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03/09/2020 às 17h33min - Atualizada em 03/09/2020 às 17h21min

Como a cinoterapia tem influenciado positivamente na educação especial da cidade de Olinda em Pernambuco

O Bolinha de Pelo é um projeto inovador na rede pública de ensino que tem feito diferença no desenvolvimento motor, cognitivo e emocional da criança

Gabriella Loiola - Editado por Caroline Gonçalves
Foto: Arquivo do Bolinha de Pelo
A Cinoterapia ou Terapia facilitada por cães (TFC), é um método que utiliza o cão como co-terapeuta durante as sessões, acompanhados por profissionais da área. Os cães são preparados para estimular e facilitar o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional, pois os animais trazem ao ser humano tranquilidade e alegria tornando o momento mais prazeroso.

Dentro da cinoterapia existem várias categorias com focos diferentes, entre elas a educação assistida com animais, em que um psicopedagogo ou professor conduz a atividade. O projeto voluntário Bolinha de Pelo foi totalmente inovador na cidade de Olinda, onde pela primeira vez foi visto cães trabalhando com crianças com deficiência dentro de uma escola pública.

Projeto Bolinha de pelo
 
Amélia de Cássia Leôncio, conhecida apenas por Cássia Leôncio, é servidora pública e psicopedagoga da rede municipal de Olinda há 18 anos. Coordenadora e idealizadora do Projeto Bolinha de Pelo que está em atuação durante três anos e meio. Ela sempre gostou de cachorros e tem decorações espalhadas pela casa que deixam essa paixão bem a vista. “Eu digo que sou cachorreira” ela brinca. Três dos seus quatro cães participam do Bolinha de Pelo.  Max, Mel, Dom todos Goldens Retrivier e a cadela resgatada Luna são as estrelas da casa.

O projeto surgiu por uma necessidade de saúde de Cássia, que tem Lupus, e na época sentia dores por conta de uma necrose na cabeça do fêmur. Ela fez diferentes exames e só durante uma ressonância foi detectado o que estava acontecendo e teve que passar por uma cirurgia para colocar uma prótese. Cássia passou por um longo período de recuperação, em que usou cadeira de rodas, muletas e passou por fisioterapia.

Max participava das sessões de fisioterapia ao lado de Cássia. Ela percebeu que ele passou a ser mais calmo, perdeu o medo da cadeira de rodas e a acompanhava quando ela andava de muletas. Estimulando a melhora da dona.
A fisioterapeuta dizia ‘lá vem o meu auxiliar’ Tinha umas almofadas para eu fazer exercícios e ele colocava a patinha na almofada. Ela até registrou como começou o projeto porque foi como ele começou a interagir comigo, ela relembra.
Cássia, que estava readaptada na época e trabalhava na Divisão de Inclusão da Secretaria de Educação de Olinda, onde começou a pensar nos cachorros trabalhando com as crianças.
Só que eu não entendia nada disso, era só a vontade mesmo de fazer, relata. 
Ela escreveu o projeto e começou a pesquisar e foi nesse momento que conheceu os Cães Doutores – projeto que realiza a Atividade Assistida com Animais e a Terapia Assistida com Animais como formas de intervenções terapêuticas em instituições públicas de saúde de Pernambuco. Max já era adestrado e além dos cursos ela foi fazer um treinamento nos cães doutores, onde se tornou voluntária.
O Bolinha de Pelo é cria dos Cães Doutores. Hoje nós temos dez cães e nove deles são do projeto Cães Doutores. Esse projeto ajudou Cássia a colocar a ideia do Bolinha em prática e Max que foi o inspirador,  conta a psicopedagoga.
Não é um trabalho fácil e no início era tudo por conta de Cássia. Hoje, ela conta com o apoio da secretaria que disponibiliza um carro para o transporte dos cães, paga cursos de aperfeiçoamento para Cássia e compram materiais para as salas que ela atua. Inclui também camisas padronizadas do projeto para os voluntários e para as crianças.
Às vezes o crescimento é muito pequeno pra quem tá de fora, mas pra gente é muito grande, ela diz ao contar sobre o avanço das crianças que participam do projeto. Tudo é registrado através de fotos, vídeos e relatórios, além do relato de pais e professores sobre as conquistas alcançadas. Trabalhamos diversos tipos de transtorno, depressão, dificuldade de concentração e problemas emocionais. São atividades diferentes para cada caso e adaptando a idade do aluno, argumenta.
Cães co-terapeutas
 
Um cão para ser co-terapeuta precisa ter aptidão para o trabalho. São necessários dois perfis de cães para as atividades, mais centrados quando a criança tem muito medo ou problema motor e um cachorro com mais energia para trabalhar com crianças hiperativas.

As raças que tem 90% de aptidão fora o treinamento são Golden Retrivier e Labrador por terem características ideias para trabalhar como cães de assistência, com deficientes visuais, pessoas no com transtorno do espectro autista e pra pessoas com epilepsia. Outras raças e até vira latas podem participar se forem adestrados.
Tem raças que as pessoas tem medo. O projeto inovou trazendo um Budog americano e um Boxer, que muitos adultos confundiram com um Pitbull, mas as crianças aceitaram muito bem. O Boxer Sebastian e a Budog Fiona conquistaram os corações dos pequenos. São feitos testes de barulho para saber a reação do cão antes de leva-los a uma visita. Já aconteceu de crianças puxarem o rabo ou as orelhas e os voluntários terem que intervir, explica.
As atividades podem ser individuais ou em grupo. A maioria é em grupo para atender todos os estudantes. O projeto vai quatro vezes por mês na mesma escola. Dois dias de manhã e dois dias a tarde durante duas horas. As professoras da sala de recurso, especialistas em crianças especiais, Cássia que é psicopedagoga e o voluntário com o cão conduzem as aulas.
Não é um projeto barato pra quem é voluntário. O cão deve ter uma boa alimentação, estar sempre saudável e tomar banho antes das atividades. Os voluntários também precisam passar por treinamento para saber abordar o paciente e os cães devem ser treinados diariamente. É um trabalho que requer responsabilidade, afirma.
Extensão do projeto
 
No momento, o projeto Bolinha de Pelo só atua na cidade de Olinda em Pernambuco, pois Cássia é funcionária pública e, além disso, participa alguns dias por mês dos Cães Doutores.
Já fui a Recife a convite durante uma brecha, mas há uma longa lista de espera para visitas nas escolas. Já me procuraram de outras localidades, Jaboatão, Paulista, o Estado, mas eu não tenho braço pra isso, a coordenadora do projeto diz.
Hoje existem 16 salas de recurso em Olinda e o projeto só atende nove, porque não tem cães suficientes e nem todas as salas estão equipadas ou possuem estrutura física para receber o animal. A coordenadora do projeto tem cuidado para não sobrecarregar os cães. O mesmo cachorro não visita duas escolas no mesmo dia ou vai para as atividades dois dias seguidos e os animais geralmente têm as sextas-feiras livres para lazer.
No momento temos um único carro e está ocupado praticamente o mês inteiro. Eu incentivo pessoas de outros municípios a participarem. Um grande caminho é você querer, busque se especializar, faça cursos, ela incentiva.
 
Seja também um voluntário! Acesse os links abaixo e saiba como se juntar aos projetos.
Cães Doutores https://caesdoutoresrecife.wixsite.com/site/voluntario

Bolinha de Pelo https://www.facebook.com/bolinhadepelooficial
                             https://www.instagram.com/bolinhadepelooficial/



Referências: http://www.ffp.uerj.br/arquivos/dedu/monografias/2014/Marcella%20Cristina%20Pestana%20do%20Nascimento%20Silva.pdf

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