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08/11/2021 às 11h45min - Atualizada em 29/10/2021 às 13h17min

O reflexo da pobreza no país: 19 milhões de brasileiros estão passando fome

Mais da metade da população vive em condições de insegurança alimentar, e pelo menos 27 milhões vivem abaixo da linha da pobreza

Leonardo Pereira - Editado por Maria Paula Ramos
https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2021/10/inflacao-por-faixa-de-renda-setembro2021/
Revista Piauí/ Lianne Ceará
Antes que a fome levasse dezenas de pessoas a enfrentarem filas quilométricas em busca de ossos doados num frigorífico em Cuiabá, ou lutarem na caçamba de um caminhão por restos de carne e pelancas, no Rio de Janeiro, o reflexo da extrema pobreza estava escancarado apenas às margens da sociedade. Em Fortaleza, o grito da miséria urgiu em um vídeo que mostra pessoas catando restos de comida no caminhão de lixo.
Segundo o estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mais de 27 milhões brasileiros vivem abaixo da linha pobreza. O número de pobres foi de 9,5 milhões em 2020, para 27 milhões em 2021.

A grave crise econômica causada pela pandemia, a inflação na casa dos dois dígitos, instabilidade política, alta taxa de desemprego e redução considerável na renda dos brasileiros, assim como a ausência de políticas de combate à fome corroboraram consideravelmente para o aumento da pobreza no país

 






















FOME
A pobreza voltava a crescer desde meados de 2016, e com a pandemia o quadro que já era crítico, agravou-se. Um levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisas em Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) revela que 9% dos brasileiros passam fome, o equivalente a mais de 19,1 milhões vivendo no nível de “insegurança alimentar grave”. Esses números representam 55% dos domicílios brasileiros em condições de insegurança alimentar (IA). O inquérito ainda mostra que 116,8 milhões convivem com algum grau de IA (leve, moderada ou grave)

A fotografia cruel da fome, infelizmente, afeta ainda mais as crianças. O conselheiro tutelar Jota Marques de Jacarepaguá, zona oeste do Rio, compartilhou no twitter um acontecimento que de longe poderia parecer apenas o mal comportamento de uma criança na escola. A criança agrediu uma colega, destratou a equipe pedagógica, e ainda em choque chorou. A dor da garota de 7 anos era fome.

DESEMPREGO

A alta taxa de desemprego no Brasil também tem parcela significativa no aumento da pobreza. Afinal, são 13,7 milhões de desempregados tendo que sobreviver com a inflação elevada e, sem emprego e renda. Ademais, milhares de empresas fecharam as portas, e por consequência vieram as demissões em massa na pandemia. Aquelas que permaneceram funcionando tiveram quedas na arrecadação, redução de investimentos e agora necessitam de ajuda para continuarem ativas. Synthia Santana, Doutora em Economia (FGV/SP) e Pesquisadora do GeFam (Grupo de estudos em economia da família e do gênero) pontua que se faz necessário a estabilidade econômica e política, para que haja investimentos e investir no Brasil seja atrativo para os investidores.
 

 “É preciso atrair investimentos para o país, e a gente só consegue atrair investimentos numa economia saudável, onde as instituições estejam funcionando e a democracia seja forte, enquanto tivermos num clima institucional muito instável, não se vislumbra melhorias significativas no mercado de trabalho.”
 
 
INFLAÇÃO
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o indicador IPEA de inflação por faixa de renda, mostra que os mais pobres sentiram um impacto considerável da alta inflação. A forte pressão inflacionária, em setembro, veio ancorada principalmente pela elevação na energia elétrica (3,9%), e alta dos combustíveis (2,0%). Essa alta nos alimentos, combustíveis e energia, fez os mais pobres sentirem a inflação 20% maior que os mais ricos, em setembro. No acumulado de um ano, a pressão inflacionária continua maior nas classes de renda mais baixa, com taxa de 11%. 

AUXÍLIO

O auxílio emergencial, em 2021, foi pago a mais de 39 milhões de famílias, entre inscritos no programa Bolsa Família e beneficiários de fora do programa. O auxílio foi fundamental para frear a pobreza no país em 23%, aponta a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Apesar disso, o fim do Bolsa família e a criação do “Auxílio Brasil” tem gerado incertezas nos beneficiários de como funcionará a nova política social.

Para Santana o foco do novo programa precisa ser claro para não gerar ainda mais incertezas nos beneficiários, e apontar quem realmente necessita receber o auxílio, evitando assim que quem está em vulnerabilidade social fique na espera, como aconteceu no início do auxílio emergencial com a fila gigantesca da “análise”.
Synthia ainda afirma que programas de transferência de renda precisam direcionar os beneficiários a um caminho de saída da pobreza e alcançar a mobilidade social.

 

“Os programas assistenciais são feitos para o hoje, essas políticas sozinhas não são capazes de erradicar a pobreza, todo o aparato do Estado precisa funcionar. Esses programas pretendem quebrar o ciclo da pobreza, e possibilitar que essas pessoas tenham o mínimo de dignidade. Os principais caminhos que os possibilitam: a educação formal, garantia de creche para que os pais possam trabalhar, e também qualificação profissional para que esses adultos possam exercer atividades profissionais e garantir segurança para essa família.”


 

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