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05/03/2021 às 11h35min - Atualizada em 05/03/2021 às 11h30min

Voto feminino: uma conquista tardia e histórica

Em Mossoró, Rio Grande do Norte, Celina Guimarães Viana, professora, foi a precursora do voto feminino na América Latina

Isabelle Gesualdo - Editado por Andrieli Torres
Fonte/ Reprodução: Google

Nos séculos passados, quando se aproximava a época das eleições, a expectativa era grande para ir às urnas escolher seus representantes. As mulheres, contudo, ficavam apenas em casa assistindo o desfecho de uma decisão tão importante. Apesar dessa escolha afetá-las, neste cenário, elas não eram sequer coadjuvantes. O mundo político era um território exclusivamente masculino homens brancos e possuidores de bens. As mulheres deveriam manter distância da política, o lugar delas era apenas dentro dos lares, sob o governo dos homens.


A figura feminina estava  especificamente atrelada ao lar e à família, e isto a impediria de exercer qualquer papel fora desse ambiente doméstico. Mulher exercendo a cidadania plenamente, indo às urnas votar e ser votada, era um ato absurdo e inimaginável. Em 1928, a primeira mulher brasileira pôde ir à urna votar, em Mossoró, Celina Guimarães Viana, professora, foi a precursora do voto feminino na América Latina. No entanto, neste ano, apenas o Rio Grande do Norte dava autonomia para as mulheres exercerem a cidadania. 

 

Foi somente em 24 de fevereiro de 1932, que o Brasil se tornou o pioneiro da América Latina no direito ao voto feminino. O novo Código Eleitoral decretado neste ano garantia o direito da mulher brasileira atuar nas decisões que definem o destino da nação. O caminho percorrido para a chegada de tal conquista iniciou em 1910, quando Deolinda Daltro fundou o Partido Republicano Feminino. No entanto, apenas em 1932 foi delegada a emancipação. Em 1934 o direito foi dignamente exercido, sem restrições; antes disso, apenas mulheres casadas com autorização dos maridos e viúvas com renda própria poderiam votar. 
 

O desfecho para que este fato histórico acontecesse não é amplamente conhecido. Não foi no Governo Vagas que, de repente, as mulheres teriam o direito ao sufrágio. Impedidas de votar durante muito tempo, nas décadas iniciais do século 20, na Europa, as primeiras mulheres foram às ruas manifestar em prol de direitos básico, tendo como principal objetivo o sufrágio, pois uma vez que estas votassem e fossem votadas, as demais desigualdades poderiam ser discutidas.

 

Mulheres que saíram do papel de inferioridade, do “sexo frágil” arregaçaram as mangas e lutaram cara a cara com os homens. Os confrontos com a polícia também não eram tão cordiais. Elas lutavam com avidez, sobressaindo diante dos estereótipos machistas delegados. Eram vistas como loucas, desvairadas, haviam teses de que estas mulheres estavam agindo de tal maneira porque não tinham conseguido um bom marido. Ter um bom casamento era a solução para todos os problemas delas.
 

Os ideais do movimento sufragista chegaram ao Brasil em 1918, com Bertha Lutz. Após passar uma temporada na Europa, Bertha aliou-se ao movimento e trouxe-o para o Brasil. Junto com a militante anarquista Maria Lacerda de Moura, Bertha fundou a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher. Lutz fazia parte da elite, era uma mulher intelectual, e acredita-se que a proximidade que ela tinha com a elite política facilitou a obtenção do direito ao voto no país. Bertha é o principal nome ligado ao movimento, mas ainda há outros nomes, heroínas anônimas que a história não registrou. 
 

Comemorado 89 anos do direito ao sufrágio, os desafios da mulher na política permeiam na sociedade contemporânea. Atualmente, o Brasil ocupa o  140º lugar no ranking de países com maior representatividade feminina, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).
 


 

Apesar de serem a maioria na população e no eleitorado, as mulheres não alcançam nem 15% dos cargos políticos. De acordo com o Mapa da Política, dos 70 mil cargos eletivos, apenas 12, 32% são ocupados por mulheres. Dos 22 ministros nomeados por Jair Messias Bolsonaro, apenas duas são mulheres: Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura). Foi apenas durante o governo de Dilma Rousseff que as mulheres ocuparam cargos políticos de maneira igualitária. 
 

Dilma Rousseff, a única mulher que chegou à presidência do Brasil, teve seu mandato marcado por desafios, especialmente no que cerne às questões de gênero. Durante os anos em que ela ocupava a presidência, era comum ver comentários ofensivos de ódio, vindo, especificamente, de homens que têm como objetivo manter a submissão da mulher; um pensamento arcaico no qual as mulheres não têm o direito de ocupar todas as esferas da sociedade.
 

Em um mapeamento realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, constatou-se que 56% dos comentários em uma publicação da Folha de São Paulo, no Facebook, em 2015, sobre a então presidenta Dilma Rousseff, estavam intimamente ligados ao preconceito de gênero.
 

"Ninguém quer dialogar com a Sra. Vai lavar uma boa
  pia de louças, vá!!”

“Cala essa boca imunda, sua vagabunda”

“Dialoga com a minha r***, Dilma”

“Vontade de dar um murro na cara desta indecente”

“Só tomando chicotadas para aprender”
 

Ainda há de se destacar o terrível episódio em que Dilma teve a fotografia do seu rosto vinculado a um corpo feminino cujas pernas estavam abertas. A montagem logo virou adesivos que começaram a ser vendidos, eram colados nos carros de maneira completamente constrangedora e ofensiva. Estes episódios de preconceito e misoginia evidenciam o quanto o machismo ainda é latente no seio da sociedade brasileira.

A representatividade feminina na política é de crucial importância na luta pelos direitos das mulheres, sobretudo diante de um cenário em que há muita violência e desigualdade contra as mulheres.

 

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