Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
05/11/2021 às 09h08min - Atualizada em 05/11/2021 às 09h04min

Instituição brasileira desenvolve vacina em spray nasal contra a covid-19

Caso aprovada pela Anvisa, testes em humanos terão início em janeiro; Imunizante pretende ser uma boa opção para a dose de reforço

Isabella Baliana - Editado por Manoel Paulo

No final do mês de outubro, o Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas de São Paulo revelou que planeja dar início à nova fase do estudo clínico da sua vacina em spray nasal contra a covid-19. Após resultados iniciais promissores, a instituição enviou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o pedido de autorização para os testes em humanos já imunizados. Assim, se aprovadas, as duas primeiras fases do estudo terão início em janeiro de 2022, podendo figurar como uma boa alternativa para a dose de reforço. 

 

De acordo com o diretor do Laboratório de Imunologia do Incor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e coordenador da pesquisa, Jorge Kalil Filho, caso o estudo se mostre eficaz ao final das fases clínicas, a expectativa é a de que a vacina administrada em spray seja um “sucesso”, pois, diferente das injetáveis, ela atua diretamente no sistema respiratório, combatendo a infecção e atacando a transmissão do vírus.

 

"O grande problema das vacinas atuais é que impedem a doença grave, mas o paciente ainda pode ser infectado e transmitir. Queremos evitar a infecção do nariz, 'pegamos o comecinho'", explica. Ainda segundo o coordenador, nas fases pré-clínicas realizadas com animais, o imunizante se mostrou muito eficiente e apresentou um grande índice de produção de anticorpos contra o coronavírus.

 

Para impedir a infecção foram desenvolvidas nanopartículas que envolvem um antígeno onde está a resposta imune. “Estas partículas têm a capacidade de passar pelos cílios do nariz, que estão frequentemente vibrando, e pelo o muco, até chegar na mucosa e desencadear uma resposta forte”, afirma. Além disso, outro ponto positivo é que a vacina se mostrou extremamente adaptável às diferentes variantes, podendo ser guardada até mesmo em temperatura ambiente. 

 

As primeiras fases de estudo clínico terão 280 participantes, todos já imunizados com a vacina da AstraZeneca. Os candidatos irão compor sete grupos para análise: um deles recebe o placebo e outros recebem diferentes doses do imunizante, 30, 60 ou 120 microgramas. Assim, o objetivo da pesquisa é avaliar a imunogenicidade, a segurança, o melhor esquema de vacinação e o escalonamento das doses. Com duração de três meses, as fases 1 e 2 devem ser encerradas no primeiro semestre do próximo ano.

 

O imunizante foi desenvolvido pelo Laboratório de Imunologia do Incor, tendo como parceiros a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Além da tecnologia 100% brasileira, a vacina em spray conta com uma equipe de cerca de 30 pesquisadores, que há quase dois anos trabalham diariamente para seu aprimoramento. 

 

Conforme pontua Kalil, além do estímulo da inovação que motivou a todos, a equipe também também pôde continuar a pesquisa devido ao apoio financeiro do governo, o que possibilitou mais contratações: “Nós tivemos um apoio de imediato do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, que fez uma encomenda tecnológica, e nós conseguimos chamar mais gente para trabalhar conosco”, relata. 

 

Segundo o pesquisador, se tudo der certo e os prazos forem cumpridos, a vacina intranasal para combater o coronavírus deve estar disponível para uso em humanos no final do ano que vem, em dezembro de 2022. Para o coordenador da pesquisa, o objetivo é não só abastecer o Sistema Único de Saúde com o imunizante para a população brasileira, como também levar a tecnologia a outras nações:

 

“Como a gente vai ter que usar estas vacinas (contra a covid-19) por muitos e muitos anos, o que a gente quer é que esta vacina não só dê o reforço necessário para que a gente não precise importar doses, mas que a gente possa inclusive exportar para o mundo todo”, completa. 

 

Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »