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26/02/2021 às 12h54min - Atualizada em 26/02/2021 às 12h31min

Entenda o que é a síndrome do impostor

Cerca de 70% das pessoas se sentem uma fraude no ambiente de trabalho alguma vez na vida

Por Ynara Mattos - Editado por Maria Paula Ramos
Marcela Bernardi; Andréa Ladislau; Débora Azevedo; Juliana de Oliveira.
Foto: (Getty Images/Reprodução)


A síndrome do impostor, tem ganhado bastante visibilidade atualmente. Apesar de não ser considerada uma doença mental, pode ser classificada como um padrão comportamental que descreve uma sensação e uma mistura de sentimentos que ocorrem quando uma pessoa não acredita ser merecedora de algo, faz com que sofra de uma inferioridade ilusória. 

 

Segundo informações divulgadas pelo site, Na Prática, cerca 70% das pessoas se sentem uma fraude no ambiente de trabalho alguma vez na vida, de acordo com uma pesquisa da Universidade Dominicana da Califórnia. Esse sentimento compõe a síndrome do impostor,  termo usado pela primeira vez em 1978 pelas psicólogas americanas, Pauline Clance e Suzanne Imes, pesquisadoras da Universidade Estadual da Geórgia. A condição é definida pelas pesquisadoras como uma experiência individual baseada em uma autopercepção de falsidade intelectual, ou seja, de ser uma fraude.

 

Juliana de Oliveira, vítima dessa síndrome, afirma: 
 

“Eu sempre fui um pouco insegura, mas quando comecei o mestrado, tudo ficou muito fora da medida, o tempo todo eu pensava que alguém descobriria que eu não deveria estar ali, que eu era uma fraude, que todos os meus colegas eram muito mais inteligentes e eu me silenciava para quem ninguém descobrisse que eu não chegava aos pés deles. Foi 2 anos muito difíceis, porque eu tinha o tempo todo o medo de ser "descoberta" e que não conseguiria enganar as pessoas por mais tempo. Acredito que a pior parte é toda a auto sabotagem e medo de ser descoberta.”

 

Doutora em Psicanálise, Andréa Ladislau, explica que: “Essa síndrome pode se manifestar quando a pessoa acredita estar ocupando um lugar que não merece e acredita estar enganando as pessoas. Algumas características que facilitam a identificação de alguém que está enfrentando essa síndrome são: O indivíduo se coloca como um verdadeiro impostor. Normalmente a pessoa evita falar sobre suas conquistas e se coloca no papel de errado ou culpado pelo que possui; se sabota constantemente por medo de assumir lugares de destaque; procrastinação; medo do que os outros pensam e acham ou do julgamento, medo de ser descoberto como uma farsa; autodepreciação, não acreditando em seu potencial; não admite errar, se cobra muito; constantemente se compara com outras pessoas, não dando o devido valor ao seu próprio esforço. 

 

 

“Durante essa fase eu já fazia terapia e isso foi fundamental para não desistir e não me isolar. A minha analista sempre reforçava que se eu estava ali, era porque eu conquistei aquele espaço, passei por um processo seletivo de meses e fiquei com aquela vaga, mas a tensão era profunda que eu contra argumentava sempre dizendo que eles erraram na seleção e que uma hora iam perceber que eu era uma fraude. Sinto que hoje estou melhor, a terapia e outros processos de autoconhecimento colaboram para entender e aceitar as conquistas como algo positivo e merecido, que devem ser desfrutadas. Sem terapia e uma rede de apoio, seria impossível seguir.” - Revela Juliana 

 

A Psicóloga Marcela Bernardi, alerta que para as pessoas que estão sofrendo com essa síndrome é muito importante a busca de uma ajuda profissional especializada em saúde mental, A permanência da síndrome pode alertar a presença de transtorno de ansiedade, depressão e outros sofrimentos de ordem psíquica. 

 

“Com o início da fase adulta e da graduação, a busca profissional e o mercado de trabalho acabaram aumentando esses sentimentos. Me recordo de nos estágios sempre pensar que eu não tinha o conhecimento necessário para dar uma opinião, o que me fazia também me sentir deslocada em diversas ocasiões. Esses pensamentos foram convivendo comigo, eu me empenhava sempre ao máximo para me afastar. Mas, não confiar na minha capacidade e precisar da opinião dos outros sobre meus projetos sempre foram algo comum para mim. Um grande exemplo é a dificuldade de conseguir finalizar o curso de inglês, eu não conseguia acreditar que aprenderia esse idioma, que seria fluente. Tentei por diversas vezes, mas não consegui concluir em nenhuma delas. Outra recordação foi quando consegui um dos primeiros lugares em uma prova interna na pós-graduação e simplesmente não acreditava que ultrapassei todas aquelas pessoas que eu considerava melhores do que eu.” - Fala Débora Azevedo, Advogada que também enfrenta a síndrome. 

 

Essa síndrome pode ter uma relação com a infância ou com o passado da pessoa, que a levaram a desenvolvê-la. Andréa Lindislau salienta: “É possível, afinal carregamos os traumas da infância para a vida adulta se não resolvermos as questões na raiz e não tomarmos consciência de seus gatilhos. Uma criança que tenha sido desacreditada e tenha ficado presa neste aspecto, irá carregar a inferioridade para suas relações e em todos os campos de sua vida, já que passou a vida ouvindo que não era capaz. Ela passa a acreditar nisso, e quando consegue realizar algo, não valoriza o seu esforço. Acredita que conquistou por pura sorte ou que pode ter trapaceado em algum momento e acabou sendo beneficiada. Uma ilusão “impostora” que impede seu próprio crescimento pessoal e limita seus passos.”

 

Personalidades que afirmaram ter enfrentado a síndrome do impostor:  

 

Mari Palma: 

 

A jornalista e também apresentadora Mari Palma, compartilhou no início do mês em seu canal no YouTube, que tinha a síndrome do impostor. Mari inicia o vídeo com uma pergunta:

 

“Por que a gente sempre se sabota ? [...] A gente nunca acha que é bom o suficiente, a gente sempre se sabota, a gente sempre acha que chegou em algum lugar por sorte, a gente não consegue reconhecer nossa capacidade, nossas habilidades, nosso talento e isso é ruim. Aconteceu comigo e acontece eu diria muitas vezes.”

 



A jornalista declara que ano passado começou a gravar para o seu canal uns vídeos com dicas de looks, e ela comparou o seu trabalho, a sua vida, o seu corpo ao de outras pessoas que já faziam isso. E, ao se comparar, passou a julgar que nada estava legal, e estava tudo errado e pensou até em não publicar o vídeo, com medo do que as pessoas iriam falar em relação a ela. Após o vídeo ir ao ar, a apresentadora fez um post em seu Instagram contando um pouco sobre isso, onde recebeu muitas mensagens de pessoas que passam pela mesma situação frequentemente, e isso a motivou a gravar um vídeo com a temática. 

 



Rafa Brites: 

 

A apresentadora Rafa Brites escreveu um livro sobre essa síndrome, onde conta que durante muito tempo se sentiu uma impostora, se sentia sozinha até saber que personalidades influentes como Michelle Obama, Michelle Pfeiffer passavam pela mesma coisa. Rafa compartilha sobre suas experiências, como superou e hoje ajuda outras mulheres que estão passando pela mesma situação. 


Em um vídeo publicado no canal TEDx Talks no YouTube, a apresentadora confessa que em 2008 ao participar de um processo seletivo para ser trainee de uma multinacional, pensava que “eles” iriam descobrir que ela não era nada daquilo, que ela não sabia de nada. E, ao passar em todas as fases ela seria contratada para atuar como trainee do CEO. Mas, ao compartilhar a conquista com um amigo, o mesmo fez um comentário infeliz, dizendo que Rafa foi contratada pela sua beleza e não por mérito próprio. Sem pensar muito, Rafa Brites desistiu da vaga dos seus sonhos, dando a desculpa de que iria morar fora do país. Ao longo dos anos, ao trabalhar em diversos lugares e conhecendo diversas mulheres inteligentes, começou a perceber que nenhuma delas se sentia boa o suficiente, ou seja, não era um lugar externo que elas alcançavam que perdia essa sensação de impostora, era um lugar interno.


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