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30/10/2020 às 09h17min - Atualizada em 30/10/2020 às 08h54min

Arte, subversão e genialidade: 88 anos de Ziraldo

Criador de “O menino Maluquinho” completou 88 anos de idade no último sábado

Adélia Fernanda Lima Sá Machado - Editado por Bruna Araújo
Ebiografia, Toda Matéria, G1 Notícias
Imagem retirada do Google
Com a combinação dos nomes do pai Geraldo e da mãe Zizinha, nasce Ziraldo Alves Pinto, em outubro de 1932, na cidade de Caratinga, Minas Gerais. Que logo viria a se tornar um dos grandes nomes do mundo das tirinhas, com grandes sucessos e com algumas polêmicas. Em 2020, o artista completou 88 anos de idade e 40 anos de uma de suas maiores criações.

Ziraldo sempre demonstrou domínio no mundo do desenho, ainda criança, com 6 anos de idade, teve seu primeiro desenho publicado no jornal: Folha de Minas, demonstrando o talento e sucesso que viria em breve. Depois disso, não parou, com seus 22 anos de idade, em 1954, começou a trabalhar no jornal: Folha da Manhã, atualmente conhecido como: Folha de São Paulo, mas foi através do Jornal O Cruzeiro, que o cartunista ganhou popularidade, devido a notoriedade do jornal.

Mas de fato, sua popularidade como artista gráfico deveu-se a sua produção de 1960, com a revista: Pererê, primeira revista de quadrinhos e colorida escrita e desenhada por um autor só. A revista contava a história do famoso personagem do folclore brasileiro, o saci, suas aventuras, travessuras junto com sua turma na Mata do Fundão, uma floresta fictícia. A revista foi um sucesso estrondoso no país, mas durou apenas quatro anos, em 1964, a Ditadura Militar que comandava o Brasil, suspendeu sua circulação, a consideraram subversiva demais. E em 1975 foi relançada, porém sem tanto sucesso como da primeira vez.



Em 1963, Ziraldo ingressou no Jornal do Brasil. Nessa época, em plena ditadura militar, lançou os personagens “Supermãe”, “Mineirinho” e “Jeremias, o Bom”, homem atencioso, elegante, vestido com terno e gravata e que estava sempre disposto a ajudar os outros. O personagem marcou as charges fazendo críticas os costumes e o comportamento da época.



E é em 1980 que é criado uma de suas maiores obras-primas, “O Menino Maluquinho”, uma criança que vive com o amor de sua família e amigos (Julieta, Bocão, Carolina, Lúcio, Herman e Junim), Lúcio que dedica seu tempo para brincadeiras de rua, possui como características ser: brincalhão, fiel, amoroso e muito bagunceiro. Ele traz grandes lições para as crianças, como: união, amor e valorização da família. Ganhou diversas adaptações para a televisão e cinema, um deles foi lançado em 1995, onde recebeu o Prêmio da CNBB antes mesmo de ter sido lançado. No corrente ano, em setembro, sua criação completou 40 anos de história, um verdadeiro clássico da literatura infantil brasileira, são mais de 4 milhões de livros vendidos, com 129 edições diferentes publicadas em mais de 10 países, um grande sucesso que deve ser destacado. De acordo com o seu próprio criador, Ziraldo, o sucesso do “O Menino Maluquinho” deve-se exatamente por: ser um menino especialmente comum.





Ziraldo, seus personagens e sua importância

A importância dos personagens criados por Ziraldo para as crianças é inegável. Para Mario Cypriano, produtor de TV, as criações do artista possuem uma identidade cultural para quem tem contato com suas obras.

 As personagens criadas pelo Ziraldo são como nós. Conseguimos nos identificar com o menino maluquinho, por exemplo. Muitas das brincadeiras e situações que o personagem passa, nós também passamos ou imaginamos. As histórias trazem uma certa identidade cultural a qual também nos encaixamos.

Esse fator estreita laços entre os personagens e as crianças, o que faz toda a diferença, incentiva à leitura e influencia nos atos fora das obras.

Ao ser indagado como teve o primeiro contato com as obras de Ziraldo, Mario afirmou ter sido pela sua obra-prima mais conhecida entre crianças e adultos:

Pelo Menino Maluquinho. Na época, em que conheci, eu tinha quase a mesma idade do personagem. Me identificava e vivia as aventuras que o personagem vivia. Acho que as maiores lições que as obras do Ziraldo trazem são relacionadas à diversão e ao uso da imaginação.

Caso de racismo

Em 2010, o Conselho Nacional de Educação recomendava um conjunto de ações frente ao teor racista localizado na obra Caçadas de Pedrinho (original de1933), de Monteiro Lobato. O debate amadureceu nos meios de comunicação com elementos inéditos para o grande público auxiliando na flexibilização do juízo de valor. E eis que, enquanto a posição definitiva e oficial do MEC estava ainda sendo aguardada para encerrar o caso aberto lá atrás, surge a ação protagonizada pelo cartunista Ziraldo. Com o intuito de adiantar o fim da polêmica, o artista Ziraldo desenhou um bem vestido Lobato agarrando uma mulata de poucas vestes para a estampa de um bloco de carnaval no Rio de Janeiro.



Não fosse a provocação do tema, a livre expressão do cartunista tinha tudo para reacender os melindres acerca da representação da mulher negra. Não sendo suficiente, a imagem ficou mais polêmica com a voz, em off, do próprio Ziraldo, que afirmava:

 Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com uma mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha. Racismo tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com essa brincadeira de achar que a gente é racista.

 
Nesta imagem, ele coloca a mulher negra como um símbolo do Carnaval, no qual limita o corpo feminino negro a esta imagem, sem contar na sua afirmação destacada acima, que não minimiza, e sim maximiza o racismo no país.

Obras de Ziraldo

  • Flicts (1969)
  • Jeremias, o Bom (1969)
  • O Planeta Lilás (1979)
  • O Menino Maluquinho (1980)
  • A Bela Borboleta (1980)
  • O Bichinho da Maçã (1982)
  • O Joelho Juvenil (1983)
  • Os Dez Amigos (1983)
  • O Menino Mais Bonito (1983)
  • O Pequeno Planeta Perdido (1985)
  • O Menino Marrom (1986)
  • O Bicho Que Queria Crescer (1991)
  • Este Mundo é Uma Bola (1991)
  • Um Amor de Família (1991)
  • Cada Um Mora Onde Pode (1991)
  • Vovó Delícia (1997)
  • A Fazenda Maluca (2001)
  • A Menina Nina (2002)
  • As Cores e os Dias da Semana (2002)
  • Os Meninos Morenos (2004)
  • O Menino da Lua (2006)
  • Uma Menina Chamada Julieta (2009)
  • O Menino da Terra (2010)
  • Diário de Julieta (2012)

 





De fato, o cartunista, desenhista, jornalista, cronista, chargista, pintor e dramaturgo brasileiro, Ziraldo, tem uma grande importância no país e na vida de milhares de brasileiros, representa o país na escrita e na arte. Seus 88 anos são marcados de algumas polêmicas e de muitos sucessos também.




 


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