Internato Jangebe no Estado de Zamfara na Nigéria, mais uma vez quase 300 crianças em período escolar foram sequestradas em menos de dez dias, esse já foi o segundo sequestro no país. O mais recente, que ocorreu em 14/03, foi de três professores.
Desde de dezembro do ano passado os raptos, ou suas tentativas, que ocorrem nas escolas no noroeste do país estão se tornando cada vez mais comuns, pois, os criminosos perceberam que isso é um negócio lucrativo. O chefe do sequestro no Internato Jangebe recebeu o perdão do governo ao se arrepender e entregar suas armas. Essas ações dos governadores causam questionamentos sobre se é correto o modo como estão agindo.
“Penso que políticas equivocadas, tanto em relação à segurança pública, quanto de ordem social, estão na causa do aumento de sequestros de crianças e professores. Recentemente alguns governadores (a Nigéria adota a Federação, como Forma de Estado e o Presidencialismo, como Sistema de Governo, como o Brasil) buscaram enfrentar o problema pagando resgates, perdoando sequestradores de grupos paramilitares, além de fornecer moradias, assistência etc”, explica o PhD em Economia e Direito Político, professor em Direitos Humanos e Direito Constitucional no Mackenzie, Flávio de Leão Bastos Pereira.
Isso causa um impacto direto na frequência escolar. Além das práticas socioculturais que desencorajam, esses ataques fizeram a taxa de meninas e mulheres na educação formal cair.
“Por conta dos sequestros dezenas de escolas foram fechadas, além de professores sequestrados. Os professores constituem assunto prioritário em qualquer nação que deseje se desenvolver. Portanto, o medo dos sequestros e o fechamento de escolas produzem consequências devastadoras sobre a aderência escolar, com gravíssimas consequências sobre os direitos humanos fundamentais de crianças, adolescentes e também dos/as professores/as, afirma Flávio de Leão.
Segundo o professor de Direitos Humanos e Direito Constitucional do Mackenzie, Flávio de Leão Bastos Pereira, esses sequestros violam diversos direitos da pessoa, criança e adolescente. “Como o Direito à vida com qualidade; à saúde (física e mental); direito à própria infância e demais garantias daí decorrentes, como o direito a brincar e à convivência familiar; direito de acesso à própria cultura; direito das meninas ao respeito, à igualdade e à sua integridade física, moral, espiritual e mental; direito à educação com segurança etc”.
Histórico de alguns casos de sequestro
O mais emblemático que causou comoção global foi o de 2014, 276 garotas foram sequestradas em uma escola na cidade de Chibok, pelo grupo jihadista Boko Haram. No decorrer de sete anos 56 conseguiram fugir, 100 foram soltas, e em janeiro de 2021, as 112 reféns que restaram conseguiram escapar. Em seus relatos as meninas contaram que eram obrigada a adotar o islamismo, se casar e ter filhos, as que se recusaram eram condenadas a trabalhos intensos como “escravas”.
Em 26/02 deste ano homens armados sequestraram 317 meninas também em Jangebe.
Além das meninas, os criminosos também pegam meninos para fazerem parte dos seus grupos “se alistarem”.
A falta de estrutura, demora nas investigações desses sequestros e crescimentos dessas milícias fazem aumentar cada vez mais essas ocorrências, e infelizmente não causam mais nenhum tipo de espanto e mobilização da população, por ser algo recorrente.
“As Nações Unidas podem ajudar – e, ao meu ver, constituem uma das principais organizações internacionais protetivas dos Direitos Humanos e da democracia; contudo, sofre resistência, muitas vezes, dos próprios Estados nacionais. Um trabalho cooperativo é importante para proteção das crianças e adolescentes, neste contexto da Nigéria”, finaliza Flávio de Leão.