Em junho de 2021, no Mês do Orgulho LGBTQIA+, a Amazon Prime Video lançou uma série brasileira chamada “Manhãs de Setembro”, estrelada pela cantora Liniker.
Ela é uma mulher transexual que participa de um grupo chamado “Liniker e os Caramelows” e, agora, interpreta Cassandra na série.
Cassandra, assim como a atriz, é uma mulher trans que está conseguindo subir na vida e conquistar sua independência, algo que sempre quis durante todo esse tempo. Trabalhando como motogirl e cantando na boate "Metamorphoses" ela finalmente conseguiu o próprio lugar para morar, finalmente apenas dela. Antes, dormia no sofá da casa de Roberta (Clodd Dias), amiga dela e também, chefe. Estava tudo bem até uma mulher aparecer na porta dela e apresentando um menino como seu filho. Leide (Karine Teles) e Gersinho (Gustavo Coelho) aparecem de repente e, claro, Cassandra fica apavorada, não quer eles na vida dela. É compreensível, até porque ela acabou de conquistar sua independência, está feliz com tudo o que conquistou e aparece esse “problema” no caminho, mas, como disse Ivaldo (Thomas Aquino), “filho é pra sempre”.
Confira o trailer:
Ela tenta evitar ao máximo a proximidade com ele, mas ao ver a situação que eles estavam vivendo, tem empatia, não poderia deixá-los daquele jeito. O que eu mais achei interessante na série é a forma como aos poucos a Cassandra vai sentindo aquele sentimento que ela não sabe muito bem qual é, mas é a maternidade falando mais alto. Ela teve uma relação um pouco complicada com a mãe, que vai passando aos poucos durante a produção, mas mãe que é mãe… E ela começa a entender isso com o tempo. Eu achei os personagens muito bem trabalhados, principalmente a Leide. É uma personagem um tanto quanto complicada, mas devido a tudo que passou com Gersinho, é algo considerável. É claro que ela teve chance de evitar muita coisa, acabou fazendo escolhas erradas, mas errar é humano, sabe? Para quem já viu a série sabe do que eu estou falando e gostei de humanizarem mais a personagem, ao invés de deixá-la como uma “vilã”. Nós conseguimos perceber o quanto a relação de Leide e Gersinho é forte, uma sintonia linda de mãe e filho e foi lindo demais ver a Cassandra estabelecendo essa mesma sintonia com o filho!
Infelizmente, Leide teve falas transfóbicas, assim como a maioria das pessoas com quem a Cassandra encontrava na rua, mas isso mostra a realidade de uma pessoa transexual. Algo interessante na série é que não foca só na história dela, de como foi sua transição e os preconceitos, mas também trata da história de outras pessoas que estão na vida dela e a forma como ela se descobre mãe. Aliás, algo que me incomodou um pouco foi ver Gersinho e Leide a chamando de “pai”, gostaria de vê-lo chamando de mãe, senti falta disso. Caso tenha uma segunda temporada, isso poderia ser mais trabalhado. O relacionamento de Cassandra e Ivaldo também é algo voltado para a realidade das mulheres trans, com aquela dificuldade do homem hétero de assumi-las, mesmo gostando delas. A amizade entre Cassandra, Roberta e Pedrita (Linn da Quebrada) é bastante singela, por ser amizade entre pessoas que se entendem e entendem o que a outra passa, porque passam pelas mesmas coisas na pele.
Além de toda essa representatividade, a importância de produções brasileiras é enorme, a Prime Vídeo tem valorizado bastante isso, séries como “Pink: um amor de verão”, “DOM”, “5x Comédia”, “Seus olhos” foram produzidas pela Amazon. Esse é mais um motivo para “Manhãs de Setembro” continuar, além de ser a primeira série brasileira que tem como protagonista uma mulher trans. Liniker simplesmente arrasou no papel, cantando Vanusa, mostrando o sentimento por seu filho mesmo que de uma forma mais tímida, demonstrando toda a sua dor com situações que ocorreram durante a série e que acontecem todos os dias na vida real com mulheres como ela. É uma série leve, mas que sabe tratar de assuntos importantes de uma forma consciente, na minha opinião. Recomendo demais!