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10/06/2021 às 10h50min - Atualizada em 10/06/2021 às 11h03min

“América Negra”: projeto audiovisual reflete o protagonismo negro latino-americano

Mostra online apresenta produções de dez países da América Latina pautados na negritude

Leticia Menezes - Revisado por Isabela dos Santos
“InvazãoBrazil”, uma das obras experimentais Brasileiras da mostra. (Foto: Divulgação)
Ainda há um grande caminho a ser percorrido no debate da inclusão de afrodescendentes na sociedade. Por causa da invisibilidade marcada na história dessa população, urge a necessidade de desenvolvimento de produções culturais que valorizem as narrativas afrodescendentes e que contribuam para a representatividade, como oportunidades no mercado cinematográfico para esses grupos.

E é essa iniciativa que a Nicho 54, instituição voltada para a qualificação profissional e inserção de profissionais negros no audiovisual, promoveu para provocar uma reflexão de mudança na realidade excludente. A mostra de filmes “América Negra: Conversas Entre as Negritudes Latino-americanas” exibirá produções cinematográficas da América Latina dos últimos 20 anos. Iniciado na sexta feira (4) e seguindo até domingo (13), o evento online traz a narrativa da negritude do continente, propagando conhecimento sobre a cultura e a presença do negro nos filmes produzidos.

Vivências negras no cinema

De acordo com os organizadores do evento, as exibições da mostra pautam a descentralização dos Estados Unidos como principal campo do olhar de produções audiovisuais que retratam as vivências pretas da diáspora. Além disso, a coletânea de longas, curta-metragens, documentários e animações apresenta um imaginário cinematográfico e racial sobre esses territórios da América Latina.

Heitor Augusto, diretor curatorial da mostra e programador-chefe do Nicho 54, declara que a ideia da mostra partiu da pesquisa sobre a questão da negritude na América Latina e do exercício de descentralização dos EUA como o principal emissor de representações sobre as vivências negras no cinema.

“Uma vez iniciada a pesquisa, a mostra “América Negra” assume também outros objetivos, entre os quais: construir um novo circuito de referências para a diáspora a partir do Brasil e “desembranquecer” territórios equivocadamente percebidos ou como brancos ou como desprovidos de presença negra.”

Ausência nas telas da maior população

Apesar da maior parte da população brasileira ser negra (pretos e pardos)- segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatisticas (IBGE), ficando atrás apenas da Nigéria, no continente africano - ainda é nítida a ausência desses grupos no cinema nacional. Uma pesquisa do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) revelou que dos filmes nacionais lançados comercialmente apenas 31% dos atores são negros, sendo 2% dos diretores. A pesquisa também constata que não há presença de mulheres negras - bem como no grupo de roteiristas.

Esse cenário de exclusão reflete profundamente na estrutura das produções cinematográficas e do mercado audiovisual, tanto nas telas, com a pobreza de atores, quanto fora delas, no envolvimento da direção e nas narrativas das produções. Além disso, envolve o processo de racialização que os povos originários passaram com a ocupação do branco europeu na sociedade, contribuindo para a invisibilidade dos povos afrodescendentes. 

Ampliando para a América Latina, a existência de discriminação étnico-racial é mais evidente, pois o problema ainda abrange a questão da autodeclaração. O relatório do Grupo Banco Mundial, “Afrodescendentes na América Latina - rumo a um marco de inclusão“, revela que aproximadamente um em cada quatro latinoamericanos identifica-se como afrodescendente, e essa percepção acarreta estigmas e preconceitos derivados de uma longa história de discriminação e racismo. 

Para Augusto, todos os projetos curatoriais do Nicho 54 tomam como premissa o protagonismo negro e o fomento à representações diversas da nossa comunidade.  

“América Negra” concretiza essa vocação do instituto, mas também abre espaço para que outras conversas e discussões ocorram e que diferentes vozes negras além das estadunidenses participem do diálogo”.

Como assistir? 

As 35 obras visam a representatividade dos afro-latinos e a construção da própria história. Entre as produções, o curta-metragem “Herança de um Povo”, valoriza a dança e a música da população afrodescendente do Peru, com destaque para o sapateado. O longa mexicano “Negra”, que pauta o reconhecimento da identidade e a aceitação da negritude das mulheres. As produções brasileiras levam destaque em “Olhos de erê”, “Amarração”, “(Outros) Fundamentos”, “InvazãoBrazil” “Érica”, “Egum”, O túmulo da terra”, “Macumba de travesti, feitiço de bixa: malva”,"Clandestina", “Candombe do Açude: o passado contado pelo canto” e “Acervo ZUMVI”. 

O Nicho 54 é uma instituição que contribui para a representatividade no cinema brasileiro. Comandado por Fernanda Lomba, também diretora executiva, e o programador-chefe do instituto, Heitor Augusto. O projeto também visa fomentar o desenvolvimento profissional de jovens negros no cinema, atuando na formação, na curadoria para construção de repertórios cinematográficos e estimulando a aproximação dos profissionais à indústria do mercado. A Sala 54 é a plataforma de streaming que abriga os filmes do Instituto. 

Os filmes ficam disponíveis até 42h após o início da exposição - feita, diariamente, a partir das 19h. Para assistir às produções, é necessário criar um cadastro utilizando uma conta de e-mail e senha. Após, confirmar o cadastro através do acesso à caixa de entrada do e-mail. O último passo é fazer o login na plataforma Sala 54 para acessar as exibições. O site da plataforma pode ser acessado para mais informações. 


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