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04/10/2021 às 10h53min - Atualizada em 01/10/2021 às 00h18min

A felicidade é uma responsabilidade individual

Cada ser humano possui sentimentos e vivências diferentes, o que torna um diferente do outro

Wagner Edwards - Editado por Andrieli Torres
Reprodução:Unsplash por Stan B
Já parou pra pensar que é muito difícil desconsiderar aquilo que você conheceu a vida toda? Conviveu dessa forma por tanto tempo que negar a sua realidade parece um pecado. Deve ser por isso que observar uma pessoa ou situação de forma diferente da qual sempre fizemos parece ser impensável, mas só até alguém colocar a mão no nosso ombro e pedir que olhemos mais atentamente.
 
Darei um exemplo: quantas vezes você só sentiu a dor de um arranhão após alguém perguntar o que aconteceu com seu dedo? Aposto que algumas. É que as feridas só incomodam quando sabemos que existem. Quase da mesma maneira funciona a felicidade: só reconhecemos a sua falta quando olhamos nos outros o sentimento tão puro de que parecemos carecer.

 
A relação entre felicidade e realidade é construída por meio da vivência e repertório cultural do ser humano –– o que significa dizer que é possível associar a existência desse sentimento tão puro a vivências e comportamentos disfuncionais porque foi tudo o que conhecemos. Quando um pai agride uma mãe constantemente por ser “o melhor para ela e sinônimo de amor e preocupação”, a filha pode crescer assimilando tais atitudes como um mal necessário e terminar por se envolver futuramente com um homem também agressivo. Como dizer a essa menina que um comportamento dessa magnitude é disruptivo se isso é tudo o que ela já conheceu?
 
Se você cresce chamando de azul aquilo que todos os outros chamam de verde, por que negaria o que lhe foi ensinado se jamais havia sido um problema?
 
Pedir que reconsidere o nome correto da cor é o mesmo que nos avisar que há um corte num dos nossos dedos e perguntar qual teria sido a causa: é comunicar a existência de um problema que sequer sabíamos que estava ali.
 
Meu amigo cresceu ouvindo dos pais que deveria ser médico e tudo na sua vida girava em torno disso: os presentes de aniversário eram jalecos e livros de anatomia; os primos terminavam as residências e cada um escolhia uma especialização diferente; os jantares à mesa narravam sobre as cirurgias performados pelos pais e amigos de seus pais. Sempre se focou tanto no que queriam para ele que esqueceu de se perguntar se havia mesmo alguma parte de si que se identificava com essa vida.
 
Até finalmente chegar na faculdade e descobrir que não era aquilo o que queria. Mas por que esperou tanto? Chorava até tarde em cima dos livros grossos, não absorvia o conteúdo tão facilmente, odiava sair da cama e encarar todos os dias as mesmas pessoas e as mesmas rotinas. Pensou ser normal odiar tudo o tempo todo até descobrir que, na mesma universidade na qual estudava, haviam pessoas verdadeiramente felizes com o curso escolhido: gente cujos olhos brilhavam ao falar sobre a faculdade, gente que levantava feliz às 4h da manhã para cruzar a cidade de ônibus e chegar ao campus vinte minutos antes das aulas começarem às 7h.
 
É tão difícil negar a nossa realidade quando é tudo o que já conhecemos, ainda mais ao notarmos que os objetivos e situações existentes eram considerados o atestado de felicidade até compararmos com a vida dos outros. Não é que a chave para a felicidade seja cobiçar do outro o que não possuímos, mas sim usar a comparação como método de contestar se nossa realidade é tão saudável e boa como sempre pensamos –– se esse é mesmo motivo de ser feliz.
 
É nossa responsabilidade assumir a nossa felicidade, e para isso, às vezes precisamos mergulhar dentro da parte mais profunda da alma e tentar entender quem somos e o que nos deixa bem –– fazer isso pode ser tão difícil quanto àquela contestação dita anteriormente, porque requer coragem para enfrentar os próprios medos. Cada ser humano tem sentimentos, vivências e responsabilidades diferentes, então o que agrada em um, jamais será o mesmo que agrada o outro.
 
Leva tanto tempo até despertamos e percebemos que somos infelizes após viver num limbo durante anos. E mais tempo ainda para descobrirmos que, em verdade, não precisa ser assim. A vida é sua e só há uma, então escolha o melhor jeito de vivê-la.
 
Conteste sua realidade sempre que ela se mostrar dolorosa como um arranhão recém-descoberto. Mesmo que você a tenha vivido por dias e dias e ache que tudo está normal: pode acabar descobrindo que o seu normal talvez não seja tão bom assim, afinal de contas.

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