Qualquer relação - seja ela amorosa, familiar ou de amizade - tem aquele começo onde tudo são flores: vocês se divertem, conversam constantemente e você só é capaz de pensar em como aquela pessoa é perfeita, certo?
Você a ama tanto e agradece diariamente por ela estar na sua vida, mas eis que as coisas começam a mudar: o que antes eram desabafos eventuais começam a se tornar rotina (pois ninguém vive um eterno mar de rosas).
No começo tudo são flores, mas depois...
Porém, aqueles desabafos agora estão todo o dia sendo enviados a você e como uma flor que é esmagada, aquilo que era leve e belo se torna pesado, agoniante, uma pressão sem fim, você simplesmente não consegue respirar!
E então percebe: aquela pessoa desenvolveu uma dependência emocional direcionada a você… Entretanto estou me adiantando: Prazer, me chamo Katherina e já relatei algumas experiências por aqui, como esta história e também esta matéria, se quiser ler, fique a vontade.
Agora, podemos retomar a história: tudo começou nas primeiras semanas na graduação: estava apavorada pois era tudo novo (cidade, casa, pessoas). Mas então conheci uma garota de sorriso carismático e conforme conversamos descobrimos mais coisas em comum.
Acabou que nos tornamos amigas, fiquei feliz pois era bom ter alguém com quem contar em um momento em que me sentia tão sozinha sem minha família por perto.
“Só sinto felicidade quando estou com você!”
Porém a pandemia começou e o que era para ser 15 dias se tornou 1 ano e contando até então. Ainda conversamos diariamente - até mesmo porque tínhamos projetos para executar como colegas de classe - e claro que contávamos impasses uma para a outra (viver em uma pandemia mundial mexe com a cabeça de qualquer um).
Todavia, o que antes eram desabafos eventuais se tornaram diários e depois de diários se tornaram desconfortáveis: ela me enviava mensagens em desespero desde o momento em que acordava até as 5 da manhã, mas sempre pensei que estaria sendo egoísta se não a ajudasse.
Então conversamos, assistimos filmes - remotamente - e ela parecia bem ao fim de tudo: feliz! Entretanto, este sentimento não permanecia nela por mais de meia hora.
Logo lá estava ela me enviando mil mensagens e quando eu dizia que estava ocupada no momento ela fazia eu me sentir culpada:
E cinco minutos depois lá estava ela: “Ai meu Deus, perdão Kah! eu não queria dizer aquilo, posso te ligar agora? Por favor, eu só me sinto feliz quando estou com você, não me deixe, eu imploro!”
Quando tudo muda
Não sei explicar como eu me sentia com toda esta situação: eu queria tanto ajudar ela, mas não podia negar que aquilo tinha se tornado sufocante , não importava o quanto eu a ajudasse, sempre parecia não ser o bastante.
Mas eu seguia auxiliando, por mais que aquilo que começou como uma amizade hoje parecesse um peso, nem conseguia me recordar de uma época onde as coisas eram diferentes, agora eu me sentia responsável pela saúde mental e emocional dela, e era muito para suportar.
Até que em um dia factual de isolamento social tudo mudou: passei o dia todo com problemas na internet e não conseguia receber nenhuma mensagem, parte de mim estava aliviada por ter um pouco de paz (e culpada pela mesma razão).
Eis que eram duas da manhã e um número desconhecido me liga: era a mãe da minha amiga, ela estava aos prantos, desesperada e em meio aos soluços e lágrimas consegui compreender o que ela dizia, mas eu não conseguia acreditar.
E ela continuou: disse que não era minha culpa, que sua filha havia parado a terapia com a psicologa na pandemia e estava em negação com seus problemas desde então, e ao me conhecer achou que não precisava de terapia, apenas de mim:
“sim é errado”- disse sua mãe - mas acho que pelo bem de ambas é melhor não se falarem por um tempo”, e finalizou a chamada.
Então lá estava eu: sentada em minha cama e em estado de choque, chorando de tamanha preocupação e culpa - mesmo sabendo que não era culpada de nada - E então percebi que precisava seguir o conselho de sua mãe e me afastar por um tempo, sim, seria difícil mas era necessário para a saúde de ambas.
O fim de uma relação: triste, mas necessário
Ela sobreviveu - por pouco, mas ainda assim - voltou para casa em três dias, preferi aguardar uns dois dias para entrar em contato e assim fiz: estava com medo, havia ensaiado o que ia dizer umas mil vezes e ainda assim parecia que eu ia dizer tudo de errado do universo.
Mas por incrível que pareça ela compreendeu tudo antes mesmo que eu falasse qualquer coisa:
Disse que a perdoava e que sentia muito por não ter dado um basta ou algo do tipo, e concordamos que por hora era melhor não conversarmos mais.
O tempo passa…
E com ele as coisas também: hoje ela está bem melhor, fazendo terapia e tomando seus medicamentos, claro que conversamos eventualmente e hoje estamos aos poucos criando uma relação saudável para ambas.
Se teve algo que eu aprendi com toda esta relação foi: não podemos consertar as pessoas, e nem elas a nós, cada um é responsável por sua saúde mental e suas escolhas. Se você sente que está em um dos lados dessa história, procure ajuda profissional.