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22/02/2022 às 19h45min - Atualizada em 10/10/2021 às 13h46min

Corpos reais: a diversidade nas passarelas está crescendo

Nos últimos anos, várias questões estão sendo debatidas, e uma delas é a diversidade de biótipos nas passarelas.

Gabriella Lima - Editado por Dani Barros
Foto: Reprodução/Instagram @weareivypark
Dentre inúmeros questionamentos feitos nos últimos anos no mundo da moda e debates levantados nas mídias sociais, a diversidade de corpos no mundo fashion tem ganhado destaque. Além disso, sabemos que essa indústria tem uma participação relevante no mercado global, ditando tendências e influenciando padrões de beleza.

Por anos, só víamos modelos brancas, magras e altas dominando esse universo, passando de geração em geração. Hoje, a necessidade de abrir o leque da diversidade no mundo da moda é de extrema importância. Proporcionando grupos que não recebiam atenção, taxados como “fora do padrão” tendo cada vez mais, espaços e oportunidades.

Dessa forma, o padrão de modelos comumente conhecidos começa a se desfazer, se ausentando aos poucos das passarelas, campanhas de grandes marcas e editoriais de moda. Afinal, fechar os olhos diante da importância da diversidade, mostrar ser indiferente, ou não respeitar, é fugir do entendimento que existe lugar para todos na sociedade.
 
A chave do problema


O corpo da mulher branca magro é sempre a escolha "ideal" para estampar capas de revistas, campanhas publicitárias e dentre outros. Há muito tempo vemos esse tipo de padrão ideal de corpos, e dentro disso, vem os questionamentos, os porquês para tanta falha. A chave do problema não é de uma pessoa, ela é múltipla. A indústria como o todo tem culpa e somente ela deve mudar. 

Para a produtora de moda, Evellyn Ailyn, a falha para abrir espaço para a diversidade não está em um único ponto, é uma gama de erros dentro da indústria da moda.

"Eu acredito que o erro está em diversos lugares dentro da indústria, principalmente por quem está por trás de cada setor voltando para o ramo da moda, já que esse padrão de beleza magra e branca está tão impregnado nas pessoas dessa indústria, assim como na sociedade em si, que continuam a acreditar que o corpo magro e branco é o belo e é ele que está em maioria em diversas passarelas".


E quando falamos sobre os grandes desfiles, lançamentos suntuosos e campanhas na qual todo o mundo vai estar de olho, por meio da cobertura da mídia as questões sobre a estética é alimentada. Quando alguém acompanha um mercado que dita a todo tempo tendências e ver somente um mesmo estilo as pessoas levam como correto. Evellyn afirma que a mídia também pode ajudar alimentar essas questões estéticas implantadas na sociedade, mas que pode começar a mudar isso e buscar mudanças. Assim, a diversidade não será vista como algo “anormal”. 

"A passarela, o desfile, o lançamento de coleção são os momentos mais esperados pela marca/grife e a indústria do entretenimento. A grande mídia ajuda a amplificar, reafirmar e manter essa ideia do padrão de beleza. Então, quando uma marca resolve começar a mudar seu casting, repensar em corpos reais, diversidade, modelagens que caibam e valorize outros corpos etc. já é um início de uma mudança.”, explica a produtora.”




O mercado da moda como o todo é falho quando prioriza colocar em destaque os corpos padrões, os corpos instagramáveis. Isso só fomenta uma crescente do molde sobre o belo, alimentando um discurso de ódio pela sociedade. Há erros no mundo da moda por destacar esses corpos que dizem ser o "ideal", mas a sociedade tem seu ponto de culpa. As mídias sociais são um exemplo de espaço onde as pessoas acham que podem julgar, criticar, pois, por muito tempo essa cultura de corpo perfeito foi implantado.

Para Evellyn, a mudança não é tão simples e que as pessoas estão acostumadas com uma opinião sobre o que é belo dentro de um padrão espalhado em todos os lugares durante muito tempo.

"Com certeza vivemos em uma sociedade que tem impregnado esse padrão de feminilidade e masculinidade dos corpos ideias. Então toda mudança que quebra um fluxo, que vai contra a correnteza, que é uma mudança, que é algo novo, acaba gerando um impacto e que as vezes pode não ser positivo”, completa a produtora.


O peso do padrão de beleza

A pressão que o corpo feminino sofre não é de hoje, essa cultura foi implanta por décadas e, que infelizmente ainda é viva. E com essa pressão estética, os julgamentos, as críticas só crescem e, um dos fatores que ajudam esse cyberbullying são as mídias, ou melhor, pessoas má intencionadas que disseminam o ódio gratuito por meio dessas ferramentas.

A modelo fotográfica, Ana Flávia, contou como essa pressão de estar sempre dentro dos moldes da perfeição é algo que tem um impacto negativo. Ela fala sobre os seus momentos difíceis não só profissionalmente, mas no pessoal. As críticas, os julgamentos vem de lugares e de pessoas inimagináveis. 

"Corpo ideal? o que seria um corpo ideal? Teve um momento da minha vida em que vivia no meu “mundinho de Bob", na qual usar manequim 40 era ser “obesa” e, uma magreza excessiva e doentia, era o belo. Entre 2016 e 2018 eu vivi o auge dessa magreza. E em 2020 eu estava no meio do tratamento contra a depressão e comecei a entrar em surto real, pois, passei a usar manequim 40. E nesse mesmo período me achava uma garota super desconstruída, mas constatei que ninguém é 100% desconstruída", relata.


E, com essa constante pressão de ser esse protótipo criado e dito como certo para as mulheres, ela recebeu um convite que mudaria a Ana Flávia modelo, profissional, mas também a Ana Flávia na vida pessoal - uma mulher que viveu muita coisa e que, com essa oportunidade, viveria uma evolução significativa.

" Estamos constantemente em evolução, ou pelo menos deveria funcionar assim. Daí no meio desse embate recebi um convite para fazer um ensaio de uma loja de lingerie, justamente por tudo que estava passando e por ser desconstruída. Quando na verdade estava em surto total porque tinha saído do 38. E com esse ensaio acendeu aquela luz na minha cabeça. Então, decidi produzir conteúdo para as redes sociais dividindo as minhas vivências com todas essas mudanças", completa. 



Com essa imposição e críticas, ela entendeu que não há padrão, que tudo é resultado de uma sociedade que há anos ver e escuta que as mulheres devem ter a forma física perfeita, se manter dentro de um corpo irreal. E diante disso, Ana Flávia buscou referências em pessoas que fazem um trabalho de responsabilidade na internet. Entendendo que não existe padrão e que devemos respeitar o nosso corpo e ama-lo do jeitinho que é.

"E foi aí que conheci o trabalho incrível da Alexandra Borges (@alexandrismo) e de várias outras mulheres e páginas incríveis, como a Jéssica Lopes (@jessicalopes). E a partir desse momento começou o meu processo de amar meu corpo e de aprender que usar manequim 40 não é ser plus size, e muito menos me faz menos mulher, sexy, bela e gostosa.”, conta Ana.

Supermodelos são julgadas também

Recentemente, a ex-supermodelo dos anos 90, Linda Evangelista, fez um depoimento em suas redes sobre as consequências dessa pressão estética. Ela contou que submeteu a um tratamento estético, a criolipólise, procedimento que promete reduzir as gorduras, porém, causou o efeito contrário, deixando sequelas e, desenvolvendo nela, depressão.
 
Já a modelo brasileira e ex Angel da Victoria’s Secrets, Adriana Lima também afirmou que não estava bem com seus traços, sentindo que não estava em sua melhor forma física. A top model Gigi Hadid,  também sofreu críticas por aparecer - julgada por internautas - com o corpo diferente pouco tempo depois de dar luz a sua primogênita.

As mulheres são constantemente pressionadas a estarem em um corpo perfeitamente magro. Essa imposição e julgamento tem nome, e se chama: Body Shaming. Expressão em inglês que, traduzido, significada “vergonha do corpo”. Termo dado às práticas de ataques a uma pessoa por sua aparência física, deixando-a com vergonha. Isso pode levar a vítima a desenvolver problemas psicológicos e insatisfação com o próprio corpo.



Novos tempos

A indústria da moda já entendeu a necessidade de adicionar em seu catálogo mais diversidade. A importância de resgatar as belezas que são individuais e únicas, mostrando para uma sociedade que enxergue a verdadeira beleza. Os tempos em que víamos somente um tipo de manequim, aparentemente, estão com os dias contados.
Isso porque, a cada dia, é possível encontrar corpos diversos na passarela.
 
Fashion Week 2021, mostrou que as coisas estão mudando, evoluindo e que a cada dia vamos presenciar mais dessas mudanças. Marcas renomadas como: VersaceSavabe x FantyMoschinoChristian Sirino e Tommy Hilfiger, dentre outros, demostraram que entenderam que é necessário aceitar a diversidade e destacar várias belezas, mostrando o corpo real.

 

"É de extrema importância começar a criar referências de modelos gordas, e de diferentes corpos, não só aquele padrão ampulheta. Da mesma forma que diversas mulheres se espelhavam nos corpos das modelos mais magras e movem mares e rios para serem iguais a elas, as mulheres gordas que sempre se sentiram desconfortáveis e que sempre odiavam seus corpos por só ver corpos magros, vão se sentir representadas ao ver mulheres como ela na indústria", diz a produtora de moda, Evellyn. 


Isso diz muito da atual sociedade que questiona e cobra, ainda mais nos avanços dos meios de comunicação. Que impõem as mudanças, nas novas convicções, a fim de quebrar esse padrão que é inatingível. A indústria da moda vem se transformando e buscando melhorar e a ampliar seu leque. Mesmo que sejam mudanças lentas e cautelosas, não deixam de serem significativas e de grande relevância.

"O nosso corpo é um templo, que carrega nossas marcas e histórias. Devemos amá-lo. E não o marcar com mais dor além das que já lhe foram feitas", completa Ana Flávia.


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