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12/02/2021 às 21h05min - Atualizada em 12/02/2021 às 21h01min

Estereótipos e preconceitos influenciam representatividade de mulheres gordas na moda

Apesar do crescimento da indústria plus size no Brasil, a desigualdade entre corpos plurais ainda é significativa

Ana Luiza Sousa Peixoto - Editado por Larissa Barros
Divulgação
Desde os séculos passados, os padrões de beleza sempre estiveram presentes como forma de pressionar as mulheres a se adequarem a uma determinada estética. Corpo magro, sem estrias e celulites, cabelo liso, pele sem imperfeições, cintura fina e barriga chapada são alguns estereótipos aos quais as mulheres são submetidas para se encaixarem na sociedade. 

Em seu livro
O mito da beleza, a jornalista Naomi Wolf, afirmou que o culto à beleza e à juventude da mulher é estimulada pelo patriarcado e atua como mecanismo de controle social para evitar que sejam cumpridos os ideais feministas de emancipação intelectual, sexual e econômica conquistada a partir dos anos 1970.

Para o melhor entendimento da transformação dos estereótipos ao longo dos anos, os quais cresceram e tornaram-se mais cruéis, a autora do livro A história da beleza no Brasil, 
Denise Bernuzzi de Santanna, explica que no raiar do século xx, a arte de ser bonita dependia apenas da boa escolha de vestidos, sapatos de couro, trajes engomados, penteados caprichados e do uso de silhuetas para tratar o volume corporal.

Já atualmente, para ela, a beleza, é, igualmente, submissão a cirurgias, aquisição de prazer acompanhado por despesas significativas, de tempo e dinheiro. De acordo com os resultados da pesquisa estética global realizada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) em 2018, o Brasil está em segundo lugar, entre oito países, responsável por 10,4% dos procedimentos estéticos feitos em 2017, perdendo apenas para os Estados Unidos
.
Eventualmente, a gordofobia, preconceito contra pessoas gordas, é uma das ramificações desta frenética pressão estética. No entanto, mais do que um comportamento, ela é uma questão estrutural, enraizada dentro da sociedade e caracterizada pela desigualdade de oportunidades e desrespeito propagados em diversos setores.



A vestibulanda de medicina,Mariana Oliveira Duarte, 19 anos, relata que a gordofobia se apresenta em diversos aspectos de sua vida, desde singelas opressões, como comentários de “seu rosto é tão bonito, porque você não emagrece um pouco”, até ela não caber em um assento muito estreito.

"Eu tento lidar com resiliência, é difícil às vezes, porque você luta muito para encontrar um padrão e conseguir se sentir bem consigo mesma e acaba se deparando com situações dessas. É complicado viver em um corpo gordo quando o estereótipo de ser uma mulher baixinha, pequena e frágil, circunda tanto a sociedade”, afirma a estudante.

                                          

Toda essa opressão estética velada em forma de ajuda, isolamento e comentários, colocam a mulher gorda no espaço de inferioridade. Maria Claudia Crvalle, psicóloga especializada em psicologia clínica, esclarece que o sentimento de inferioridade por causa da aparência pode despertar distúrbios nas pessoas. Além de problemas de autoestima ruim, podem desencadear problemas físicos, como transtornos alimentares, anorexia e a bulimia. 

Para o tratamento, ela conta que alguns métodos são utilizados para ajudar essas mulheres, como a terapia com trabalho de melhorar sua autoestima e o seu autoconhecimento.

 
“Para melhor aceitação do próprio corpo, a mulher tem que tratar sua cabeça, suas percepções, seus valores, aceitação, motivação para mudanças positivas, comportamentos que façam ela se sentir melhor e cuidar do corpo também”. Mariana, acredita que uma das formas que começou a se sentir representada, foi tomando consciência das pessoas em que ela seguia nas redes sociais: “eu percebi que nas minhas redes eu seguia só modelos magras, brancas, padrão e que isso apenas perpetuava o padrão estético feminino, o qual eu não me encaixava e me fazia sentir muito mal e deslocada. Hoje eu já sigo mulheres gordas que contam suas experiências e ajudam outras mulheres a se libertarem de suas inseguranças para ver coisas como normais, celulites e estrias que é mal visto com vergonha, então acho que criou uma comunidade muito representável”, explica.

 
Mercado da moda
O mercado da moda é um dos grandes setores em que a falta de representatividade da mulher gorda é exposta de diferentes formas. No que diz respeito ao vestuário, durante muito tempo, encontrar roupas para mulheres gordas era impossível. Com a evolução da indústria Plus Size no Brasil 
na última década, a dificuldade de encontrar roupas para corpos curvy (corpo curvilíneo)  e midsize (corpo médio) diminuíram. No entanto, as peças do tamanho Plus Size, ou seja, extra grande, ainda são polêmicas, pois mulheres que usam tamanhos acima do 62, ainda são muito pouco representadas nessa indústria.

De acordo com a jornalista e dona da loja
glamodaplus, Vitoria Regia Januario, 24 anos, quando ela estudou a indústria Plus Size mais a fundo, se deparou com uma outra realidade.

“Eu, por exemplo, visto tamanho 50, mas quando eu entrei no mercado Plus Size, pensei na galera do 54, 60. Como eles fazem? Porque é inexistente a ponto de não ter roupa para vestir.  Então essa ainda é uma realidade muito forte aqui no Brasil, é uma cultura prejudicial. Teve sim uma melhora, mas ainda é muito limitado. Quando as marcas se propõem a fazer, elas dizem “vendemos Plus Size”, mas as roupas só vão até o 46, ou seja, não veste nem 1% de mulheres e homens gordos. É um problema de representatividade grande”, afirma a jornalista. 

Já para a jornalista e influenciadora de autoestima e empoderamento do corpo gordo, Izabel Gimenez, 21 anos, a indústria Plus Size está atrelada ao capitalismo, que como qualquer empresa, procura o lucro. “Eles estão procurando dinheiro e a gente vê isso muito claro, principalmente em grandes marcas que tem várias numerações desde os tamanhos tradicionais (p, m, g e gg) e quando entramos no Plus Size, tudo fica mais caro, mais escasso, mais difícil de ser encontrado. Então é aquilo, tem, mas não tem tudo, tem, mas é mais caro. Na real, falta muito para a gente conseguir um lugar que seja de fato justo para todo mundo”.


                                    


Assim como Vitoria e Izabel Gimenez, eu também acredito que um dos caminhos que o mercado pode seguir para cada vez mais aumentar a representatividade de vários corpos é a ideia de inclusão da pluralidade de corpos. Colocar modelos gordas, mulheres gordas no processo criativo e estudar os diferentes tipos de corpos em uma graduação de moda, por exemplos, são métodos para essa desconstrução de uma cultura fixada na sociedade.

Dessa forma, quanto mais pessoas diversificadas existem em todo o processo, desde a modelagem até a publicidade, mais teremos um cenário variado sem a exclusão, onde todos e todas se identificarão. Combater a pressão estética e a gordofobia propagando corpos plurais nos diversos meio de comunicação e na sociedade é o primeiro passo pela busca da igualdade e representação de toda uma sociedade de mulheres que são oprimidas pelo simples fato de não terem um corpo padrão.

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