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29/10/2021 às 00h28min - Atualizada em 29/10/2021 às 00h18min

Salve o povo da rua: a intolerância religiosa no conto Exu quer se mudar

“Exu é o começo, atravessa o avesso, o caminho de além do bem e do mal. Exu é quem cruza e descruza o amor; Bará não tem cor: estará onde quer que qualquer corpo for”

Letícia Franck - Editado por Andrieli Torres
Divulgação: Entrecontos
Pode confessar: você já ouviu a gargalhada de um Exu e ficou com medo, certo? Mas agora me diz: existe “religião errada” ou sua bolha de ignorância religiosa não te permite olhar além das histórias?

Estamos em outubro. Aqui no Brasil, Dia do Saci-Pererê, lá no dia 31. Para os americanos, Halloween: bruxas, monstros, criaturas horrendas, sustos. Estava lendo um conto, dia desses, e sabem qual foi o meu? Falarem que Exu era Diabo. Sim, ele mesmo: Lúcifer. Tinhoso. 666. O que você quiser.

Fiquei pensando no quanto essa visão errônea afetava as religiões de matrizes africanas e ao mesmo tempo contava uma estória assim mesmo: sem h, vocês sabem o porquê.

O fato é que fui em um terreiro conversar com os dirigentes, a fim de saber mais sobre o conto que li: “Exu quer se mudar”, de Andreas Chamorro. O conto, disponibilizado há pouco tempo em versão física, conta as peripécias deste orixá, conhecido por sua gargalhada alta. No texto, Exu “reclama” de estar posicionado do lado direito de quem entra no terreiro, já que no lado oposto existe uma grande árvore, o impedindo.

“Como me incomodava. Além de roubar-me quase todo o sol também entupia-me a boca com folhas secas. Ela é que não deveria estar aqui. Meu lugar é na porta, ela que tivesse se elevado aos céus noutro canto”.

Vamos aos relatos:

“- Mas afinal, o que Exu representa?”
“- Representa a comunicação. É um orixá guardião. Não conseguimos entender como em pleno Século 21 as pessoas ainda guardam tanta ignorância com a Umbanda. É uma religião muito cultuada e onde inúmeros negros sentem-se contemplados e representados. Assim como as outras entidades, Exu é mensageiro. Ele sempre tem algo a dizer”.

“- E por que fazer o “assentamento de Exu” do lado esquerdo da porta de entrada de um terreiro?”
“- Muitas pessoas chegam em um terreiro de Umbanda e se se assustam com as firmezas existentes na porta. Aquelas casinhas, muitas vezes confundidas pelas crianças como sendo de cães, têm como finalidade o assentamento das forças de Exu. Ali está firmado o poder destes guardiões. Estar localizado à esquerda é puramente porque eles militam neste sentido dimensional".

Casinha de cães. Esses “erês” são mesmo muito engraçados. Já estou fazendo referência à religião. Gostaria que esses costumes ou vícios de linguagem fosse menos simples de serem passados do que o respeito e entendimento à Umbanda.

Por enquanto, me despeço com um até breve. Ou, melhor, deixo um “salve!” a você que leu até aqui e que tem abertura -estou parafraseando de novo- para trilhar suas escolhas e decidir ser melhor -ou tentar- tirar da cabeça que existem religiões diversas e que é por isso que somos um país rico em cultura, mas pobre em seres humanos.

“Para todo trabalho, é o laço e o atalho; é o braço e a mão, do falho e do justo. Exu é o custo do movimento; o tormento do ser que não é Exu”.

Laroyê!

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