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28/05/2021 às 16h14min - Atualizada em 28/05/2021 às 16h09min

Índia ordena que redes sociais retirem do ar termo “variante indiana”

País argumenta que esse termo não é utilizado pela OMS em seus relatórios

Thiago Oliveira - Editado por Manoel Paulo
Reuters
Gerd Altmann/Pixabay
A Índia enviou uma carta pedindo que as redes sociais retirem as referências à “variante indiana” do coronavírus de suas plataformas. Segundo o ministério indiano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não utiliza esse termo.
O documento emitido pelo Ministério da Tecnologia e Informação do país, afirma que o termo é “completamente falso já que a OMS não ligou a variante B.1.617 ao país em seus relatórios”.

A carta não deixa claro para quem está endereçada, mas o país ordenou recentemente que o Twitter removesse tweets e as redes do Facebook retirassem do ar posts que criticavam a gestão do país frente à pandemia.

Em abril o país ordenou que Twitter, Facebook e Instagram bloqueassem postagens que faziam críticas a sua gestão da pandemia. O governo indiano argumentou que algumas postagens estavam desinformando e levando medo a população sobre a Covid-19.

Para a ombudsman do jornal indiano The Wire, Pamela Philipose, o governo não tolera críticas. Em entrevista a DW, a jornalista afirmou que “o primeiro instinto do governo é controlar a informação”. Segundo ela, pandemias levam a desinformação, mas a censura cega e a remoção generalizada “suprimem informações importantes”, acrescenta.

(Foto: Bloomberg)
A cepa encontrada na Índia tem sido considerada como a causadora da mais nova onda de contágio no sul da Ásia e apareceu pela primeira vez em dezembro de 2020, na Índia. A OMS classificou essa variante como uma preocupação global, por ser mais letal que as outras cepas.

Em todo o mundo as variantes que surgem em determinada região recebem o nome dela, como a brasileira que surgiu em Manaus e a da África do Sul. Os pesquisadores e cientistas já deixaram de utilizar essa nomenclatura pois reforça um comportamento xenófobo que não corresponde a realidade.

Uma fonte do governo indiano informou a agencia de notícias Reuters, que a Índia quer proteger a imagem do país, e a carta é uma mensagem alta e clara de que tipificar o vírus como indiano espalha desinformação.
Ainda em 2020, no início da pandemia, a China tentou censurar as menções dos termos que se referiam ao vírus. O país é conhecido por bloquear as redes ocidentais, que só funcionam através de VPNs ou em aparelhos de chineses que estão em viagem.

A época, uma reportagem da Vice trazia diversos relatos de chineses com medo de perseguição ou percebendo o país rastreando as informações que eram compartilhadas no WeChat, um aplicativo de trocas de mensagens popular na Índia.

Em contraponto a nomenclatura popular existe os números e letras que são utilizados pelos pesquisadores e cientistas.

O epidemiologista e ex-presidente do Comitê Consultivo Covid-19 da África do Sul, Salim Abdool Karim, que ajudou a nomear a variante descoberta no país (501Y.V2, conhecida também como B.1.351), concorda que os termos científicos são difíceis e confusos.

“Quem quer continuar dizendo 501Y.V2? Esse nome é muito difícil de dizer. É um nome terrível. Você não gostaria de chamar seu filho de 501Y.V2”, afirma Salim Abdool Karim.
A prática de nomear as variantes pelas suas regiões de origem é comum no mundo não cientifico e isso começou a preocupar a OMS, que reuniu um grupo de virologistas para apresentar um novo sistema de nomenclatura que deve resolver esses problemas.
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