante cuidado, porque com a demanda dos visitantes e a acessibilidade, o ritmo do crescimento pode se tornar grande e ficar descontrolado, causando danos ambientais”, afirmou Gazoni.

 

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