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09/05/2021 às 00h00min - Atualizada em 09/05/2021 às 00h01min

A desigualdade de gênero e a sobrecarga feminina na quarentena

Pesquisas apontam que a sobrecarga diária durante a pandemia aumentou em 43% para as mulheres

Emily Guimarães Carvalho - Editado por Júlio Sousa
Fonte: Correio Braziliense
Há mais de um ano em pandemia, logo de início saíram pesquisas sobre a saúde mental dos brasileiros durante este novo período. Pesquisas da UERJ revelaram que o aumento dos índices de depressão e ansiedade/estresse aumentaram em 50% e 80% respectivamente, durante o isolamento. Entretanto, o maior nível registrado vem exclusivamente sobre as mulheres – que agora tiveram sua sobrecarga diária aumentada em 43%, com a tripla jornada que muitas fazem.

Trabalhar fora, criação de filhos, serviços domésticos... O que já era a realidade da maior parte das mulheres apenas se intensificou durante o isolamento. Com as crianças em casa e o home office, toda a concentração de trabalho agora fica dentro de seu próprio lar, que somados aos afazeres domésticos, tornam a rotina bem mais extensa.

Segundo uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) feita em 2019, as mulheres realizam serviços domésticos por cerca de 18,5 horas semanais – enquanto os homens apenas 10,3 horas. A mesma pesquisa também revelou que em condições de cônjuge, 96,3% das mulheres são as responsáveis por estes serviços – uma discrepância enorme em relação aos homens que, mesmo nas mesmas condições de carreira, e mesmo quando há a divisão de tarefas, ainda assim contam com a maior parte dos serviços feitos pela parceira.

Com a disseminação do vírus sendo um perigo constante, mesmo os lares que antes possuíam ajuda profissional com os filhos e o lar foram afetados, já que muitas liberaram os funcionários para ficar em isolamento. Dessa maneira, os serviços antes delegados agora recaem para os próprios moradores – e acabam por vir em maioria para as figuras femininas da casa. Um padrão reproduzido por toda a história e em todos os níveis da sociedade.

A mesma relação vem na maternidade. As aulas escolares agora feitas em casa, fazem com que as crianças precisem de mais orientações no aprendizado. Em lares chefiados apenas por mulheres, a situação é ainda mais difícil, já que a dedicação com o trabalho em busca do sustento vem de apenas uma pessoa – que se divide entre trabalhar, ensinar, educar, limpar, cozinhar e atender todas as funções de seu lar.

Gisele Dias, que fora dona de casa e mãe em tempo integral por mais de 16 anos, comenta sobre o assunto.

“O trabalho dentro de casa nunca acaba, não tem férias, não tem folga, e não é reconhecido. Quando se é mãe e dona de casa, é esperado que você sozinha dê conta de tudo. E é sempre mais fácil reparar quando algo está pendente ou errado do que quando está tudo limpo e arrumado... É um trabalho muitas vezes solitário e muito cansativo.”


A sobrecarga atribuída às mulheres, por séculos se intensifica e traz ainda uma maior propensão ao desenvolvimento da depressão e ansiedade, entre outras doenças ligadas ao esgotamento físico e mental - causado muitas vezes pela desigualdade de gênero, que atribui serviços inerentes a ambos os sexos, em total maioria apenas para as mulheres.
 
 

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