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19/03/2021 às 21h49min - Atualizada em 19/03/2021 às 21h25min

Resgate Econômico: O cavalo de Tróia da dívida pública americana

Recentemente o governo americano aprovou mais um resgate econômico. Porém muitos economistas acreditam que isso pode agravar a situação fiscal do país

Leonardo Leão - Editado por Maria Paula Ramos

 Em um momento como este, planos como cortes de gastos e austeridade econômica são deixados de lado na busca de amenizar os efeitos da crise. O alto número de desempregados e também de mortos são assustadores e os governos acabam colocando em prática o plano mais simples e com resultados mais imediato possível, o estímulo econômico.

 Um dos exemplos de países que utilizam os estímulos como o principal remédio no combate aos efeitos da crise é os Estados Unidos. Os americanos tem um longo histórico de momentos em que o Banco Central surge como um salvador da pátria em épocas de recessão. A Crise de 1929, de 2008 e a atual são alguns casos.

Um resgate contra a pandemia
 Já no início da pandemia os EUA aprovaram o que seria o maior plano de resgate econômico da história do país. No final do mês de março do ano passado, o Senado e a Casa Branca lançam um auxílio de 2,2 trilhões de dólares para as empresas e cidadãos americanos. Em abril, o FED lançou US$ 2,3 trilhões para estados e pequenas e médias empresas. Ainda em 2020, foi aprovado outro pacote de US$ 900 bilhões, dessa vez no mês de dezembro.

 
Agora com um novo presidente, o democrata Joe Biden, os Estados Unidos cria mais um resgate, no valor de 1,9 trilhão de dólares. Mesmo com os avanços no plano de vacinação, o governo viu a necessidade de lançar esse plano. Com isso, US$ 422 bilhões serão gastos com auxílio emergencial, a maioria dos americanos receberam um pagamento de US$ 1.400. Além disso, parte desse montante será utilizado para o combate a Covid-19.

 Um total de US$ 242 bilhões vão para auxílio-desemprego. Afinal, os pedidos deste tipo de auxílio vem crescendo no país. Para Biden esse pacote servirá para combater a pobreza e a desigualdade. Mas, mesmo com tantas boas promessas, o projeto sofre inúmeras críticas, tanto no campo político quanto no econômico. Vale ressaltar que nenhum republicano votou a favor deste projeto e existem muitos economistas que discordam do alto valor proposto. O medo dessas pessoas é que esse resgate possa causar uma forte inflação no futuro.

 O Professor de Economia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ecio Costa, destaca o impacto significativo deste estímulo no rápido crescimento da economia norte-americana. Esse impacto pode alcançar os países que possuem relações comerciais e de Investimentos com os EUA. Mas essa situação também pode gerar desvalorização do dólar e uma inflação nos Estados Unidos e demais países.

O problema da Dívida Pública Americana
 

 A dívida pública dos Estados Unidos teve um crescimento gradual nos primeiros 50 anos depois da Crise de 1929, passando de US$ 16 bilhões naquele ano, para US$ 827 bilhões em 1979. Já nas décadas de 1980 e 1990 a dívida explodiu e alcançou US$ 5,6 trilhões no final do século passado. Depois de um superávit no ano 2000, o país passou as duas décadas seguintes em sucessivas crises.

 Ecio Costa afirma, baseado em dados da Fitch, que a dívida pública dos Estados Unidos deve fechar o ano acima dos 100% do Produto Interno Bruto (PIB). Ela deve ficar próxima de 109%, considerando o pacote de estímulos, mas sem o resgate a dívida ficaria em 102% do PIB. Ecio também destaca o prognóstico das contas públicas em 2021. O déficit deve ter um aumento de 50%, passando de 10,3% para 15% do PIB.

 A dívida americana passou de US$ 21 trilhões em 2019, para o valor de US$ 28 trilhões atualmente. Essa dívida já é superior à economia da China, Alemanha, Japão e Índia, somadas. A expectativa é de que ela alcance 202% do PIB até 2051, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, sigla em inglês). Algumas projeções apontam para US$ 50 trilhões em dívida pública até 2025, quase o dobro do valor atual. 

 O fundador do maior hedge fund do planeta, a Bridgewater, Ray Dalio fez um post em seu perfil no LinkedIn criticando os rendimentos no mercado de bônus das grandes economias. No caso dos bônus americanos, só seria possível ter o poder de compra inicial e um retorno dos investimentos depois de 42 anos, sem considerar a inflação. Portanto, Dalio recomenda que o investidor retire seu dinheiro da renda fixa, como os títulos de dívidas, livra-se do dinheiro em caixa e compre qualquer outra coisa.

 Quanto a tendência para o futuro, o professor Ecio Costa acredita que os Estados Unidos seguirá se endividando. Ele cita a projeção do CBO e destaca que os títulos dos EUA possuem uma excepcional classificação no mercado e por tanto eles têm facilidade para continuar aumentando seu endividamento, uma situação bem diferente do Brasil. Além disso, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirma que as chances de uma inflação descontrolada estão próximas de zero.


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