O normal não existe mais

Foto: Ana Beatriz Rodrigues

Quando nascemos, não possuíamos muitas escolhas e a nossa visão de mundo era bem limitada. Vestíamos as roupas que escolhiam para a gente, era bem difícil se comunicar e às vezes os choros não eram tão simples de traduzir. Adquirimos um pouco mais de idade e mudanças ocorrem. Já crescemos o suficiente para brincar de pega-pega e nossa boca já solta algumas frases. Temos brinquedos e desenhos favoritos e podemos não gostar tanto de saladas. 
 

Já na adolescência, nossas transformações são mais bruscas e as opiniões apresentam força. Porém, o maior baque pode ser na transição para a vida adulta. As responsabilidades começam a aparecer de uma hora para outra e agora é preciso entrar sozinho na consulta médica. As contas chegam e as obrigações assustam nesse momento. Mais alguns anos passam e a velhice chega. Os momentos vividos são memórias agora, passaram-se tantas mudanças para chegar até o fim.
 

Contudo, as transformações não ocorrem sempre de forma alternada e algumas ocasiões carecem de renovação em certos aspectos em nossas vidas. O luto pode ser um grande exemplo disso. A perda de um ente querido necessita que haja adaptações. A psicóloga Andréa Botelho, em entrevista ao Diário de Pernambuco, disse que:

Muitos familiares se descrevem como se estivessem morrendo junto com aquela pessoa que partiu, como se a vida não tivesse mais o mesmo colorido de outrora ou até mesmo como se o sentido de continuar vivo tivesse perdido também junto com quem se foi.

Mudanças de escola, cidade e alguns eventos fazem com que existam mudanças. Isso pode ser a cor do cabelo, a banda favorita, nova casa ou novos costumes. Nada será como ocorria antigamente, há a necessidade de adaptação para o novo normal, essa expressão que está sendo bastante utilizada para a vida após a pandemia de Covid-19. Nesses quase dois anos de muito caos, foi preciso correr para mudanças. O uso da máscara e o distanciamento social não pertenciam ao nosso cotidiano antigamente. Porém, o que aflige ainda mais é o que acontecerá depois.
 

A única coisa que encontra entendimento é que não seremos mais as mesmas pessoas de 2019. Isso é tanto pelo resultado da pandemia quanto do tempo. Não seríamos os mesmos se os anos só tivessem passado e nenhuma doença tivesse atingido o mundo inteiro. O normal não existirá novamente. As músicas favoritas mudaram, os pratos mais gostosos podem ter perdido o tempero especial e o nosso interior sofreu mudanças.    
 

Mudanças são comuns na vida. Por mais que doa, a infância nunca voltará e nem seremos adolescentes rebeldes novamente.  E como dizem os jovens: "É sobre isso e está tudo bem".