As obras de William Shakespeare passaram a conversar com leitores de uma maneira inédita na pandemia. As tragédias shakespearianas inspiram leituras sobre novas perspectivas, de valor atemporal, relacionando o cenário caótico da época com o caos pandêmico presente. O poeta nasceu meses após o fim da Peste Bubônica, que devastou boa parte da população de Stratford-upon-Avon, em 1564.
Apesar de Shakespeare ter sobrevivido à Peste Bubônica, décadas depois uma nova peste assolou a capital britânica, entre 1603 e 1613, com efeitos ainda mais devastadores. O bairro onde o escritor morava foi um dos mais atingidos, o que o levou a ficar recluso. Além disso, todos os teatros onde Shakespeare atuava foram fechados por mais de nove meses, indicam historiadores.
Foi neste período de isolamento que Shakespeare escreveu “Rei Lear”, a peça representa um cenário de caos, mortes e desespero vividos na época. Cenário não muito diferente do vivido no Brasil atualmente, em que atingiu a marca de 400 mil mortes causadas pela Covid-19.
Além de “Rei Lear”, outras obras fazem analogia com a realidade atual. “Hamlet” e “Macbeth”, por exemplo, têm fragmentos voltados às dores e angústias de se viver em pandemia.
Liana Camargo, autora do livro “O que você precisa saber sobre Shakespeare antes que o mundo acabe”, explica que a metáfora da casca de noz é uma ótima analogia para o período de confinamento. A casca de noz seria o isolamento social, necessário para a proteção contra o coronavírus."Deus, eu poderia viver enclausurado dentro de uma noz e me consideraria um rei do espaço infinito, não fosse pelos meus sonhos ruins." (“Hamlet”, ato 2, cena 2)