Amada por onde passava Lady Di conquistou inúmeros admiradores desde o momento em que pisou na realeza britânica, em 1981. Consolidou-se como ícone de simpatia, generosidade, e claro, da moda. Com looks atemporais, Diana até hoje serve de inspiração, tanto com seus modelos de gala quanto no streetwear. Mas entre tantos looks, o denominado ‘Revenge Dress’ (vestido da vingança) tornou-se um marco na moda e na imagem pessoal da princesa, e não é por acaso que inúmeras celebridades ainda se inspiram nele.
No mês de junho, durante uma festa da Vanity Fair, a princesa Diana usou um traje desenhado por Christina Stambolian. A noite do evento coincidiu com a mesma data em que uma entrevista dada por Charles seria exibida na TV aberta. Muitos imaginavam que Diana estaria triste e desolada nesse momento, mas quando ela apareceu na festa promovida pela revista com um sorriso radiante no rosto e usando um vestido de seda preto com corte ousado, que deixava seus ombros e pernas à mostra, a mídia interpretou essa atitude como uma resposta fashion para as revelações do príncipe de Gales. Assim nasceu a história do “vestido da vingança”. No dia seguinte, os jornais e revistas traziam apenas as fotos de Diana usando o "vestido da vingança", enquanto as revelações de Charles ocupavam apenas boxes informativos nas matérias - explicou o historiador.
O ‘Revenge Dress’ tornou-se um dos momentos mais icônicos de Lady Di. Para a consultora de estilo e Mestre em Comunicação e Semiótica, Carol Garcia, o look se tornou marcante por inúmeros motivos, mas principalmente devido ao contexto que ele foi usado.
“O revenge dress era um vestido preto, curto e justo e com um generoso decote que deixava os ombros de Lady Di à mostra. Um vestido que lhe deu uma imagem de poder, confiança e, claro, sensualidade. Foi uma mensagem muito poderosa do que qualquer declaração verbal que ela tivesse dado. Tanto que o documentário não teve o efeito esperado e a imagem do Charles só piorou diante do público depois disso. Já a imagem de Diana... Bom, estamos falando desse vestido até hoje, né!? Só isso diz o quanto uma imagem pode ser forte e marcante”, comentou Carol Garcia.
"Acredito que a escolha do vestido não foi guiada pela intenção interpretada pela mídia. Acreditava-se, inclusive, que ela usaria um vestido vermelho, desenhado por Valentino. Ela decidiu usar o modelo desenhado por Christina Stambolian de última hora. Então, foi uma surpresa quando ela desceu do carro, estonteante, e caminhou com seus sapatos plataforma em um traje que deixava em evidência suas pernas torneadas ", comentou Renato Drummond.
E realmente, o vestido chamou a atenção e quebrou regras, de acordo com o historiador no código de vestimenta da realeza o preto só pode ser utilizado em ocasiões de luto. "Porém, temos que lembrar que em 1994 ela já vivia separada de Charles e estava mais livre para quebrar certos protocolos. A moda foi um deles", frisou Renato, que destaca que apesar de Diana e Charles terem concordado em viver separadamente desde dezembro do ano anterior, a palavra divórcio ainda não era citada nos canais oficiais de comunicação do casal real.
Para Carol Garcia, Lady Di sempre teve um estilo marcado por “ousadias” fashionistas, se levado em consideração que ela fazia parte da família real, e assim, não podia sair das normas. “Em 1981, quando ainda era noiva de Charles, Diana chamou atenção por aparecer em seu primeiro evento oficial vestindo um longo preto dos estilistas David e Elizabeth Emanuel – os mesmos que criaram seu vestido de noiva”, explicou Carol, que comentou ainda que apesar da peça ser uma escolha segura e pouco ousada, o decote generoso e a cor preta ser destinada ao luto, foi um forte indício à época de que a princesa se tornaria um ícone da moda.
Como esperado, Diana se tornou referência na moda, além disso, ficou conhecida por se expressar através dos seus looks. Como Mestra em Semiótica, Carol Garcia diz que a "semiótica'' é a teoria da significação, ou seja, é uma teoria que nos explica por que e como lemos o que lemos. No caso da moda, vai dar uma explicação do porquê interpretamos/lemos certas imagens de determinada maneira, opera nessa tradução da linguagem visual”, explica Carol.
É por isso que através da semiótica é possível entender a mensagem que Lady Di quis passar com o ‘vestido da vingança’, assim como é possível entender a mensagem de qualquer imagem, tanto da moda ou não. Assim, o famoso vestido preto de Lady Di marcou a vida e a imagem pública da princesa do povo, já que seu estilo foi consolidado naquela noite.
O ‘revenge dress’ não foi o primeiro look disruptivo usado por Diana, no entanto, o momento em que ele foi usado foi definitivo para consolidar uma imagem que ela já vinha construindo: a de uma mulher forte, decidida, independentemente de sua relação com o Charles e com a família real. Então, eu diria que mais do que o estilo dela ter mudado, o que mudou foi a percepção da mídia e do público com relação à sua imagem. Isso nos diz sobre o poder que uma peça de vestuário pode ter. Claro que o estilo da Diana passou por mudanças após esse período, mas essas mudanças se devem mais a essa ruptura com a imagem de "boa moça" e também, claro, com a época – destacou Carol Garcia.
Para Renato Drummond, Diana usava a moda para se expressar, era amiga dos melhores estilistas, e passava uma mensagem através dos seus looks, por isso, a forma como a princesa do povo se vestia acabou influenciando outros membros da família real, a exemplo de suas noras atualmente. No entanto, o historiador diz que Lady Di não queria ser lembrada como uma princesa dos contos de fadas, mas como uma mulher que estava acima de preconceitos étnicos, de gênero e de classe.
"Isso pode ser comprovado pela imensa facilidade com que ela tinha em se relacionar com povos de diferentes extratos sociais e culturais. Ela abraçava campanhas bastante estigmatizadas nas décadas de 1980 e 1990, como a luta contra a aids, a fome na África, moradores em situação de rua, as minas terrestres em Angola, hospitais para tratamento de crianças com câncer, abrigos para idosos, entre outros. Creio que esse seja o maior legado da princesa do povo para o mundo. De que podemos usar os nossos privilégios em prol daqueles que não os possuem", destacou Renato Drummond.