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28/08/2020 às 19h36min - Atualizada em 28/08/2020 às 18h40min

Argentina: O país do tango e da má gestão

A Argentina é o segundo maior país da América do Sul. Mas a sua economia é marcada por inúmeros momentos de crise. Como os nossos vizinhos chegaram a essa situação e o que eles podem fazer para sair?

Leonardo Leão - Editado por Camilla Soares
Crédito: Shutterstock
 A Argentina é o país do tango, do churrasco, do “superclássico” Boca e River, e também da inflação. Os nossos vizinhos possuem diversas características conhecidas no mundo inteiro, mas a sua fragilidade econômica é uma das principais. O país que já foi um dos mais ricos do planeta na virada do século XIX para o século XX, hoje sofre com um histórico econômico repleto de calotes, resgates e inflações.

 Sua economia é voltada para exportação, principalmente de produtos agrícolas. O PIB Nominal do país é de 509,2 bilhões de dólares e a inflação alcançou 59,8% no ano passado. Para o analista de risco político Gabriel Brasil, a agenda mais heterodoxia do atual governo, diminui a confiança de investidores, prejudicando a recuperação econômica do país.

Um histórico de fracassos:
 A politica argentina é marcada pela instabilidade, com golpes de Estado, ditaduras e muitos políticos populistas. Para Gabriel, as atitudes fiscalmente pouco responsáveis adotadas pelos governos argentinos durante décadas é um dos principais motivos pela fragilidade econômica do país. O analista destaca também, a vulnerabilidade da Argentina a choques externos, devido ao endividamento elevado em moedas estrangeiras.

 Segundo o Maddison Project, a Argentina tinha o maior PIB per capita do planeta em 1896. Apesar da desigualdade social, o argentino era sinônimo de riqueza, até mesmo na Europa.  O ponto de virada aconteceu em 1930, quando o país sofreu seu primeiro golpe de Estado. E atitudes como a estatização de empresas e os calotes na dívida externa, se tornaram comuns no país.

 Outro momento marcante aconteceu em 1946, quando Juan Domingos Perón chegou ao poder. Perón se tornou uma das figuras mais importante na história da política argentina. Ele foi o fundador de um novo movimento populista e nacionalista no país, o Peronismo. Este movimento cresceu, principalmente, entre as classes mais baixas. A política do país, desde então, foi dividida entre peronistas, anti-peronistas e militares, mas todos têm em comum, a má gestão econômica.

 O populismo se tornou a principal característica dos governantes argentinos. As ideias de austeridade foram colocadas de lado e substituídas por um imparável gasto público financiado pela emissão de divida. Com isso, a inflação monetária passou a se tornar cada vez mais comum na vida do argentino. Toda essa instabilidade gera um efeito de dolarização da economia, onde a moeda americana passa a ser uma unidade de referencia para os preços dos produtos consumidos no país. E assim surgiu uma relação de amor e ódio com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

 Com o aumento nos gastos do governo, o país passou a ter apenas duas opções, imprimir dinheiro e correr o risco de depreciar ainda mais sua moeda ou pedir ajuda ao FMI e aumentar sua divida externa. Para receber essa ajuda é necessário que o país esteja disposto a adotar algumas condições determinadas pelo FMI. A Argentina e o FMI mantem um ciclo que dura até hoje: o país entra em uma grave crise, pede ajuda ao fundo e logo em seguida da um calote, com um discurso populista de “combate aos especuladores”, os gastos do governo aumentam e a crise volta a crescer.

Crise Eterna:
 Atualmente, devido à pandemia do coronavírus, o atual governo decretou a quarentena mais longa do mundo, com uma duração de cinco meses até o momento. Mesmo que tenha evitado um numero maior de mortes, o isolamento vem causando instabilidade no governo de Alberto Fernandes e uma, já esperada, queda na economia do país, com uma baixa de até 16,5% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec), 57% da população do país devem entrar na linha da pobreza este ano.

 Os argentinos estão passando por uma forte crise econômica e social. A situação fiscal está entre as suas principais preocupações. No intuito de resolvê-la, a Argentina já recomeçou suas negociações com os seus principais credores para reestruturar cerca de US $ 65 bilhões em dívida externa. Gabriel destaca a importância da retomada da confiança dos investidores, principalmente os internacionais. Na opinião do analista, essa confiança pode contribuir para que o crescimento da economia do país na pós-pandemia fique menos dependente do Estado.

 Um dos principais motivos para essa desconfiança é as atitudes do atual governo do país. Como os controles de preços em diversos setores e a polemica nacionalização da empresa Vicentin. E também o projeto de reforma do Judiciário, que pode livrar Cristina Kirchner do processo de corrupção.

 Para Gabriel Brasil, é difícil fazer projeções em longo prazo em relação ao futuro da economia da Argentina, principalmente se considerarmos as fortes mudanças sofridas pelo país dentro de seu cenário político. Além disso, a eminente saída dos argentinos do MERCOSUL e a fuga de diversas empresas para os países vizinhos, como o Brasil, tornam seu futuro ainda mais incerto.

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